Vacinação de crianças vira tabu entre pais brasileiros nos EUA

Por Marisa Arruda Barbosa

foto army medicine vacina

Estudos recentes têm mostrado que muitos pais têm optado por não vacinar ou diminuir o número de vacinas de seus filhos. As proporções parecem até pequenas, já que apenas 2% dos pais recusam todas as vacinas. No entanto, mais de um em cada 10 pais nos Estados Unidos resolvem dar espaços maiores entre uma vacinação e outra.

O pediatra brasileiro em Pompano Beach, Renato Berger, diz que a vacinação em seu consultório tem permanecido acima de 99% dos pacientes, mas tem notado um maior questionamento, principalmente de brasileiros, sobre a vacinação.

“Não sei por quê, mas agora, em 2013, estou vendo um questionamento maior entre os brasileiros aqui na Flórida, não hispanos ou americanos, mas brasileiros”, disse Berger. “Não sei se houve alguma reportagem em algum noticiário brasileiro. Mas não houve queda de vacinação, só um questionamento maior”.

Talvez brasileiros tenham lido uma série de reportagens, nos últimos anos, que questionam o porquê de tantos pais estarem optando por maneirar mais na vacinação, como publicado pela revista “Parade”, distribuída em mais de 600 jornais em todo o país, aos domingos. Ou mesmo o debate que durou dez anos desde que um inglês publicou um estudo, que mais tarde foi considerado infundado, de que a vacina contra MMR (ou tríplice, no Brasil) teria relação com o autismo.

“Eu tenho, no meu consultório, dois pacientes que nunca foram vacinados com nenhuma vacina e são autistas severos”, disse Berger. “Já se sabe, hoje, que autismo é uma doença genética, com maior incidência em certas famílias, e uma grande penetração genética entre irmãos. Tenho entre meus pacientes, inúmeras famílias que os pais têm mais do que um filho autista, e em alguns casos, todos os filhos autistas”.

Berger afirma ser totalmente a favor de vacinação e vacinou suas filhas com todas as vacinas disponíveis, mesmo as não obrigatórias. “Por que correr o risco de pegar uma doença fatal, se podemos preveni-las? Não existem doenças que não possam complicar”.

Berger conta que já viu aqui, nos EUA, dois pacientes tendo morte cerebral por causa de sarampo, adolescentes que morreram com catapora no pulmão, fora o risco de que a pessoa que teve catapora pode ter shingles e herpes Zoster, quando adulto. “Então, se você me pergunta se sou favorável a vacinas, sim, totalmente”.

Já Janaína Nascimento Nagase tem opinião contrária. Ela e seu marido resolveram não vacinar seu filho, Ryan, que acaba de completar dois anos. “Desde quando fiquei grávida, eu e meu esposo falávamos sobre isso e já tínhamos a nossa opinião formada. Eles fizeram uma longa pesquisa consultando estudos e publicações, como o site http://vran.org. “Acredito que da mesma forma que muitos pais decidem dar vacina para seus filhos para evitar doenças futuras, nós também decidimos não dar vacina para ajudar nosso filho a criar um corpo forte, um sistema imunológico perfeito e uma saúde boa”, explica. “Posso afirmar, através de experiências próprias e de pessoas que conheço, que o ser humano tem capacidade de curar qualquer tipo de doença naturalmente, se o seu organismo está em condições para isso. Isso depende do tipo de alimentação que temos e também das condições em que vivemos”.

Como Janaína faz parte de 2% da população, ou 1%, se seguirmos os números do Dr. Berger, é claro que muitas pessoas estranham a escolha, mas ela conta que não sofre discriminação e anda sempre com um papel do Departamento de Saúde, informando sobre uma lei na qual as escolas não podem discriminar alunos por não terem tomado vacina.

Diferenças ao criar filhos no Brasil e EUA

Quando Adriana Massa Yamada se mudou para os Estados Unidos, há quatro anos, o processo de adaptação incluiu se acostumar com a diferença no atendimento médico em relação ao Brasil e recentemente conseguiu se adaptar com um pediatra latino para seu filho, de um ano de idade. “Ainda não é a mesma coisa, pois creio que um pediatra tem também que ser um psicólogo”, brinca. “Como mãe de primeira viagem, ainda tenho muitas dúvidas básicas”.

Adriana observou que existe uma diferença entre a vacinação no Brasil e nos EUA, que acredita ser mais sofrida para a criança: “as vacinas nos EUA são dadas de uma só vez, nas consultas anuais”, disse ela. Já no Brasil, acontece em séries: aos três e seis meses.

Além disso, no Brasil, três vacinas são dadas em apenas uma agulhada, e nos EUA é uma picada por vacina, explicou Adriana. “Então eu sei que quando meu filho vai ao médico aqui, vai sair todo espetado”, brinca Adriana, que vive em Coral Gables e jamais pensou na hipótese de não vacinar o filho.

Mas, segundo Berger, mais que no Brasil, os EUA usam muito mais vacinas combinadas. “Só para ter um exemplo, aos dois meses, o bebê recebe somente três picadas e uma oral, mas está sendo inoculado para oito doenças”, explica. “A diferença é que aqui se vai ao pediatra nos primeiros meses, de dois em dois meses, enquanto no Brasil é todo mês, o que faz com que o pediatra divida as vacinas entre as visitas. Estas vacinas são estudadas por muitos anos para ver quais são as misturas possíveis, e estudos mostram que se misturamos aleatoriamente as vacinas em uma única injeção, isso diminui a sua eficácia”. As vacinas Renato Berger explica que todas as vacinas são essenciais:

DTaP/HIB/PCV13: Difteria, Tétano, Pertussis (coqueluche), Hemofilus, Pneumococos – todas em uma só injeção;

HepB: hepatite B;

IPV : Pólio, conhecida como “gotinha” (que, no entanto, está sendo abolida nesta forma);

Rota Vírus : que causa diarreia;

Hep A: Hepatite A (não obrigatória na Flórida, somente recomendada);

MMR/V: Tríplice viral, sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora);

FLU: a gripe, não o resfriado;

Há outras especiais, como febre amarela, tifo, etc. “Imunidade de rebanho” Segundo uma reportagem da revista “Parade”, publicada em outubro de 2012, ironicamente é o próprio sucesso de vacinas que podem ter levado alguns pais a verem a vacinação como opcional, dizem especialistas. Mas, o que ajuda na eficácia, é quando a maioria das pessoas está vacinada, um mecanismo chamado “imunidade de rebanho”. Quando entre 85 e 95% da população é vacinada, isso protege também aqueles que não podem ser vacinados ou cujo sistema imunológico está comprometido, disse o CDC.

“No momento, como um país, somos protegidos comparados com o resto do mundo, mas isso pode mudar”, disse Anne Schuchat, diretora do National Center for Immunization do CDC.

Na França, onde o número de vacinações teve uma queda alta, casos de catapora foram de 40 ou 50 para 15 mil em apenas dois anos. Nos EUA, disse o CDC, de 60 casos por ano, o número aumentou para 200, em 2011.