Um bebê nasce, e é como o Menino Jesus na majedoura: adorado por todos. O bebê se torna o centro das atenções. Do ponto de vista da maternidade, esta é uma necessidade inexorável. Maternidade é estar à disposição do bebê até ele ir ganhando independência e os dois, mãe e filho, irem reformulando sua relação a cada dia. Mas, do ponto de vista dos adultos, que seu mundo rode em volta do bebê da casa demonstra que estes adultos estão com problemas de comunicação, vazio existencial, insatisfação...
Infelizmente, muitos bebês se tornam a diversão da casa. Substitui-se o cuidado parental e educacional com a camaradagem, a festinha. O bebê como mini-adulto, alegrando a vida cansada de adultos desbotados, tristes por dentro, que cobram o trabalho que o bebê dá pelo seu “entertainment”. “Crianças grandes”, ou seja, adultos imaturos cuidando de crianças pequenas: sem horário para dormir, sem pode-não pode, sem “nãos”. Como se chega a isso?
Todos nós, adultos, sabemos quanto é desagradável receber um não: recebemos muitos na vida, certo? Lá fora está cheio de limites e até a vida em casa: o relacionamento limita, a conta no banco limita, o ser do outro limita, as heranças familiares limitam... Assim, os adultos projetam sobre seus filhos sua sonhada “terra do nunca”, onde nunca há limites e tudo é festa e alegria... Ah, relaxar...
E os adultos estragam as crianças e podem apostar que terão sérios problemas com elas, entre eles: agressividade, defit de atenção, choro fácil, manipulação, controle, distúrbios do aprendizado, dificuldade de socialização e falta de empatia.
A culpa não é da criança, apesar de terminar por ser sua, porque ela de fato se torna insuportável. Profissionais de todo tipo se apressarão a diagnosticá-la e se darão ao trabalho de “reformatá-la”.
Crianças precisam de limites. Para começar, percebo uma enorme ignorância a respeito dos processos fisiológicos e naturais do desenvolvimento. Falta a atenção básica para o que o corpo e a sensibilidade de uma criança em suas várias fases da vida (1 mês, 3 meses, 6 meses, 9 meses, 1 ano, 2 anos, etc.) precisam. Falta o cuidado para com os ritmos básicos do corpo: sono, descanso, alimentação, água, sol, ambiente. E falta o cuidado com as emoções/sentimentos: por exemplo, uma criança geralmente não quer dormir à noite porque precisa de tempo com seus pais. Ela está recuperando o dia inteiro longe deles. Ela precisa dessa relação tanto quanto precisa de comida. Portanto, intensificar a qualidade da relação, na falta de tempo, é uma necessidade que o adulto responsável deve tomar para assegurar o equilíbrio psicológico do filho – e físico, pois a criança irá dormir mais fácil e rapidamente, após ter se abastecido de “mamãe” e “papai”.
A falta de limites gera confusão na cabeça da criança que ainda não sabe nada do mundo dos adultos, onde há ‘nãos’ absolutos. Sua experiência em casa a leva à falsa conclusão que ela pode tudo e que é amada independentemente do que faz. Uma vez na realidade externa, ela se sentirá desadaptada porque o que aprendeu não se aplica. Os resultados são frustrantes. Sem ter outros recursos, a criança se fica sem saber o que fazer, sente a angústia que surge quando o nosso desenvolvimento está impedido. Daí surge a raiva e a agressividadeava, ou o recuo e o isolamenteo, dependendo da personalidade.
Por ter sido usada para aliviar as tensões adultas, por não ter tido suficiente saudável solidão e por excesso de estímulos (televisão, comida, companhia, diversões, atividades, etc.), a criança está carregada de energia (emoções e tensões internas) e temos hiperatividade, déficit de atenção e distúrbios da aprendizagem. Difícil ser criança...