Vida de imigrante não é fácil. Além de lutar pela sobrevivência num ambiente de alta competitividade, o desafio em construir uma nova vida num país e cultura totalmente distintos daquela na qual fomos criados, muitas vezes, nos leva a estados de depressão, frustração intensa e perplexidade.
Tudo muito normal. A síndrome de estranheza com relação ao “American way of life” atinge, da mesma forma, a gregos e troianos, paulistas, mineiros e baianos.
Não importa qual seja o background econômico, social, acadêmico ou cultural do brasileiro que optou por viver nos Estados Unidos, o fato é que sempre, em alguma medida, o que impera na atitude do imigrante é “forçar” ao máximo para impor seus hábitos (bons e maus) à cultura local.
Isso, evidentemente, é pura perda de tempo.
A História ensina que o processo de adaptação à cultura do país adotado é o fator mais importante para determinar o sucesso individual e coletivo dos imigrantes. No caso específico dos Estados Unidos, por mais que algumas etnias tenham até conseguido influenciar positivamente a cultura local, com seus elementos originários, o que predomina gritantemente no final, é a cultura local.
Isso significa que, embora a “cultura da pizza” tenha se tornado uma poderosa contribuição dos italianos ao “American Way of Life”, esse é apenas um fragmento do que representa a verdadeira identidade da comunidade ítalo-americana na América, estimada em mais de 20 milhões de residentes.
Conosco, brasileiros, que formamos uma das mais novas e ainda reticentes comunidades imigrantes nos Estados Unidos, esse processo está ainda em sua fase inicial. Evidentemente que já foi superada a primeira e mais desconfortável síndrome, a da “Transitoriedade”.
Ela ocorreu durante os primeiros 10, 15 anos de crescimento contínuo da comunidade brasileira na América, quando 99% dos brasileiros que aqui desembarcavam, já tinham em mente uma “data marcada” para retornar ao Brasil.
Hoje esse percentual caiu drasticamente e se restringe, em grande parte, aos imigrantes que ainda se enquadram na categoria de franco-atiradores, aqueles que buscam uma solução temporária.
Entretanto, mesmo para a grande maioria dos que já elegeram ou “se conformaram” com a idéia de viver o resto de suas vidas (ou boa parte disso) em território norte-americano, persiste uma teimosa atitude no sentido de não assumir a sua condição de residente nos Estados Unidos.
É muito comum você ouvir desses imigrantes, sejam os ricos de Key Biscayne, os remediados de Doral e de Fort Lauderdale ou os emergentes e trabalhadores de Pompano e Deerfield, que eles estão muito mais ligados nos seus hábitos e procedimentos de vida “made in Brazil”, do que procurando entender melhor e se beneficiar das regras do jogo do “American Way of Life”.
A vida no “limbo da indefinição” é das mais difíceis.
Compreender o sistema, o jeito de ser e de viver do povo norte-americano é tão fundamental quanto saber negociar em dólares.
Falar inglês ou pelo menos se esforçar ao máximo para dominar o idioma do país, é obter vantagens importantes no processo de crescimento pessoal e profissional.
Uma coisa é preservar nossa cultura, manter a todo custo nosso idioma, preservar o amor ao Brasil em nós e nossos filhos.
Outra coisa é se manter cego diante da irreversibilidade da aculturação. Assumida de forma inteligente e inclusiva.
Essa “estranheza” da maioria dos imigrantes brasileiros com relação ao como “funcionam” os Estados Unidos, tem impedido a nossa comunidade de galgar mais rapidamente degraus rumos a uma maior e melhor representatividade.
Nossa comunidade precisa evoluir definitivamente do conceito de “gueto” para o de “grupo social” presente, atuante e interferente, no conjunto da sociedade norte-americana.
Temos capacidade intelectual, produtiva e criativa para tanto.
O brasileiro é show de bola quando leva qualquer coisa a sério.
É do mais profundo interesse de cada um de nós, imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, que aqui estão para ficar, prosperar e dar um futuro melhor aos nossos filhos, compreender as regras do jogo do país que escolhemos para viver e que nos dá essa oportunidade.
Viver nos Estados Unidos, mas com a “cabeça” no Brasil é, simplesmente, um enorme atraso de vida.
A História está aí para comprovar.

