Uso de internet afeta comportamento de jovens

Por Gazeta Admininstrator

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) concluiu que o uso do computador à noite é feito pela maioria dos adolescentes, com impacto negativo sobre a qualidade do sono e o rendimento escolar.

O trabalho teve base na pesquisa de mestrado de Gema Mesquita, orientada pelo professor Rubens Reimão, do Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente da Escola de Ciências Médicas da Unicamp. Os resultados foram publicados no artigo “Uso noturno de computador por adolescentes: seu efeito na qualidade de sono”, na edição de junho da revista Arquivos de Neuro-Psiquiatria.

“O trabalho mostrou que os adolescentes estão de fato abusando do uso do computador à noite. Os usuários apresentam elementos de distúrbios do sono e têm mais dificuldade para adormecer e para acompanhar as tarefas escolares no dia seguinte”, disse Reimão.

A pesquisa avaliou que 35% dos jovens não usam computadores à noite. Entre os 65% que utilizam, 75,96% o fazem nos dias de semana entre 18 horas e 6 horas e 90,38% nos fins de semana das 17 horas às 3 horas.

De acordo com o pesquisador, o uso da internet predomina entre os jovens usuários noturnos. “Os pais, de modo geral, acharam positiva a populari-zação da internet, porque ela contribui para manter o adolescente em casa, longe das drogas. Mas a pesquisa mostra que o abuso também pode ser prejudicial”, destacou.

Mais de 70% dormem mal
Participaram da pesquisa 160 adolescentes (55 meninos e 105 meninas) entre 15 e 18 anos. Todos eram estudantes de duas escolas da cidade mineira de Alfenas. Os dados sobre o número de horas noturnas de uso de computador foram obtidos por meio do questionário, empregando-se o Índice de Qualidade de Sono Pittsburgh (IQSP).

“O IQSP é um índice internacional padronizado para uso retrospectivo que avalia a qualidade do sono no último mês. O índice é composto de 19 itens de auto-avaliação, formando uma pontuação de qualidade de sono. Até cinco pontos, o sono é considerado normal”, explicou Reimão, que é membro do Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A média geral do IQSP foi de 5 para estudantes que não usam computadores à noite e 6,2 entre os usuários, de acordo com a pesquisa. “Mesmo entre os adolescentes que não usam computador à noite, a qualidade de sono já é ruim”, disse o cientista.

A avaliação mostrou que 50% dos não-usuários têm má qualidade de sono avaliada pelo IQSP. Entre os usuários noturnos, 72,6% dormem mal. A análise dos dados revelou que grupos etários predominantes são os de 15 anos (45,19%) e 16 anos (33,65%).

Entre os internautas noturnos, 43,3% têm dificuldade ou indisposição para acompanhar tarefas diurnas, contra 23,2% dos não-usuários. Entre os usuários, 7,7% não se queixam dessas dificuldades, contra 26,8% dos não-usuários.

Entre os não-usuários, o levantamento verificou que 67,9% dormem mais que sete horas por noite. Entre os usuários, o número caiu para 51%. Os usuários têm mais dificuldade para adormecer: 33% demoram de 30 a 60 minutos para pegar no sono, contra 25% dos não-usuários.

“A literatura mostra que a insônia é o mais comum entre os distúrbios do sono. Esses adolescentes demoram para pegar no sono e têm padrões de sono degradados, que vão de duas horas a seis horas por noite”, disse o professor.

Notas mais baixas
A pesquisa incluiu também dados sobre a avaliação escolar dos alunos, que não foram incluídos no artigo. “Os dados apresentados na dissertação indicam que os adolescentes que abusam da internet à noite têm notas piores e faltam mais”, afirmou o professor da Unicamp.

Segundo o pesquisador, o estudo terá continuidade na tese de doutorado de Gema Mesquita, em andamento. “Ela estudará agora o impacto do uso noturno do computador em uma faixa etária entre 18 e 25 anos. Essa fase, quando o indivíduo começa a universidade, também se caracteriza por um uso muito intenso”, disse.

Os ritmos biológicos de sono são determinados por fatores internos e externos. Mudanças de ritmos provocadas por altera-ções no ambiente externo podem provocar distúrbios de sono, indisposição, modificações gastrointestinais, flutuações do humor, irritabilidade, tensão, confusão, ansiedade e redução da performance em tarefas que requerem atenção e concentração.

“A escola, as horas de trabalho, as horas de lazer e as atividades familiares são fatores externos que sincronizam as horas de sono e vigília. Esse ritmo é estabelecido por uma estrutura neural, mas é influenciada fortemente por fatores externos”, disse Reimão.

Absurdo
“Clique aqui para se drogar.” Essa frase, que ainda soa um tanto absurda, deve tornar-se cada vez mais comum na internet, ambiente no qual as pessoas buscam simulações para sensações da vida real. Depois de os programadores de jogos criarem personagens que têm seus sentidos alterados por drogas virtuais, um site resolveu oferecer essa sensação aos próprios internautas - uma experiência que pode ser desaconselhável, dependendo da sensibilidade de cada utilizador.

Em uma página de internet, os internautas encontram batidas musicais que prometem causar essas sensações - é possível ouvir uma amostra grátis no site, além de baixar os arquivos pagos ou comprar CDs (cada mídia custa cerca de 15 euros). Segundo a página, a simulação dos efeitos da axixe, da cocaína e do ópio acontecem porque as batidas sincronizam as ondas cerebrais para os utilizadores sentirem-se eufóricos, sedados ou para terem alucinações.

Arquivos digitais com nove doses custam cerca de 5 euros - cada arquivo tem cerca de 15 minutos e só pode ser ouvido uma vez. “Use a dose uma vez, jogue fora e compre mais quando você precisar”, diz o site, em um discurso que em muito se assemelha com o dos traficantes do mundo real. “Para aqueles que utilizam doses ocasionais, essa é uma alternativa bastante econômica”, continua a página, que aconselha o uso de bons fones de ouvido durante o consumo das “doses”.

“É possível que esses sons façam o que prometem. Sabemos que há uma série de estímulos que alteram o mecanismo cerebral, como acontece com a hipnose. Mas ainda é cedo para sabermos as conseqüências desse tipo de experiência na internet, já que é algo muito novo”, afirmou Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) especializado no tratamento de dependências.

Ele não descarta, no entanto, a possibilidade de esses arquivos serem utilizados no tratamento de pessoas com outros tipos de vício. Pessoas dependentes de jogos via internet, por exemplo, poderiam utilizar essa alternativa como um “degrau” para a cura: elas deixariam de apostar dinheiro, passariam a usar o simulador e, então, conseguiriam eliminar a dependência. Mas ainda não é possível dizer se as “drogas virtuais” são uma boa opção para esses casos.

Imprevisível
Pelo fato de os efeitos serem desconhecidos, Silveira não é um entusiasta desse tipo de simulador que, segundo ele, pode viciar. “É uma alternativa menos lesiva que a droga química, mas definitivamente não é benéfica, porque manipula a consciência do utilizador”, afirma, lembrando das mensagens subliminares. “É possível que esses programas comecem a passar mensagens para os internautas, sem que eles se dêem conta disso.”

Erick Itakura, pesquisador do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, concorda com a possibilidade do vício.

No entanto, ele lembra que nem todos estão propensos a isso - da mesma forma, muitos internautas podem não ter as sensações prometidas quando ouvirem as batidas. “Com as substâncias químicas acontece o mesmo: os efeitos variam de pessoa para pessoa”, compara.

Ele considera a experiência de conhecer as batidas válida e afirma que esse tipo de alternativa deve se tornar cada vez mais comum, por conta da característica de interatividade da internet. No entanto, o psicólogo reconhece que esse tipo de simulador pode levar o utilizador a situações extremas.

Como exemplo disso, ele cita um episódio em 1997, quando diversas crianças e adolescentes do Japão foram internados depois de assistir ao desenho “Pokemon”. O forte impacto visual do episódio causou em muitos telespectadores sintomas de uma epilepsia fotossensível, como vómito, desmaio e vertigem. “Estímulos desse tipo podem causar sensações desagradáveis e até assustar.”