Você acha que criança gordinha é saudável? - Saúde & Bem Estar

Por Ivani Manzo

[caption id="attachment_94471" align="alignleft" width="300"] Foto: Defekto / Flickr[/caption]

Você acha criança “gordinha” fofinha? Este pensamento esteve e ainda está muito presente na mente da maioria das pessoas. Durante muitos anos, o padrão de saúde para crianças era com “dobrinhas”. Hoje, muita coisa já mudou.

Quando um bebê nascia grande, era logo elogiado e a mãe também. Porém, hoje, bebês que nascem acima de 3,700 quilos sem uma genética que justifique, ou seja, sem que pelo menos um dos pais seja grande, pode ser considerado acima do peso. E isso ocorre porque sabe-se que estes bebês terão um maior risco de desenvolver obesidade, diabetes e todas as enfermidades associadas.

Com relação a mãe, existe a mesma preocupação com o aumento de gordura corporal durante a gestação. Atualmente, os médicos obstetras são rigorosos com o aumento de gordura das gestantes e cuidam muito para que isso não ultrapasse os limites do saudável. Sim, a gestante deve aumentar a porcentagem de gordura corporal, mas apenas o necessário e saudável. Contudo, ainda é muito comum vermos gestantes “ganhando” 20 ou 30 quilogramas durante o período.

Mas, por que engordar na infância e na gestação é tão danoso? Nós guardamos a gordura em células chamadas adipócitos. Estas células se comportam de forma diferente na infância e na gestação, quando comparadas ao que ocorre na vida adulta. Durante a infância e durante a gestação, se houver um aumento na quantidade de gordura e estas células ficarem muito cheias, elas se dividem e novas células são formadas. Isso significa um aumento na possibilidade de armazenar gordura. Aumentamos o espaço para guardar gordura. Quando essa criança for um adulto e engordar, haverá um número muito maior de células para armazenar, irá armazenar mais gordura e com mais facilidade. Ao passo que se uma pessoa engordar apenas na vida adulta, o que também não é bom, as células aumentam de tamanho, mas dificilmente se dividem. O espaço para armazenamento de gordura será menor, assim como a possibilidade de armazenar.

Especialmente nas crianças, isso significa que há um aumento na possibilidade de armazenar gordura quando adulto. A chance de uma criança obesa se tornar um adulto obeso é realmente muito alta e o mesmo ocorre com a gestante. Além de tudo isso, emagrecer depois de ter sido uma criança ou uma gestante obesa se torna muito mais difícil.

A tradição e a cultura de que uma criança magra não é saudável, ou que uma mulher, quando está grávida, deve engordar é muito danosa. Mesmo que se pense que antigamente era assim e nada ocorria, devemos lembrar que antigamente o gasto energético no dia a dia era bem maior, a atividade muscular era bem maior e isso protegia as pessoas de enfermidades como diabetes e hipertensão.

Outro ponto que é importante ressaltar é que a média de idade populacional era bem menor. A medicina tem trazido muitos benefícios, mas os cuidados pessoais precisam e devem ser atendidos. O acúmulo de gordura se dá por ingestão inadequada de alimentos, mas o mais importante é que a ingestão inadequada de alimentos se dá por inúmeros fatores. Por isso dizemos que a obesidade é uma enfermidade multifatorial, ou seja, de várias causas. Fazer uma reeducação alimentar e praticar exercícios físicos regulares podem ajudar muito, e ajudam. Mas, muitas vezes, não é o suficiente. Muitas pessoas necessitam de mais ajuda, de acompanhamento por um período para que as mudanças se instalem e, assim, possa continuar sozinha.

Claro que há um custo financeiro, e esse custo vai existir de qualquer forma. Ele poderá existir agora, para o cuidado da alimentação correta, com um nutricionista, para a mensalidade em uma academia, ou um profissional para consultoria e assessoria. Mas, também poderá ocorrer daqui alguns anos, com remédios, exames, consultas médicas e, infelizmente, com internação hospitalar muitas vezes. A diferença é que, quem optar por se cuidar já, terá uma melhor qualidade de vida por mais tempo. É uma escolha particular, mas os esclarecimentos devem ser feitos.