Veredicto que inocentou Zimmerman causa protestos em todo o país

Por Gazeta News

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O julgamento de George Zimmeman pela morte do adolescente negro, Trayvon Martin, que terminou no dia 13, em Sanford, centro da Flórida, dividiu o país entre os que acreditam que Zimmerman, um americano de mãe peruana, agiu em legítima defesa e aqueles que pensam que o vigia foi motivado por preconceito racial contra Martin. Zimmerman foi acusado de perseguir e atirar em Martin, que estava desarmado, durante uma briga entre os dois, na noite de 26 de fevereiro de 2012, em Sanford, onde o adolescente, que vivia no sul da Flórida, visitava familiares com seu pai.

As juradas que absolveram Zimmerman da acusação de assassinato em segundo grau - com a possibilidade de pena de prisão perpétua - e homicídio culposo - pena máxima de 30 anos de prisão – permaneceram com a identidade protegida. A decisão das juradas se baseou nas 27 páginas de instrução entregues pela juíza Debra Nelson, que incluíam duas seções com uma opção para declarar o réu inocente: uso justificado de força letal e dúvida razoável.

Antes do início das deliberações, no dia 12, a juíza disse ao júri que, segundo a lei da Flórida, “o homicídio de um ser humano é justificável e lícito, se for necessário, quando se resiste a uma tentativa de assassinato, ou se comete um crime grave em relação a George Zimmerman”.

Durante quase três semanas, as seis integrantes do júri (cinco brancas e uma negra) ouviram dezenas de depoimentos que podem ter criado uma ‘dúvida razoável’. “George Zimmerman não é culpado, se existe uma ‘dúvida razoável’ de que agiu em legítima defesa”, disse o advogado Mark O’Mara às integrantes do júri, no dia 12, antes que começassem a deliberar. Ele insistiu nessa tese até comemorar o veredicto, na noite seguinte.

Improvável que caso vá para a instância federal

O Departamento de Justiça disse que é improvável que o caso vá parar em instância federal, porque seria difícil provar que Zimmerman agiu por causa de preconceito racial. Para que isso acontecesse, seria necessário uma evidência clara de que Zimmerman teria atacado Martin porque ele era negro. Embora seja por esse motivo que muitos americanos estejam protestando, acreditando que este seja o caso, será difícil de provar isso em corte, disseram experts no assunto.

“O elemento mais difícil seria provar preconceito racial além da dúvida razoável”, disse o professor de direito da Universidade de Michigan, Samuel Bagenstos ao “Tribune Washington Bureau”. “Na maioria dos casos de crimes de ódio, você tem alguém que disse palavras racistas ou um grupo que atacou a pessoa baseada em sua raça”.

Em sua primeira declaração pública desde o final do julgamento, o secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder disse, no dia 15, que a morte do adolescente foi trágica e desnecessária. Ele disse também que o caso deveria motivar um debate público sobre como prevenir incidentes semelhantes.

“Independentemente da determinação legal que será feita, acredito que esta tragédia oferece mais uma oportunidade para que nossa nação fale honestamente sobre as questões complicadas e emocionalmente carregadas que esse caso motivou”, disse Holder, numa convenção do grupo negro Delta Sigma Theta.

No dia 14, após a explosão dos protestos, o presidente Obama pediu calma. “Sei que esse caso provocou intensas paixões. No dia seguinte ao veredicto, sei que essas paixões podem se intensificar. Mas somos um Estado de Direito, e um júri falou”, afirmou Obama, em nota à imprensa.

Em contrapartida, o veredicto foi aplaudido por defensores das armas, por todos aqueles que apoiam a lei conhecida como “Stand Your Ground” (Defenda sua posição, em tradução livre). Essa lei permite o uso de armas por parte de quem se sentir ameaçado de morte. Protestos O resultado do julgamento reacendeu o estigma racial nos EUA. Milhares de pessoas foram às ruas em Nova York, Los Angeles, Chicago e Atlanta, entre outras cidades, para protestar contra o polêmico veredicto.

Depois do veredicto, protestos ocorreram por todo o país com grupos de manifestantes para demonstrar o descontentamento com a decisão judicial citada. Los Angeles e Oakland, na Califórnia, foram palcos de protestos que se tornaram violentos, na noite do dia 15, quando pessoas foram atacadas nas ruas e lojas depredadas. Mas tudo voltou a transcorrer com maior tranquilidade na noite seguinte, quando um contingente policial maior foi colocado nas ruas para evitar atos de vandalismo.

Outros protestos estão marcados para o dia 20, em 100 cidades dos EUA.

Nas igrejas do sul da Flórida, um pedido por mudança

Mesmo depois de o veredicto ter passado, o caso Zimmerman versus Martin está longe de terminar. Moradores da Flórida têm reagido com calma. No sermão de domingo, as igrejas incluíram mensagens de paz pelo veredicto, além de pedir que a luta por justiça seja travada nas instâncias adequadas.

Na noite do dia 16, mais de 2 mil pessoas foram ao New Mount Olive Baptist Church, em Fort Lauderdale, para rezar e cantar.

Nas comunidades afro-americanas no sul da Flórida, reações foram fortes e profundas no domingo seguinte ao veredito no julgamento da morte do jovem Trayvon Martin. No entanto, a raiva não foi expressada em protestos barulhentos e violentos nas ruas, como temeram as autoridades, mas dentro das igrejas, onde muitos pediam mudanças no sistema de justiça.

“O veredito nos relembra que somos pessoas que se apoiam nas leis, acreditam nas leis e cumprem as leis, mas parece que a lei não se baseia em nós”, disse o Reverendo Arthur Jackson III, da Antioch Missionary Baptist Church, em Miami Gardens, onde Trayvon, que foi morto aos 17 anos, costumava frequentar junto com sua mãe, Sybrina Fulton, que não compareceu à igreja no dia 14. “Nós não deixaremos que a morte de Trayvon seja em vão”.

Em Boynton Beach, Nathaniel Robinson, pastor do Greater Saint Paul African Methodist Episcopal Church, pediu que sua congregação fizesse mais do que protestos para mudar o sistema legal.

“Segurar um cartaz não faz muito efeito”, disse ele. “Nós queremos fazer parcerias com diferentes organizações que já estão se movimentando para pedir um processo civil”. O prefeito de Miami Gardens, Oliver Gilbert, disse que o veredicto desapontou muitos em sua comunidade. “Há 17 meses, Trayvon foi morto e nós acreditamos que o veredicto não correu da forma que nós queríamos”.