Cristina Boner fala sobre saúde mental no trabalho

Por Arlaine Castro

Cristina Boner fala sobre saúde mental no trabalho.

A revista de Economist elegeu como um das pautas mais importantes em termos de tendência a questão da saúde mental, o que acha ?

Cristina Boner: Um erro muito comum cometido entre as pessoas é que quando alguém fala de saúde, ela é automaticamente associada à simples ausência de uma doença, porém, a OMS (organização mundial de saúde) aponta que o conceito de saúde vai muito além e é muito mais abrangente do que aparenta. Posso dizer pela minha experiência que a saúde é composta pelo tripe: Bem-estar físico, bem estar mental e também bem estar social. E digo, se queremos viver bem e ter uma boa saúde para não correr riscos de contrair qualquer tipo de doença é importante dar atenção a cada uma destas áreas.

Então estamos falando que a saúde mental é um dos elementos mais importantes para o bem-estar?

Cristina Boner: Quando alguém ouve o termo "saúde mental" ela automaticamente associa a "doença mental", mas o que muita gente não sabe é que saúde mental engloba muito mais coisas. Se você for consultar o dicionário da língua portuguesa vai encontrar que saúde mental é definido como : "Expressão utilizada para descrever a qualidade cognitiva e emocional de uma pessoa ou, ainda, para designar a inexistência de alguma doença mental: muitos de nós levamos nossos problemas de saúde mental conosco quando vamos ao trabalho"

Um evento que custou a saúde mental de muitos, foi a pandemia causada devido ao Coronavírus (Sars-Cov-2) , certo ?

Cristina Boner : Sem dúvida!!! Este fenômeno fez com que os governos aderissem inúmeras restrições, como por exemplo; toque de recolher, quarentena, lock down (em alguns países), o uso da máscara, distanciamento social, entre milhares de outros. A soma de todas essas medidas restritivas, finalizaram na perda da liberdade. Além de botar a saúde física em risco para aqueles que contraíram o vírus, a pandemia também foi responsável por remover da equação a saúde social e finalmente, tendo em vista que dos três aspectos citados 2 foram afetados, como efeito dominó, consequentemente a saúde mental também foi para o espaço

E os sentimentos de angústia, solidão?

Cristina Boner: Não apenas solidão, mas também ansiedade, medo e principalmente tédio uma vez que as pessoas não podem sair de casa criando então um limite para o que se pode fazer ou vivenciar. Dentro dessas circunstâncias é muito fácil cair em uma rotina não saudável acordando todo dia tarde, ficando o dia inteiro deitada na cama vendo filmes ou séries e não produzir absolutamente nada. Em teoria, parece ser relaxante e confortável, e pode até ser, mas apenas nos primeiros dias, depois torna-se repetitivo e sem com que a pessoa perceba acaba instigando doenças mentais como; depressão, ansiedade, transtornos alimentares (considerando que o indivíduo está se alimentando de forma não saudável e em constante comparação com o corpo, principalmente atualmente devido a cultura da valorização), entre outros.

A pandemia deu novo significado às expressões corporais, houve algum impacto na forma de socializar ?

Bruna Boner Leo Silva :Nós fomos programados educados para socializar, para estar em contato com outras pessoas, para abraçar, beijar e se sentir amado. Tem uma psicoterapeuta Norte-Americana, que diz que: "Precisamos de 4 abraços por dia para sobreviver. Precisamos de 8 abraços por dia para nos manter. Precisamos de 12 abraços por dia para crescer.”. Eu acho isso sensacional, pois reflete a essência da nossa cultura Latina. Na hora em que abraçamos alguém, uma sensação de bem-estar e satisfação imediata é solta. Além disso, o abraço assim como o toque físico é essencial para a saúde física quanto mental. No entanto, a pandemia deu novo significado às expressões corporais. O que era natural e adequado passou a ser visto como irresponsabilidade e por tanto não recomendado. Com isso fora da equação tornou-se mais difícil ainda não cair em estado de solidão e depressão.

Ainda em relação a pandemia, que impactos ela trouxe na forma de trabalhar e estudar ?

Cristina Boner : Certamente que a pandemia trouxe com ela foi a nova forma de trabalhar e estudar. Hoje em dia, a maior parte das aulas são online, pois a grande parte da população ainda sente muito medo de se aglomerar, e as pessoas começaram a trabalhar no home office. Apesar de ter sido uma medida tomada devido às restrições provocadas por causa do coronavírus, mesmo depois da flexibilização e do relaxamento de algumas das medidas restritivas muitas empresas optaram por permanecer com o home office e fazer disso um diferencial. O motivo por trás dessa decisão é que uma vez que os seus empregados estão trabalhando dentro da própria casa, com seus próprios computadores, e recursos, isso dá às empresas a liberdade de entregaram o escritório e enxugar o custo físico uma vez que com o home office é possível reduzir o desperdício de recurso, evitar o carro, o oferecimento de produtos e serviços a custo reduzido (muitas empresas já aderem ao home office de forma permanente).

Sem contar que com o home office, cuja tradução literal é "escritório em casa", não significa que o trabalho deve ser realizado de casa. A vantagem do home office é justamente que uma pessoa pode desenvolver seu trabalho onde quer que ela esteja, seja em um hotel, aeroporto, em um restaurante ou de casa. Por isto, posso antever que novo modelos e formatos de “Coworking” irão surgir e proporcionar mais ondas revolucionárias. No entanto, vale observar que, como tudo na vida, o home office também tem suas grandes desvantagens, e no final das contas , o home office é um grande fator responsável por afetar a saúde mental dos trabalhadores. De acordo com a pesquisa realizada pela Workana (uma plataforma para trabalhadores freelancers) 43,7% de 2810 trabalhadores que participaram da pesquisa feita em 2021 declararam que o home office causou impactos psicológicos. Este estudo também mostrou que o grupo mais afetado foram as mulheres. Foi mencionado por elas que desde o começo do home office, elas têm usado recursos como a terapia com muito mais frequência.

Bruna Boner: Um dos motivos por isso é porque a sua casa deixa de ser o seu local de relaxamento, o local para o qual você vai uma vez que você já cumpriu com a sua obrigação e passa a se tornar também o seu local de estresse. Outro dia mesmo li um post de um engenheiro da Microsoft em que afirmava que “a carga horária estendida do expediente e a falta de limites entre casa e trabalho com certeza prejudicam a saúde mental. Essa combinação da permanência do home office com o medo da população de sair para se encontrar, o constante isolamento social, somando com sociedade altamente competitiva em relação ao mercado de trabalho, a multifuncionalidade e rivalidade, em uma cultura onde é errar ou falir é inaceitável, eventualmente causa o aumento da ansiedade, catalisando os sentimentos de angústia e solidão em qualquer Pessoa, fazendo com que a saúde mental, parte essencial para a integridade do ser humano, da população fique altamente instável, levando então ao desenvolvimento de doenças mentais. Como consequência, assistimos o aumento de depressão, e outros problemas psicológicos que comprometem a qualidade das atividades e o relacionamento entre as equipes de trabalho.

E o que esperar do futuro??

Cristina e Bruna Boner :A longo prazo, arcar com os custos que o impacto que a falta de saúde mental dos trabalhadores causa na empresa acaba saindo muito mais caro do que o aluguel de um escritório. A razão por isso é que o funcionário que está sofrendo de depressão, ou qualquer outro distúrbio mental é muito mais provável de faltar ao trabalho, tem um mau relacionamento com o resto da equipe, acaba onerando mais o plano de saúde e diminui muito a produtividade da empresa. The Wall Street Journal escreveu que as corporações estão começando a perceber que a saúde mental talvez seja uma importante fonte de despesas. Uma opção que algumas empresas decidem adotar para prevenir o dano da saúde mental dos seus empregados é promover palestras e programas com participação obrigatória de todos os colaboradores sobre saúde mental. Algumas empresas têm uma psicóloga disponível para que qualquer um possa consultá-la a qualquer momento do dia caso esteja lidando com problemas de exaustão, estresse, entre outros fatores que causam danos na saúde mental de muitos.

Cristina Boner Leo (Globalweb e Grupo TBA): Todos nós passamos por problemas na vida, uma fase de mais estresse, outros processos mais relaxantes, mas que uma vez que se tornam constantes e repetitivas podem causar danos permanentes, principalmente na área do trabalho. Levando em consideração tudo que foi abordado nesta entrevista e trazendo o foco de volta para o home office e a falta de contato humano, hoje em dia, mais que antes, é muito importante o papel das empresas em relação à saúde mental de seus empregados. É essencial que elas estejam constantemente buscando forma de ajudar os trabalhadores a enfrentarem essa situação da melhor forma possível, pois com a saúde mental em dia e bem cuidada, o trabalho iria render mais, o empregado vai produzir o dobro do que ele atualmente tem, e a empresa acabará lucrando.