As vozes das crianças de Aleppo

Por Arlaine Castro

Foto Sultan Kitaz REUTERS

A poucos dias do Natal, o mundo ficou aterrorizado com um vídeo amplamente divulgado nas redes sociais, em que algumas crianças de um orfanato em Aleppo – o último ainda não destruído pela guerra civil da Síria -, que perderam os pais em meio aos últimos bombardeios, gravaram uma mensagem comovente implorando ajuda para a comunidade internacional.

As imagens, obtidas pelo jornal Daily Mail, mostram Yasmin Kanuz, de 10 anos, dizendo acreditar que aquela poderia ser a última vez que sua voz seria ouvida. “Eu morei lá há dois anos com meus pais, que foram mortos por aviões de guerra sírios”, disse ela em meio a uma multidão de outras crianças. “Apelo às organizações de direitos humanos e de direitos da criança em todo o mundo para nos ajudarem a sair agora de Aleppo. Há 47 crianças comigo aqui e eu as considero todas irmãs e irmãos. Precisamos de comida e água porque estamos morrendo de fome”.

À medida que uma evacuação em massa ocorria, as crianças do orfanato Moumayazoun, que ainda não havia sido destruído por bombas, pediam ajuda. “Todos nós aqui amamos a paz. Não podemos sair do centro da cidade por causa do bombardeio pesado e bárbaro que nos rodeia. Estamos com muito medo dos aviões de guerra, e gentilmente pedimos que vocês tentem nos tirar daqui. Queremos viver como todas as outras pessoas e crianças do mundo. Por favor”, disse Kanuz no vídeo.

Financiados por doações e organizações de caridade sírias e internacionais, cerca de 18 adultos foram ao encontro das crianças para ajudá-las, incluindo cozinheiros, professores e psicólogos. No entanto, de acordo com o diretor do local, Muhammad Azraq, oito deles decidiram ir embora quando o bombardeio se intensificou.

“A situação para três crianças em especial é muito ruim”, disse ele. “Elas estão famintas, sedentas, com medo, e não podem deixar o orfanato por causa dos pesados bombardeios”. Ele contou ainda que um menino de 10 anos, chamado Abdulrahman, experimentou deixar o prédio e acabou sendo ferido por estilhaços.

O orfanato em questão foi criado no ano passado com a intenção de ajudar o crescente número de crianças que haviam perdido os pais em um conflito que já dura cinco anos. Muitos foram mortos por bombas ou separados dos filhos por causa da guerra, enquanto outros acabaram ficando mentalmente doentes. Como os bombardeios destruíram parte do prédio, as crianças foram forçadas a dormir em dois andares no subsolo, por isso raramente veem a luz do dia.

De acordo com o Daily Mail, o cessar-fogo em Aleppo foi reestabelecido recentemente. Rebeldes na cidade disseram que o acordo de trégua seria mais uma vez implementado para permitir a evacuação segura de combatentes e civis. A televisão estatal síria informou que cerca de 4 mil pessoas deveriam ser retiradas dali. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha se comprometeu a tentar ajudar com o transporte de feridos, muitas vezes bombardeados no meio do caminho.

Não será Natal para todas as crianças do mundo, infelizmente. Não para essas e para outras milhares espalhadas em campos de refugiados no mundo afora. Nem para as que vivem nas ruas e sobrevivem à margem da sociedade.

Com informações da BBC Brasil.