Você pode mudar o mundo

Por Gazeta Admininstrator

Diz o folclore tradicional das festas de fim de ano que um dos mais freqüentes assuntos nas rodas de bate-papo em todos os eventos que acabaram de acontecer, culminando com o Reveillon, diz respeito às “Resoluções de Ano Novo”.

Perder peso, levar uma vida mais saudável, se alimentar mais inteligentemente, fazer exercícios, buscar foco nos objetivos profissionais, dar mais atenção aos filhos e à companheira(o), cuidar da complicada vida sentimental e sexual, enfim, esses seriam os projetos mais comuns.

Prestar mais atenção no que acontece pelo mundo, vivenciar os problemas coletivos e entender seus poderosos efeitos no dia-a-dia de cada um de nós, dedicar mais tempo à importância da política, do voto, da preservação ambiental e das escolhas até mesmo quando se elege este ou aquele produto numa gôndola de supermercado. Esses seriam objetivos digamos, “mais sofisticados” e que ocupariam a agenda de “Resoluções de Ano Novo” das cabeças mais “engajadas”.

Certamente que todas as metas individuais acabam sendo, em todas as tribos, muito mais importantes, ainda que racionalmente a tribo dita “mais sofisticada” faça um tremendo esforço para colocar as causas coletivas como mais importantes que as suas pessoais.
A questão é que, a conquista desses “gols” individuais terá um tremendo impacto nas causas coletivas.

Cada vez mais as pessoas em todas as partes do mundo, mesmo em camadas sociais onde ter qualquer preocupação além da sobrevivência básica diária é considerada “um luxo”, dedicam à busca por auto-aprimoramento um enorme espaço eu seu “mapa de prioridades”.
Há uma crescente consciência de que, em vez de estarmos o tempo todo culpando Bush pela guerra, Lula pela frustração, Fidel pela tirania, Saddam pelo genocídio, e atribuindo à “vontade divina” tudo de bom ou ruim que possa nos ocorrer, o caminho é a busca de soluções e evolução a partir da semente de tudo: o indivíduo.

Essa me parece ser uma etapa que brota como conseqüência natural da evolução das sociedade humanas (ainda efetivamente tribais, ainda que high-tech) para um nível de consciência lógico em que cada pessoa assume a responsabilidade de seus atos e escolhas perante o coletivo e caminha em direção ao que se poderia chamar de “Democracia real”, onde valores éticos, morais e de convivência, não sejam unicamente “impostos” pela Lei e sim ditados basicamente pela certeza de que protegendo o meio ambiente (aí incluindo os seres humanos, obviamente), estaremos protegendo a nós indivíduos, nossas famílias, amigos e “tribo”, enfim.

Na resolução de perder peso, por exemplo, está inserida em escala global, a renúncia a uma série de procedimentos alimentares que são crucialmente nocivos à humanidade. Com certeza a “máquina de lucrar com a gordura do mundo” poderá quem sabe, ser direcionada pelo “drive econômico” a engordar as massas famintas da África, Ásia e América Latina, que são o espelho vergonhoso e humilhante do terço rico, estróina e obeso do planeta.

Na resolução de levar uma vida mais saudável está embutida logicamente o favorecimento de todo um estilo de vida que procura se harmonizar com a Natureza, combater o estresse a que somos submetidos pelo “big brother” – por favor, leitor, isso nada tem a ver com o programa de TV – e favorecer todas as iniciativas que resultem em qualidade de vida acima de qualquer coisa.

Na resolução de dar mais atenção aos filhos e aos parceiros reside uma das mais cruciais batalhas da humanidade num momento de grandes e estruturais transformações. A família está sendo redefinida. A intolerância com relação a essas mudanças se torna não apenas uma reação emocional, mas um poderoso inimigo a cada um que, ao invés de abrir os olhos para entender o que se passa em sua volta, prefere simplesmente optar por duas alternativas nada producentes: a “opção atire a primeira pedra” ou a “solução avestruz”.

O futuro já está escrito, sempre esteve e estará, no reconhecimento à lei imperativa da convivência, diversidade e tolerância. A família e a escola são as “tribos básicas” no processo de assimilação dessa nova ordem ética e moral que permitirá aos seres humanos evoluírem da trágica “farinha pouca meu pirão primeiro” para uma muito menos explicativa situação de compreensão dos múltiplos interesses, preferências e necessidades.

É a partir da interação familiar que esse processo já está ocorrendo. Em grande parte deturpado e viciado pela força devastadora da televisão e do entretenimento eletrônico, esse processo talvez seja o mais difícil de ser encarado, mas é inevitável que venha a ser porque a dinâmica de nosso tempo impõe esse conflito.

Na resolução de cuidar da vida sentimental e sexual reside a complexa e fundamental aceitação da liberdade sexual, da sombra tenebrosa das doenças sexualmente transmissíveis, da conscientização em larga escala de que a AIDS não é uma “doença de viado” (por incrível que pareça, em recente pesquisa feita pela Organização Mundial de Saúde, essa visão estereotipada da AIDS persiste em variados graus nas mentes de 78% dos entrevistados em 36 países).

Maior consciência e realismo, menos preconceito e moralismo vão, serão os degraus naturalmente alcançados por uma sociedade que começa a descobrir que a hipocrisia não nos está levando a nada.
Como se vê, o pouco que acreditamos poder fazer, individualmente, pode com certeza no âmbito coletivo, gerar mudanças fenomenais e fazer com que a jornada da raça humana siga seu rumo como já está traçado em linhas gerais, mas com muito menos dor, violência e sofrimento num dia-a-dia que, sim, nós podemos mudar com nossa atitude pessoal.

Feliz Ano Novo a todos.

P.S. Quero agradecer a todos que têm, constantemente, interagido conosco e enviado e-mails, cartas e telefonado se referindo aos nossos editoriais. A todos, meu respeito à seriedade e honestidade de seus comentários e que tenham um Feliz Ano Novo.