Uma rosa será sempre uma rosa

Por Roberta Dalbuquerque

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Fui estagiária em uma empresa familiar no fim do meu período de faculdade. Nos dois anos que passei ali, observei pai e filhos trabalharem com a seriedade de quem (nem de longe) corria o risco de cair nos erros frequentes que atrapalham companhias com essa estrutura. Cada um tinha sua função preestabelecida, os departamentos operavam com independência, as reuniões conservavam o ar profissional que o ambiente inspirava, ainda que pai e filho discordassem com fervor, ainda que irmãos estivessem em lados opostos de uma discursão. O protocolo todo só desmontava quando pela manhã, o pai (diretor da agência) entrava no departamento de criação e dizia – todos os dias, como se aquela fosse a primeira vez: “uma rosa será sempre uma rosa”. A filha que assim se chamava, se derretia em bom dias e a vida seguia com os anúncios, os roteiros, os cartazes, os projetos. Da minha mesa de estagiária, confesso que esperava pelo ritual comovida com o que estava posto na cena. Para além das formalidades, dos orçamentos, dos clientes, eram pai e filha, se admiravam, gostavam de estar perto um do outro. Naquela altura, eu ainda não tinha minhas meninas, nem sequer tinha planos de ser mãe, mas me imaginava do outro lado dessa ligação que não muda, que tem segurança de que alguém “será sempre”. Hoje, anos depois, fiquei tocada ao ouvir a voz do meu ex-chefe em um vídeo no facebook. Lembrei dessa história, lembrei do meu desejo da certeza e da permanência. Achei graça. A única certeza que o tempo me trouxe foi a de que ninguém será sempre o mesmo. Nem os pais, nem os filhos. O subtexto da cena que me marcou era o acordo interno dos dois, esse tipo de acordo que vai mudando com o tempo, mesmo que às vezes a mudança seja silenciosa. A rosa não era a filha, eram os dois, o que eles construíam juntos. E rosas mudam, crescem, murcham, renascem e ainda assim serão sempre rosas.