Vaidade precoce: meninas começam a usar maquiagem antes de aprender a ler

Por Gazeta Admininstrator

O hábito de se maquiar varia de cultura para cultura.
As americanas não saem de casa sem maquiagem, as européias também, mas a maquiagem é mais discreta. As árabes sempre procuram realçar os olhos. Para as brasileiras a maquiagem é para enfeitar e não para esconder a pele. Mas o fato é que cada vez mais cedo a maquiagem começa a fazer parte do dia-a-dia do universo feminino.

As meninas, na maioria das vezes, aprendem a usar o brilho labial antes de aprender a ler e escrever. Na avaliação de muitas mães que vivem nos EUA a influência da cultura e da mídia norte-americanas favorecem esse fenômeno da vaidade e do consumo precoces. Nos Estados Unidos, o faturamento da indústria de cosméticos cresceu 3,52% ao ano, entre 1999 e 2003. No período entre 2004 e 2008 a previsão anual de crescimento é de 4,8%, de acordo com estudo realizado pela JT Research dos EUA.

Pesquisa publicada pela Mintel International Group revela que 90% das jovens de 14 anos dos EUA usam maquiagem. O estudo, que ouviu 5.856 jovens entre 7 e 19 anos, revela que o número de meninas entre 11 e 14 anos que usam baton ou brilho labial diariamente mais do que dobrou em um período de dois anos, e que 63% das meninas entre 7 e 10 anos usam baton.

Mais de duas entre cinco meninas na mesma faixa etária usam sombra ou lápis de olho, e uma em cada quatro usa rímel, revela o estudo. A estimativa é de que as adolescentes gastam por mês cerca de $49 em ítens de beleza.

Mãe de Débora, de 13 anos, a cabeleireira Marília Cunha conta que a filha começou a usar maquiagem há um ano. Adora baton, rímel e lápis de olho. Mas Marília é uma mãe de sorte. Diferentemente das jovens da pesquisa, Débora não gasta $49 por mês com maquiagem (ainda). Ela prefere usar as da mãe mesmo. “A maquiagem que ela usa são as que ela pega de mim. Eu vou procurar, onde estão? Com ela. Ganhei rímel e brilho, e quando fui ver já estava tudo com ela”, diverte-se Marília.

Ela não se importa, mas acha que às vezes é bom “colocar um freio” para que a jovem não exagere. “As meninas aqui nos EUA usam maquiagem muito mais cedo do que no Brasil. Tenho sempre que estar freiando. Às vezes ela quer colocar salto alto e mostrar que é mais velha do que é, mas ela sempre me escuta”, conta.

A fashionista Nádia Schwartz concorda que a influência da cultura norte-americana é grande sobre o comportamento das meninas brasileiras que vêm para os EUA, ou para aquelas nascidas nos EUA filhas de brasileiros. Sua filha, Luana, hoje com quase 14 anos, usa maquiagem desde os 11 anos. Nascida no Brasil ela veio com os pais para os EUA aos nove anos. “Aqui as meninas usam maquiagem muito mais cedo. O que percebo aqui é que a influência dos amigos é bem maior do que a influência dos pais, o que é normal, mas aqui esse fenômeno acontece mais cedo”, observa Nádia.

A especialista em moda observa ainda que aqui nos EUA meninas já começam a usar brilho labial a partir dos cinco anos. “Os fabricantes de cosméticos têm linhas específicas para crianças e adolescentes, especialmente dos cinco aos 14 anos, e elas adoram. Outro dia saiu em uma revista que a Britney Spears usava determinado brilho labial e, a partir daí, todas usam essa marca”, conta Nádia.
Na avaliação da especialista, hoje em dia, as meninas são mais influenciadas pela moda. “A mídia está muito mais disponível, tem inúmeros shows na TV que mostram adolescentes de sucesso, a vida delas, e todas querem copiar. Além disso, há as revistas. Aqui em casa eu tenho as minhas assinaturas e minha filha tem as dela”, diz.

RISCOS

De acordo com o grupo Skin Deep, voltado para o estudo dos riscos de produtos cosméticos para a pele, com base em Washington, existem atualmente inúmeros cosméticos, muitos voltados especificamente para o mercado adolescente, que contêm ingredientes relacionados ao risco de desenvolvimento de câncer. O grupo mantém uma página na internet com informações detalhadas sobre mais de 14 mil produtos cosméticos. O endereço é www.safecosmetics.org (em inglês).

Uma boa maneira de evitar o uso excessivo de maquiagem entre as crianças e adolescentes, diz o dermatologista norte-americano Todd Minars de Hollywood, na Flórida, é alertá-las sobre o agravamento de um problema muito comum nesta faixa etária: a acne. “A maquiagem pode causar acne. Dizer às meninas que o uso de maquiagem agrava este problema pode ser uma boa forma para os pais de convencê-las a utilizar menos”, diz o especialista.

Ele alerta ainda que toda maquiagem destinada a crianças e adolescentes deve ser “oil-free” e “non-comedogenic”, conteúdo que pode ser conferido na própria embalagem.

O esteticista e biotonologista brasileiro Olympio Cesar da Silva diz que a maquiagem é o seu maior inimigo na hora de tratar da pele de suas clientes. “Quando se coloca a maquiagem, as partículas sólidas penetram no tecido. Quando o tecido fecha, retém este material”, explica o especialista.

Ele acrescenta que este material é microscópico e, na maioria das vezes, invisível a olho nú. “Muitas jovens acham que basta lavar o rosto e a pele está limpa. Mas as partículas que ficam favorecem a formação de quelóides e de cicatrizes sérias”, detalha.
Ele explica ainda que pessoas com poros mais fechados estão menos sujeitas a problemas, mas que o risco continua existindo. Segundo Olympio, é um erro grave utilizar maquiagem para tentar disfarçar acnes ou espinhas, muito comuns durante a adolescência “Existem produtos anti-acne que disfarçam a aparência e não irritam a pele”, orienta.

Outro engano muito comum, diz Olympio, é a utilização de produtos de limpeza inadequados. “Os produtos com componentes alcoólicos limpam rapidamente a pele, mas ressecam”, explica o especialista concluindo que pessoas que usam maquiagem regularmente têm a pele envelhecida e são propensas a manchas, acnes, espinhas e cravos.

Além dos problemas de saúde na pele, o consumo precoce de ítens de beleza pode acarretar um outro tipo de problema: o hábito do consumo fútil e desnecessário. O que na realidade brasileira, muitas vezes, seria inacessível, na sociedade norte-americana, dentro da mesma classe social, pode estar ao alcance da mão.

A facilidade de acesso ao consumo oferecido pelo modelo econômico norte-americano pode ser outro fator de impacto sobre as crianças e adolescentes brasileiras que imigram para os Estados Unidos. “Esse seria o resultado negativo da influência da cultura norte-americana sobre as meninas brasileiras que vivem aqui, um estímulo ao excesso de consumo. E o segundo, por não ter noção de finanças, já que as meninas gastam um dinheiro que é dos pais e não ganho por elas, essas meninas, ao longo do tempo, acabam inconscientemente acostumando a esperar que alguém seja o provedor delas, e têm dificuldades de se acostumar a ser independente financeiramente”, conclui a especialista em moda.