Além do Aedes aegypti, quem está no foco mundial após o decreto, feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de estado de emergência mundial diante do risco de zika, é o Brasil. O mosquito, não só é velho conhecido do país, como também teria sido o causador da maior incidência de casos de crianças nascidas no Brasil com microcefalia.
Assim, o que brasileiros se acostumaram a assistir de longe, quando alarmes sanitários costumavam ser disparados apenas devido a surtos em países pobres africanos e asiáticos, chegou ao Brasil.
O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, foi porta-voz da “mais absoluta perplexidade” do governo devido à associação do vírus zika com a microcefalia, má-formação do cérebro que pode ser severa. Não deveria haver tamanha perplexidade, pois o estágio brasileiro no saneamento básico e no manejo do lixo é indigente. Acrescenta-se a tudo a generalizada incompetência, irmã do descaso, do poder público em geral com relação ao mosquito. Em algum momento, algo mais grave poderia acontecer, e aconteceu.
Erradicado oficialmente na década de 50, o Aedes voltou com força trinta anos depois, época de epidemias de dengue no Rio. Mas não seria uma praga só carioca, como se vê.
A decretação do estado de emergência mundial tem aspectos positivos para o Brasil como, por exemplo, receber ajuda para acelerar pesquisas de vacinas e respectivos testes, e no campo da vigilância sanitária.
Mas há, também, o dever moral de o país se empenhar de fato para controlar a expansão do mosquito, o que implica grande mobilização nacional, porque a população tem parte da responsabilidade nessa proliferação do Aedes. Mas apenas fixar datas para que todas as residências sejam visitadas não basta.
Outro aspecto, este angustiante, é o drama humano de jovens mães, de baixa renda, do interior do Nordeste — Pernambuco tem até agora o maior índice de crianças nascidas com má-formação do cérebro —, que não contam, nem contarão, com o necessário apoio da rede pública de saúde para acompanhar o crescimento dos filhos. Algo essencial, porque o bebê precisa ser estimulado desde muito cedo.
O destino dessas crianças está traçado: algumas até poderão ser abandonadas em hospitais, outras continuarão com famílias incapazes de dar-lhes o atendimento adequado.
Haverá, portanto, alguns brasileiros, nascidos no verão de 2015/2016, que carregarão pelo resto da vida marcas da incúria no combate a um mosquito e na eliminação das causas de sua proliferação.
Fonte: O Globo.