Universidade gratuita dos EUA revoluciona por não ter professores

Por Gazeta News

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[caption id="attachment_130676" align="alignleft" width="300"] O processo de seleção da universidade 42 ignora qualificações acadêmicas anteriores. No campus de Paris, 40% dos estudantes não completaram o equivalente ao segundo grau. Foto: BBC[/caption]

Inaugurada recentemente no Vale do Silício, na Califórnia, uma universidade revolucionária, gratuita e sem professores. Nela, não há livros e nada é pago.

Intitulada Universidade 42, a ideia é receber por ano mil estudantes interessados em programação de computadores e desenvolvimento de software. Durante o curso, os alunos trabalham sempre em grupo e avaliam os trabalhos uns dos outros.

O primeiro campus da 42 foi criado em Paris, em 2013, por Xavier Niel, um empresário e milionário do setor de tecnologia.

Muitos do que se formaram lá trabalham hoje em grandes empresas como IBM, Amazon e Tesla. Alguns criaram suas próprias companhias.

O nome da nova universidade, 42, é uma referência à resposta sobre qual seria o sentido da vida segundo o clássico de ficção científica "O Guia do Mochileiro das Galáxias" ("The Hitchhiker's Guide to the Galaxy", no original em inglês) de Douglas Adams –criado nos anos 1970.

Niel e seus sócios são vindos de start-ups do setor de tecnologia e pretendem revolucionar a educação como o Facebook fez com a comunicação na internet e o Airbnb com a hotelaria convencional.

A universidade 42 combina uma forma radical de ensino colaborativo e aprendizagem por projetos, no qual os alunos podem escolher projetos, como criar um website ou um jogo de computador, que seriam executados se eles estivessem trabalhando em uma empresa como desenvolvedores de software.

Para criação dos programas, os alunos usam as fontes gratuitas disponíveis na internet e recebem ajuda dos colegas. Todos trabalham lado a lado, em uma ampla sala, com várias fileiras de computadores e a avaliação é feita por um outro colega, escolhido aleatoriamente.

Como nos jogos de computador, os estudantes vão avançando no curso em níveis ou fases e competem com um mesmo projeto. Eles se formam ao atingir o nível 21 e isso geralmente leva de três a cinco anos. Ao concluir o curso, recebem um certificado, nada de diploma tradicional.

Os criadores da 42 afirmam que esse método de aprendizagem é melhor que o sistema tradicional que, segundo eles, incentiva os estudantes a serem receptores passivos de conhecimento.

"O retorno que temos recebido dos empregadores é que os jovens que formamos são mais preparados para buscar informações por si mesmos, por exemplo, sem precisar perguntar ao supervisor o que devem fazer," diz Brittany Bir, chefe de operações da 42 na Califórnia e ex-aluna no campus de Paris.

MONITORES AO INVÉS DE PROFESSORES

"O aprendizado colaborativo faz os estudantes desenvolverem a confiança necessária para buscar soluções de forma autônoma, com métodos criativos e engenhosos", explica.

Ela afirma ainda que quem passou pela 42 é mais capaz de trabalhar em grupo, discutir e defender ideias –qualidades procuradas no mundo real do mercado de trabalho em tecnologia. "Isso é especialmente importante na área de programação, onde há uma falta de determinadas habilidades humanas," acrescenta.

O aprendizado colaborativo não é novidade e já é adotado em várias escolas e universidades, especialmente em áreas como engenharia. Aliás, historiadores concluíram que, na Grécia antiga, o filósofo Aristóteles tinha na sua escola alunos que eram monitores e ajudavam os colegas.

Pesquisas recentes mostram que o aprendizado colaborativo pode fazer o aluno desenvolver um conhecimento mais profundo sobre determinado assunto. Especialista em educação, o professor Phil Race explica que assuntos difíceis são mais fáceis de entender quando explicados por alguém que os aprendeu sozinho, sem nenhuma ajuda.

Dan Butin, reitor da escola de educação e política social do Merrimack College de Massachusetts, nos EUA, defende que o aprendizado colaborativo e por projetos seja popularizado em colégios e universidades. O professor Butin diz que esses métodos são "ferramentas de ensino" muito melhores do que palestras, por exemplo, que normalmente não propõem desafios ao raciocínio dos ouvintes.

Com informações da BBC.