A história de Hector Antonio Giron, um comerciante de 46 anos de idade, ilustra bem um dos motivos que estão fazendo com que jovens imigrem ilegalmente em números sem precedentes para os Estados Unidos. As informações são do “McClatchy News Services”.
Em 14 de setembro de 2011, membros da gangue sequestraram sua filha mais jovem, então com 16 anos, enquanto ela fazia as entregas em sua cidade rural.
Giron e sua esposa saíram em buscas de testemunhas pela cidade de Cuyultitán, a 15 milhas a sudeste de San Salvador, capital de El Salvador, e descobriram onde a menina estava. Eles chamaram a polícia, que se dispôs a ir. Giron decidiu ir até a fazenda também, quando descobriu que a polícia não foi ao local.
Giron, que tinha levado consigo uma pistola 9mm, resolveu entrar na fazenda. Quando chegou ao local, ouvia os gritos de sua filha – era extamente no momento em que ela estava sendo estuprada.
A gangue em questão era a temida Barrio 18, uma das duas gangues poderosas com uma presença em todos os cantos El Salvador. Furioso, Giron desafiou o grupo de seis ou mais membros da gangue e começou a atirar neles, matando o líder. Outros membros fugiram e Giron saiu ileso.
No caminho de volta para casa com sua esposa e a filha, Giron foi preso, acusado de assassinar o líder da gangue, Samuel Diaz Moratoya.
No dia seguinte, a quadrilha revidou, matando a esposa de Giron, Guadalupe Flores de Giron, na loja de conveniência da família.
Enquanto o governo Obama espalha avisos pelos meios de comunicação da América Central sobre os perigos de atravessar a fronteira, poucos se abalam com isso, pois sabem que a situação não será pior do que a enfrentada diariamente, como no caso da família Giron.
“A situação violenta atingiu tais níveis que nenhuma medida irá impedi-los de emigrar, não importa os perigos que enfrentam”, acrescentou Jeannette Aguilar, diretora do Instituto Universitário de Opinião Pública, que realiza pesquisas em El Salvador.
Giron passou uma semana preso, período suficiente para sua vida relativamente própera como comerciante virar de cabeça para baixo. Suas três filhas fugiram e nem puderam ir ao funeral da mãe e suas propriedades foram abandonadas, marcadas por pichações de gangues, afastando possíveis compradores.
“Eles estão oferecendo $35 mil dólares por minha cabeça”, disse Giron, cuja família tem fugido, vivendo com amigos e familiares. “Eles dizem que vão nos matar um por um”.
A filha mais velha de Giron tentou ir para os Estados Unidos com sua filha de 5 anos, mas foi pega por agentes e enviada de volta para o México.
Marvin Gonzalez, ex-membro de 30 anos da maior quadrilha do país, a Mara Salvatrucha, também conhecida como MS-13, disse que a quadrilha e o rival Barrio 18 estão presentes em todo o país.
“Em El Salvador, não há um único quilômetro quadrado sem membros de gangues”, disse Gonzalez. “A imprensa diz que entre as duas gangues, há um total de 60 mil membros. A polícia tem apenas 25 mil homens”.
Menores de El Salvador compõem 21% dos mais de 52 mil menores não acompanhados que cruzaram para os Estados Unidos desde 1º de outubro, de acordo com o Departamento de Segurança Interna dos EUA. Giron tem tentado abrigo em países europeus e nos Estados Unidos, sem sucesso.