O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou à capital do Rio Grande do Norte no dia 16, em meio a estado de calamidade pública por conta dos estragos causados por chuvas recentes e protestos contra a Copa. Ele assistiu a estreia vitoriosa da seleção americana contra Gana.
No dia seguinte, o vice-presidente viajou a Brasília para se reunir com a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer. Biden declarou estar confiante de que as relações com o Brasil estão prestes a serem restabelecidas depois de garantir à presidente Dilma que Washington mudou a maneira como conduz a sua vigilância eletrônica.
As relações entre os dois países esfriaram desde que os documentos vazados, no ano passado, por Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), revelaram que Washington espionou Dilma e outros líderes mundiais, como a chanceler alemã, Angela Merkel.
O vice-presidente americano afirmou que Dilma e ele tiveram uma conversa “franca” sobre o episódio e a vigilância na internet e que está “confiante” que a reunião de uma hora irá ajudar a descongelar as relações entre as duas maiores economias do hemisfério.
“Discutimos o esforço comum que temos para proteger e defender a internet”, declarou Biden mais tarde, de acordo com a “Reuters”. “Não é uma ferramenta governamental de repressão. É de propriedade das pessoas de todo o mundo”.
Biden também entregou às autoridades brasileiras uma primeira leva de documentos norte-americanos outrora confidenciais que lançam luz sobre os abusos aos direitos humanos cometidos pela ditadura militar brasileira, um gesto de especial interesse para Dilma, que foi prisioneira política e foi torturada pelo regime.
“Espero que, ao tomar medidas para encarar o nosso passado, possamos encontrar uma maneira de nos concentrar na imensa promessa do futuro”, afirmou Biden. “O céu é o limite para o que podemos conquistar juntos”.
Dilma, que cancelou uma visita de Estado a Washington no fim do ano passado em represália ao escândalo de espionagem, indicou estar pronta para seguir em frente. Uma reaproximação pode acelerar progressos no comércio, na exploração de petróleo na costa brasileira e em outras iniciativas de cooperação há muito empacadas entre os dois países.
Autoridades dos EUA esperam que as garantias dadas pessoalmente por um líder que Dilma respeita serão suficientes para virar a página. A reunião durou o dobro do programado.
“Ele respeita muito as preocupações que Dilma tem. Achou importante ter uma conversa menor, privada e direta para detalhar alguns destes temas”, declarou um funcionário norte-americano. “É isso que ele veio fazer aqui”.
Por razões de segurança, ele se recusou a especificar o que Dilma e Biden conversaram.
Biden na América Latina
Depois do Brasil, o vice-americano tinha visita programada para a Colômbia, República Dominicana e para a Guatemala. O último país não fazia parte do planejamento inicial, mas Biden deve se encontrar também com líderes de El Salvador e de Honduras, para tratar sobre o número crescente de crianças centro-americanas que têm entrado nos EUA desacompanhadas.Segundo o funcionário do governo americano, a violência e a falta de oportunidades econômicas nos países da região ajudam a explicar o recente fluxo de menores para os EUA, temas que serão abordados por Biden na Guatemala, mas também há uma percepção errada da política de imigração dos EUA. Um dos pontos centrais da visita será deixar claro que as crianças que entram desacompanhadas em território americano não terão direito ao caminho para a cidadania. Se no curto prazo os EUA devem fornecer alívio humanitário a esses menores, eles estarão sujeitos a procedimentos de extradição.