Vem aí uma nova forma de escrever

Por Gazeta Admininstrator

Jiboia e não jibóia, enjoo e não enjôo, linguiça e não lingüiça. Estas são algumas das novidades na ortografia que passam a valer a partir de janeiro de 2009. Na segunda-feira(29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, na Academia Brasileira de Letras, o decreto que estabelece o cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

O acordo prevê 20 bases de mudanças e busca unificar a escrita nos oito países que falam português: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Portugal e Brasil. As alterações vão modificar 0,45% do dicionário brasileiro.

As principais interferências para os brasileiros serão a extinção do trema e mudanças no uso do hífen e de acentos. Na avaliação do coordenador do curso de Letras da Unesc, Carlos Arcângelo Schlickmann, as novidades podem representar alguma interferência apenas para quem já foi alfabetizado. “Quem já é alfabetizado precisará se adaptar. Na maioria dos casos isso vai se adquirir por leitura, porque em geral a maioria não se lembra pelas regras”, destaca. Entre as mudanças ainda, o alfabeto passará a ter 26 letras, com a incorporação das letras k, w, e y, até então consideradas estrangeiras.

A acentuação também desaparecerá nos ditongos abertos “ei” e “oi”, em palavras como “idéia” e jibóia” e nas palavras paroxítonas com “i” e “u” tônicos, quando precedidos de ditongo em palavras como “feiúra”. Para o acento circunflexo, as regras vão abolir o uso do “chapeuzinho” em palavras com duplo “o”.

Evolução da Língua
Para Schlickmann, a nova ortografia é benéfica e sinaliza para a evolução da Língua. “A Língua está sempre em processo de evolução, sempre terá alteração. Algumas coisas, por alguns motivos, não serão alteradas nunca. Mas isso vem pra mostrar que a Língua não está parada”, comenta. As normas ortográficas poderão ser usadas até dezembro de 2012 nos exames escolares, concursos públicos e em vestibulares. Por causa do período de adaptação, a regra passará a valer pelos livros didáticos comprados pelo MEC para as escolas públicas a partir de 2010.

O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. O acordo ortográfico levou 18 anos para ser feito e se deu em função da ocorrência de duas ortografias atrapalhar a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.

Saiba mais:
O QUE MUDA NA ORTOGRAFIA?
1 - As paroxítonas terminadas em “o” duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de “abençôo”, “enjôo” ou “vôo”, os brasileiros terão que escrever “abençoo”, “enjoo” e “voo”.

2 - Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos “crer”, “dar”, “ler”, “ver” e seus decorrentes, ficando correta a grafia “creem”, “deem”, “leem” e “veem”.

3 - Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como “louvámos” em oposição a “louvamos” e “amámos” em oposição a “amamos”.

4 - O trema desaparece completamente. Estará correto escrever “linguiça”, “sequência”, “frequência” e “quinquênio” ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.

5 - O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de “k”, “w” e “y”.

6 - O acento deixará de ser usado para diferenciar “pára” (verbo) de “para” (preposição).

7 - Haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos “ei” e “oi”de palavras paroxítonas, como “assembléia”, “idéia”, “heróica” e “jibóia”. O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia.

8 – Levam acento agudo:
a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas ditongos crescentes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.

9 - Levam acento circunflexo:
a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/tônica, e terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.

3º-) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sílaba e são seguidas das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respetivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua: académico/acadêmico, anatómico/ anatômico, cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/Amazônia, Antó- nio/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/ gênio, ténue/tênue.

MUDANÇAS NO USO DO HÍFEN
1 - O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por “r” ou “s”, sendo que essas devem ser dobradas. Ex.: antessala, autorregulamentação.
Obs: Em prefixos terminados por “r”, permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista.

2 - O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal , como autoescola. Esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc.

Obs: Esta regra não se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por “h”: anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo etc.
3 - Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal., como micro-ônibus.

Obs: Uma exceção é o prefixo “co”. Mesmo se a outra palavra inicia-se com a vogal “o”, NÃO utliza-se hífen.

4 - Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição, como em mandachuva.

Obs: O uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constituem unidade sintagmática e semântica mantendo acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer, bem-te-vi etc.