Verdade ou mentira?

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri

Se você pensa que já viu de tudo nessa vida, essa pode lhe surpreender: a empresa norte-americana Alibi Network oferece um serviço que promete fornecer o álibi perfeito para aqueles mentirosos de plantão que, ou já não têm mais muita credibilidade no mercado, ou não são cínicos e dissimulados o suficiente para convencer com suas mentiras.

Desde o marido ou mulher infiel, até o funcionário preguiçoso que quer faltar ao trabalho, todos são potenciais clientes da empresa que vende, a partir de $35, a mentira perfeita para salvar a sua pele.

Se os seus escrúpulos morais o fazem pensar que essa é uma forma muito feia de ganhar dinheiro, saiba que a cada quatro vezes que as pessoas entram em contato com as outras, em pelo menos uma contam uma mentira. Significa que mentimos em 25% do tempo. A descoberta está no livro “Como identificar a mentira”, da psicóloga e professora Mônica Portela, recém-lançado no Brasil pela editora Quality Mark.

Provavelmente pensando nisso, a empresa americana colocou em sua prateleira virtual um estoque de 50 mil desculpas. Entre elas, congressos e seminários e até sessões de macumba. É possível receber, por exemplo, falsos bilhetes aéreos, confirmações de hotel, de aluguéis de carro, convites para conferências, e tudo o que a imaginação mentirosa do cliente permitir.

- Temos também falsas recepcionistas que, se receberem uma ligação do parceiro que está sendo enganado, fingem transferir a ligação, como se fosse mesmo em um hotel – conta Michael de Marco, vice-presidente de Marketing da empresa.

Para quem tem parceiros mais desconfiados, a empresa coloca à disposição telefones celulares com prefixos de qualquer lugar do mundo. Fornecem também fotomontagens do cliente em congressos e eventos profissionais com os “colegas de mentira”. “Mentir faz parte da nossa sociedade, sempre foi e sempre será assim. Nós apenas preenchemos uma necessidade de mercado”.

Um olhar mais atento aos serviços oferecidos pelos mentirosos profissionais é capaz de fazer muita gente pensar que o mundo está perdido e que, hoje em dia, é preciso dormir com um olho aberto e o outro fechado.
A página da empresa na internet (www.alibinetwork.com) oferece uma assinatura anual do serviço por $75, que dá direito a uso ilimitado do serviço de confimação de e-mails, serviço de aconselhamento para desculpas de última hora, e até um “personal lier”, ou o seu próprio professor de mentiras, que vai treinar você, de acordo com as suas necessidades, personalidade e estilo de vida, a dizer a mentira certa, na hora certa. O seu “personal lier” estará, por este preço, à sua disposição 24 horas por dia.
De Marco estima que pelo menos metade da clientela da empresa busca esconder infidelidades, e não vê motivos para críticas algumas vezes feitas à sua atividade. “Se não houvesse demanda, não haveria a empresa”, conclui.

A psicólogia e doutoranda em Terapia Familiar e de Casal, Célia Moreno, com consultório em Pembroke Pines, acredita que este tipo de negócio é uma espécie de “wake up call” (despertador) para que as pessoas se dêem conta do que está acontecendo com as relações humanas. “Ele realmente está atendendo a uma demanda. Mas isso depende da ética pessoal de cada um.

Você pode colaborar e promover para que certos valores virem verdade, ou pode combatê-los. A ética é que faz a diferença. É a mesma coisa com a exploração da prostituição. É um dos negócios mais antigos do mundo. Mas se eticamente você sabe que esse não é o padrão de comportamento que quer passar para os seus filhos, você denuncia isso. Idéias são construídas socialmente”, conclui Moreno.

Por causa do serviço, qualificado como ultrajante por alguns, a empresa já foi alvo de notícias nas Américas e na Europa. Em texto publicado por um jornal de Hartford, em Connecticut, o editorialista faz um questio-
namento interessante: “É surpreendente que consumidores confiem em uma empresa cujo negócio é a desonestidade”.

A declaração de privacidade da empresa assegura que o negócio de álibi é baseado na proteção da informação de seus clientes, e que a privacidade de cada um “é extremamente importante” para eles.

A psicóloga Célia Moreno observa ainda que o surgimento deste nicho de mercado reflete uma mudança de comportamento em tempos de internet. “A internet nos dá acesso à informação, faz com que várias culturas se encontrem, mas também pode ser um refúgio onde pessoas vivem mentiras. Ela nos une e nos distancia”, avalia Moreno, diante da informação que todo o negócio com a empresa pode ser fechado via internet, sem que a identidade de quem contrata o serviço seja revelada.

Serviços que podem ser considerados “mais nobres” moralmente também são oferecidos pela empresa, que relaciona em sua página algumas “situações delicadas” já solucionadas por eles, como por exemplo, o caso de um homem, cuja filha estava tendo um caso com o chefe do pai, muito mais velho do que ela. A empresa afirma ter encontrado uma forma “apropriada” de solucionar a situação, sem que o pai tivesse que conversar diretamente com o chefe. Ou, em uma situação, profissional, você tem uma excelente idéia de negócios, e desconfia que seu colega está vendendo sua idéia para a concorrência. “Nós vamos figurar como a firma concorrente para desmascarar o seu colega”, informa a página.