Como falar sobre Morte com as Crianças ?

Por Gazeta Admininstrator

Como Falar Sobre Morte com as Crianças    

    A menos que a pessoa seja extremamente bem resolvida com a vida, falar  sobre morte nao é um assunto tão fácil assim, e muito menos quando se tem que abordá-lo com uma criança.  No entanto, esse tão delicado assunto é a única certeza que temos na vida.  O nosso ciclo natural é nascer, crescer e morrer.  Tratar de morte com naturalidade é ensinar as crianças a não terem medo, preconceitos ou fantasias irreais sobre ela.

     A forma pela qual devemos abordar esse assunto, no entanto, depende da idade da criança. As crianças entre 4 e 5 anos de idade não entendem o conceito de "eternidade".  Não conseguem entender que o cãozinho, gatinho, ou papai e mamãe não "voltarão", para brincar outra vez com elas. As crianças, geralmente, começam a perguntar sobre morte a partir dos 5 anos de idade, quando passam a  entender o conceito de tempo. E só a partir dos 7 a 8 anos de vida é que as crianças entendem esse conceito temporal de que a morte é definitiva e irreverssível.

    Também é bom lembrar que as crianças desenvolvem algo que, nós psicólogos, chamamos de "pensamento mágico".  Por conta das suas necessiddaes terem sido atendidas desde pequenos , a criança pensa que o seu pensamento é "mágico".

     Quando chora, a mãe  da comida, ou  troca a fralda, ou  acalenta a criança.  Isso contribui para a construção desse "pensamento mágico", onde a criança acha que o pensamento se torna concreto e vira realidade, e que o que ela pensou, acontece.  Portanto, dependendo da idade, quando alguém morre, ela pode muito facilmente se sentir culpada, e se condenar por isso durante pouco ou  muito tempo.

     A notícia de morte traz uma experiência diferente de todas as outras. Pode gerar sentimentos de culpa, de tristeza intensa, de saudade, de raiva, além de poder causar isolamento, depressão ou ansiedade com a sua própria vida, ou a com as demais pessoas que fazem parte da vida da criança, ou até mesmo dos bichos de estimação.
Nesse sentido, os bichos de estimação são fundamentais para se explicar o conceito de vida e morte, quando estão doentes e morrem,  ou até mesmo as flores e plantas.  Uma excelente atividade é plantar algo com a criança, e ajudá-la a cuidar.  E mostrar o que acontece com o passar do tempo, quando o seu ciclo natural se encerra e morre.

      Em caso da morte acontecer, fale com a criança sobre os seus sentimentos a respeito do que aconteceu, e sobre o que ela pensa a respeito da perda.  Valide todo e qualquer sentimento, e apoie.  Não minimize, ou julgue inapropriadamente.  Afinal de contas, as crianças sentem falta e sofrem também com as perdas.  Outra dica é construir uma caixa de memória, onde você junto à crianca, decora e coloca dentro objetos, fotos, cartas, cartões que a fazem lembrar positivamente do ser querido que partiu, ou do bichinho de estimação que morreu.  Às vezes as crianças consideram os cachorros e gatos, assim como peixinhos ou passarinhos seus melhores amigos, e perde-los pode ser muito doloroso.

    Em algumas crianças pode haver uma mudança de comportamento, onde por conta da raiva, elas passam a agredir os outros, numa tentativa de se defenderem.  Em outras, pode haver ansiedade de separação.  Ainda há os que se deprimem.  Em toda e qualquer idade, é importante que os pais ou responsáveis estejam atentos as mudanças de comportamento, e conversem abertamente sobre o assunto, pelo tempo que for necessário à criança. 

     Se o adulto responsável achar apropriado, e a criança tiver uma idade apropriada, deixe- a participar dos serviços funerários, ou até mesmo do enterro. Afinal de contas, dependendo da cultura, esses rituais e as crenças com relação à morte variam muito.  Se a perda for um bicho de estimação, ou facilite o último adeus, ou deixe a criança ver você ou um responsável enterrando o bichinho.  Ajude-a a dizer adeus.  Escreva um bilhetinho com ela, faça um desenho, e coloque junto ao corpo. 

     Lembre-se que a mídia é responsavel por fazer a morte algo muito ameaçador, amedrontador e triste.  Mas cabe aos pais e responsáveis ajudar a criança a entender que esse é um processo natural, onde não precisam ter medo ou fobias.  Apoie a criança nessa fase tão difícil e explique que ela sentirá a  falta da pessoa ( bicho de estimação) correspondente ao amor que havia investido, e na relacao que teve quando ainda era viva.  Evite causar ou manter traumas com relação a morte, afinal é algo inevitável na vida de todos nós.  O mais importante é não negar, ou proibir que essa criança fale e explore os seus sentimentos.  Quanto mais natural ela receber essa informação das pessoas em que confia, mais bem resolvida será. E lembre que a vida deixou aquele corpo, mas a criança pode guardar as lembranças positivas e saudáveis que tinha, e essas lembranças são o que tornam a pessoa que morreu imortal para ela.

     Se esse estado de tristeza, ou depresão persiste por mais tempo, é preciso consultar um profissional qualificado, para ajudar a criança, ou até mesmo a família a entenderem e resolverem algum conflito, ou material não resolvido com relação a essa perda.

     O ciclo natural não poupa a ninguém.  Melhor nos prepararmos, e viver intensamente sabendo dessa certeza, do que manter segredos e tolher a expressao de sentimentos da criança.  E como diz o ditado popular, "É melhor amar, e perder, do que nunca ter amado."