Visita de Bush expõe a difícil relação de Lula com a esquerda

Por Gazeta Admininstrator

A visita de George W. Bush ao Brasil irá expor a difícil relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com antigos companheiros de esquerda, que hoje o acusam de ser "neoliberal" e "corrupto".

A chegada do presidente americano será precedida por várias manifestações em todo o país, algumas convocadas por grupos que apóiam Lula, mas condenam com veemência o convite feito pelo presidente a Bush.

O primeiro protesto foi realizado hoje em Brasília, onde Bush chegará amanhã à noite após participar da 4ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata, na Argentina. A manifestação teve a presença de aproximadamente 800 pessoas, segundo a polícia.

A manifestação foi organizada por movimentos estudantis, que também estão divididos entre partidários e detratores de Lula. Logo no começo, o protesto ficou dividido entre os que apóiam e condenam o governo.

Os dois grupos queimaram bandeiras dos Estados Unidos e fotos de Bush, mas alguns manifestantes também protestaram contra Lula e os escândalos de corrupção no governo, enquanto outros defenderam o presidente.

Além do barulho nas ruas, a visita de Bush gerou um rio de críticas a Lula, provenientes mesmo de firmes aliados.

As mais duras foram do PSOL, fundado por parlamentares expulsos do PT.

No PSOL, as críticas a Bush se confundem com as fortes condenações às políticas de Lula, com o petista sendo comparado ao presidente americano.

"Não aceitamos nos submeter ao saque imposto por Bush aos povos da América com sua política neoliberal, tragicamente aceita por Lula aqui no Brasil", disse em nota o PSOL.

O deputado Babá (PSOL-PA) disse à EFE que Bush é "um assassino planetário", "responsável pelo genocídio no Iraque, por permitir que Israel massacre os palestinos, por manter milhares de seqüestrados em Guantánamo, por abandonar pobres e negros após o furacão Katrina, por promover um golpe na Venezuela, e pisará o Brasil convidado por Lula".

Porém, setores mais moderados também rejeitaram firmemente a visita do presidente americano.

O sociólogo Emir Sader, um dos fundadores do Fórum Social Mundial, convocou a esquerda a "reagir" com força para "não deixar [Bush] passar impunemente" pelo país.

Sader classificou Bush de "comandante de uma máquina de promover guerras e ocupações militares no mundo", e pediu que os manifestantes reajam 'às mentiras dos grandes meios de comunicação sobre Cuba e a Venezuela'.

Algumas manifestações contra o presidente dos Estados Unidos foram apoiadas paradoxalmente pelo PT, e outras têm o respaldo do PC do B, um forte aliado do governo.

Apesar de o próprio Lula ter convidado Bush, o PT emitiu nota convocando seus militantes a participar da "onda de manifestações" que, segundo o partido, percorrerá o país durante o fim de semana.

O PC do B exortou os brasileiros a darem uma "recepção nada amistosa" a Bush, e pediu a defesa das "revoluções" cubana e venezuelana. O MST também anunciou mobilizações em todo o país.

As manifestações previstas não causam muita preocupação ao Governo, pois são vistas como "a expressão democrática dos povos".

O secretário de Assuntos Políticos da Chancelaria, Antonio Patriota, disse a jornalistas que a maior preocupação do governo é "a de todo anfitrião: que a visita ocorra dentro do melhor nível de segurança e seja proveitosa para ambos".