Vivendo e aprendendo: o coronavirus e você!

Por Adriana Tanese Nogueira

Nenhum de nós iria jamais imaginar que estaria um dia vivendo uma situação global, na qual estamos todos à mercê de um perigo invisível e incontrolável que pode nos atacar quando mesmo esperamos, vindo de onde menos esperamos e sem aviso prévio. Parece ficção científica, no entanto é realidade. Compreensível que demoremos para nos darmos conta que é de verdade; ou seja, que há um ameaça e que precisamos agir, onde “agir” corresponde ao evitar aquela ação à qual estamos tão acostumados. “Agir” hoje em prol de nossa saúde física é deixar de fazer a vida que criamos para nós mesmos e, sobretudo, deixar de sair de casa! O simbolismo é gritante. Nós, a sociedade por excelência da extroversão, do viver correndo o dia todo fora de casa, do cuidar do que está fora de casa, de estar em casa pensando e nos organizando para quando estaremos fora de casa... Nós, para nos protegermos de um vírus potencialmente letal, precisamos voltar para casa e lá ficar. Materializa-se, nas piores das circunstâncias, um constante e repetido chamado da psicanálise: volte-se para dentro. É do grande C. G. Jung um dos aforismas mais citados no mundo digital: “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”, o que é o final da seguinte frase: “A tua visão vai se tornar clara somente quando você olhar dentro do teu coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.” Quem chega ao consultório psicanalítico é porque já tentou se distrair do problema, fugir, dele, racionalizá-lo, negá-lo, contorná-lo, minimizá-lo. E não teve sucesso. O consultório psicanalítico é o portal do “olhar para dentro”, daquela casa interior que está desabitada, que foi abandonada aos ratos e que nos assombra através de sintomas como a depressão, a ansiedade, a obsessão, a inquietação, a falta de objetivo e de concentração. Voltar-se para dentro é voltar-se para a psique, cuja primeira metáfora está naquela imagem que todos conhecemos como “o coração”. Olhar dentro de nosso coração. O que encontramos? Por que é tão difícil fazer algo que parece no mínimo “romântico”, já que “coração” é uma ideia tão bonita? Deve haver um (bom) motivo, não é? Todos, absolutamente todos nós, sabemos qual é: porque nesse nosso coração há coisas que não queremos ver, palavras que não queremos ouvir, realidades que não queremos reconhecer. E chega um vírus. E chega uma ameaça que abraça todos os humanos sobre o planeta. E somos todos chamados a ficar em casa. Cada um com seu coração. Cada um com seus fantasmas. Cada um com sua sombra. Enquanto a natureza se regozija, respirando feliz sem a prepotente e egoísta presença humana, enquanto os pássaros podem voltar a voar em céus mais límpidos, os peixes retornam a dançar nas águas e os animais em geral tiram férias do pior de seus representantes, a espécie humana, nós, os humanos, estamos relegados a nos recolher. Podemos utilizar esse tempo, indefinido por enquanto, para muitas coisas, mas só há uma certeza: não poderemos fugir de nós, nos distrair de nós mesmos. A internet faz o papel do mundo externo, mas ela está lotada de todo tipo de mensagem confusa e assustadora. Querendo manter a saúde mental, você deverá ter não só bom senso e senso crítico como também dar-se limites de tempo para entrar em contato com tamanha contaminação. Este é o momento para ler, estar consigo, resolver pendências com as pessoas com as quais vivemos. É o tempo da reflexão que inclui observar como nos sentimos, aprender a discernir nossas emoções, sensações, sentimentos, intuições. Anotar nossos sonhos, indagar nossas profundezas. Aprender a ouvir: à natureza interna, e então, quiçá, também àquela externa.