Uma policial mineira em Deerfield Beach

Por Marisa Arruda Barbosa

mirelle dias

A mineira, Mirelle Dias, de 32 anos, assumiu o posto de policial do Broward Sheriff’s Office (BSO), em novembro do ano passado, e atua na região de Deerfield Beach. Para ela, a maior satisfação é quando pode ajudar seus compatriotas. Sempre que um policial americano está com dificuldade de se comunicar com brasileiros, chama Mirelle para traduzir. A mineira, natural de Divinópolis, é imigrante como muitos que encontra em Deerfield Beach, e diz entender pelo que cada um passa. Mirelle imigrou para os Estados Unidos em 1993, quando tinha 14 anos, com seu irmão e sua mãe. Ela viveu em Connecticut por muitos anos, até resolver tentar ser policial e mudar de estado. Para Mirelle, o sonho americano de sua mãe se realizou. “Sempre que vou para o Brasil, mesmo sendo nosso país, muitos passam dificuldades. Lá não somos ricos e aqui tive oportunidades que não teria. Tenho primas que se casam só para sair de casa, dependem de marido, não têm acesso à educação. Aqui temos mais independência”.

Gazeta Brazilian News - Quando você decidiu que queria ser policial? Como foi a decisão de ir para Deerfield Beach? Mirelle Dias - Decidi primeiro que queria ser policial em Connecticut, pois tinha uma amiga começando o longo processo, que inclui teste psicológico, teste com detector de mentira, investigação de antecedentes criminais, teste físico e médico. Não passei no físico, pois fumava. Daí resolvi ir para Nova York e a academia foi cancelada no meio do meu curso, por causa da crise econômica. Então tentei entrar em vários lugares. Em Connecticut, quando te contratam, eles pagam pelo curso. Na Flórida, te dão a oportunidade de você pagar por seu próprio curso e assumir o risco de talvez não passar e arcar com o prejuízo. Eu resolvi eu mesma pagar pela academia e me graduei em abril do ano passado. O curso dura sete meses. Primeiro me mudei para cá com meu noivo, em dezembro de 2009, e fiquei procurando emprego, para o departamento pagar o meu curso, mas por causa da economia, as coisas mudaram e resolvi pagar por meu curso e arcar com os gastos. É engraçado como as coisas são do jeito que têm que ser: vim parar em Deerfield Beach, em uma área que eu nem sabia que havia tantos brasileiros assim. Estrei como policial em novembro e passei três meses em treinamento. Nós aprendemos na academia, mas é na rua, na prática, que você se depara com as situações.

GBN - Como você encontrou a situação dos brasileiros em Deerfield? Muitos têm medo da polícia, achando que é imigração? MD -Muitos brasileiros têm medo da polícia sim, com medo da imigração. Por isso, ninguém denuncia crimes por medo de deportação. Vejo que o problema aqui é que muitos indocumentados não tem carteira de motorista. Mas, por lei, temos que prender uma pessoa que é pega dirigindo sem carteira. O dever da polícia é aplicar as lei a todos os residentes. Infelizmente, essa é a lei. Eu acho que todos deveriam ter o direito de dirigir, mas não é assim. Se as pessoas podem comprar carro, fazer registro do carro e seguro sem ter documentos, porque não podem dirigir? Na maioria das vezes, a pessoa pega dirigindo sem carteira pela primeira vez não é presa. Seu carro é rebocado, a pessoa leva uma multa e precisa comparecer à corte. Nós temos poder e apoio da lei para prender, mas na minha experiência de seis meses, 98% das pessoas pegas sem carteira não são presas, só são multadas. Já pessoas pegas dirigindo com carteira suspensa mais de duas vezes ou embriagadas são presas. Porém, a imigração não tem nada a ver com a polícia. Quando a pessoa é presa, seu nome entra em um sistema já conectado com a imigração. Se a infração for pequena, a imigração não faz nada, mas se for um crime grave, já dá uma bandeira vermelha na imigração, que logo começa a agir para que a pessoa seja deportada. Em seis meses, já vi crimes feios envolvendo imigrantes indocumentados, e não vi agentes da imigração envolvidos. A relação é da cadeia com a imigração, e não do policial com a imigração.

GBN- Como você pretende ajudar a comunidade brasileira? MD - Tento me envolver em qualquer tipo de programa para mostrar a brasileiros que não temos a ver com a imigração (como o Citizen Academy for Brazilians). Pessoas não tem conciência sobre o que fazemos. Quero que me vejam pela comunidade, nos restaurantes brasileiros, padarias, lanchonetes. Quero que vejam que eu sou eu, e que já passei também pelo processo de imigração. Claro que em 1993 era mais fácil, mas quando resolvi me tornar policial precisei passar pela cidadania. Agora sou cidadã americana, mas meu sangue é brasileiro.