Bruna Boner Léo mostra que ESG é o futuro dos investimentos

Por Arlaine Castro

Bruna Boner Léo mostra que ESG é o futuro dos investimentos.

O que essa sigla significa? E por que ela é tão importante para as empresas?

Bruna Boner Léo: A tradução para ESG - Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) e significa o conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança realizadas por empresas.

Em relação a sua importância, sendo bem direta este conceito também pode ser critério de escolha dos investidores. Veja bem, os carros elétricos são cada vez mais vistos nas estradas porque muitos compradores estão preocupados com os efeitos nocivos das emissões dos combustíveis tradicionais. Painéis solares em complexos de apartamentos e escritórios nas cidades são uma visão comum à medida que o mundo se move em direção a uma energia mais limpa e verde.

As empresas também estão olhando para além dos meros requisitos legais para reduzir as emissões etc., e construindo produtos sustentáveis e modelos de negócios sustentáveis. Eles veem a vantagem potencial de serem vistos de forma positiva pelos clientes e percebem que construir um negócio sustentável pode gerar um crescimento mais rápido dos negócios.

Como essas empresas têm um futuro brilhante, está claro que os investidores também precisam olhar atentamente para essas empresas para aumentar sua riqueza. Essas empresas são, literalmente, o futuro dos negócios e o futuro da criação de riqueza.

O QUE ACELEROU A IMPLEMENTAÇÃO DO ESG NAS EMPRESASI

Bruna Boner Léo : O investimento ESG tem relação com investir em empresas que se preocupam em proteger o meio ambiente quando se trata de suas fábricas, embalagens e produtos, são atenciosos com a sociedade em que operam e cumprem meticulosamente todas as regulamentações nessas questões. O desempenho de uma empresa é avaliado não apenas pelos lucros que gera para os acionistas, mas também pelo impacto positivo que causa na sociedade em geral e no meio ambiente.

Além disto, vale destacar também alguns fatores e premissas como : A questão climática; as novas regulamentações, principalmente na Europa, que criam incentivos e penalizações na direção de um modelo sustentável; a percepção dos novos consumidores notadamente “ Millennials ou Geração Z “ que começam a propor e cobrar novos posicionamentos e comportamentos sociais e ambientais; e por fim e não menos importante, a pandemia de covid-19, que catapultou para um outro patamar o movimento que já vinha se consolidando e atingindo as grandes corporações que adotaram o conceito do ESG como o novo normal para os negócios e finanças.

Mas como os investidores distinguem as empresas que realmente equilibraram as prioridades ESG e as realidades dos negócios?

Bruna Léo: É aí que a experiência de especialistas ESG no setor financeiro é importante, porque eles entendem ESG, bem como os imperativos de negócios e podem ajudar os investidores a colocar e aumentar seu patrimônio em empresas que são verdadeiramente sustentáveis não apenas de uma perspectiva ESG, mas também de uma perspectiva de modelo de negócios. Um fundo ESG é um fundo mútuo cuja carteira é investida em ações e títulos de empresas que são avaliadas em fatores ambientais, sociais e de governança. resumindo de uma forma bem simples, o que os gestores desses fundos fazem é, ao escolher as empresas nas quais irão investir, prestigiar aquelas que têm bons níveis de governança corporativa, que se destacam pela responsabilidade social e que buscam a sustentabilidade empresarial no longo prazo.

Desmistificando ESG – A questão do Meio ambiente

Bruna Boner Léo : Parte da avaliação envolve observar o impacto ambiental de uma empresa. A empresa está contribuindo para um ambiente limpo, seguindo práticas verdes? Por exemplo, suas fábricas e suas práticas e processos são amigáveis ao meio ambiente?

No caso de um fabricante de automóveis, por exemplo, ele se concentra na fabricação de veículos movidos a eletricidade ou combustíveis mais verdes, ou enfoca o baixo consumo de combustível para minimizar as emissões perigosas? Ou a empresa em questão fabrica ou usa equipamentos de tecnologia verde ou hospeda seus data centers em edifícios verdes? (se for pensar que nos dias de hoje a computação está em nuvem a preocupação faz sentido. Os grandes data centers, que reúnem servidores com alto poder de processamento, são os novos vilões do meio ambiente, por consumirem um enorme % de toda a eletricidade gerada no mundo, com crescimento de grande ao ano).

Desmistificando ESG – A questão do Social

Bruna Boner : Sobre o impacto social, a empresa investe na criação de um ambiente seguro e livre de riscos para seus funcionários? Como uma empresa capacita seu capital humano? Possui políticas para desencorajar a discriminação com base no gênero, cor, etc.?

Nos negócios, é cada vez mais expressiva a demanda por abordagens social.

Acredito que o desafio é prover segurança e privacidade aos dados de clientes, colaboradores, parceiros e fornecedores, estabelecer relações positivas com a comunidade no entorno e identificar quais setores da cadeia de suprimentos não seguem os mesmos padrões. Mas é importante igualmente ter alguns indicadores de referência como :Política de relacionamento e segurança com seus colaboradores, incluindo prevenção de assédio sexual; Diversidade e inclusão na contratação e na possibilidade de oportunidades de promoção e aumentos, Fornecimento ético da cadeia de suprimentos, como alimentos de origem responsável; Atendimento ao consumidor, capacidade de resposta do atendimento ao cliente e histórico de questões de proteção ao consumidor, incluindo ações judiciais, recalls e penalidades regulatórias; Postura pública sobre questões de justiça social

Desmistificando ESG – A questão da Governança

Bruna Boner Leo : Apesar dos três pilares serem importantes, a governança corporativa é a mais facilmente encontrada dentro das empresas atualmente por ser a responsável por olhar para a transparência e políticas de combate à corrupção, a governança é um recurso que traduz os princípios e valores de uma organização em ações que possuem um impacto positivo na gestão da empresa.

Isto refere-se à participação das lideranças. Que fique claro que sem o G de governança não haverá nem E de meio ambiente, nem o S do social.

É precisamente aí que vai haver a união dos discursos à prática das áreas técnicas de sustentabilidade, responsáveis pelos relatórios anuais, com o trabalho de divulgação de informações ao mercado das áreas de relações com investidores e finanças. A empresa cumpre todas as normas regulatórias relacionadas com poluição, pegadas de carbono, emissões, uso de substâncias perigosas em produtos e também transações financeiras? Ela segue padrões elevados de auditoria e divulgações?

A ascensão dos fundos ESG de investimentos são um grande negócio em todo o mundo e estão prontos para ficar ainda maiores e estão crescendo em popularidade. Com incertezas como inundações repentinas, ciclones e, claro, a pandemia COVID-19, tem havido um novo interesse entre os investidores institucionais em direcionar uma parte de seus fundos para negócios sustentáveis e modelos de negócios da perspectiva ESG. Isso talvez explique uma enxurrada de novos lançamentos de fundos ESG durante o ano passado (2020), mesmo com a pandemia COVID-19 continuando a exercer seu efeito devastador sobre a atividade econômica. Como os fundos ESG investem?

Em termos mais práticos, os investidores ESG analisam como as administrações e conselhos corporativos se relacionam com as diferentes partes interessadas, como o negócio é administrado e se os incentivos corporativos se alinham com o sucesso do negócio.

Os fundos selecionam empresas com base em 4 premissas:

Prestação de contas: A liderança deve prestar contas de sua atuação de forma a ter sua reputação corporativa mais consolidada. Deve assumir com diligência e responsabilidade no exercício de suas funções e papéis. A prestação de contas é umimportante pilar para empresas que esperam aumentar a confiança corporativa e ter parcerias positivas, seja com as equipes como também com parceiros externos.

Bruna Boner Leo: Afinal, quanto mais informações são disponibilizadas sobre um assunto, maior a confiança entre as partes e menos os riscos de haver hostilidade e acusações que possam denegrir a reputação da organização. Sempre recomendo a adoção de um sistema de Compliance para tomar um maior cuidado com a saúde fiscal e financeira da empresa, além de mostrar o posicionamento da empresa contra a corrupção e subornos;

Transparência: Com os stakeholders todos os interessados na companhia, disponibilizando as partes as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos.

Equidade: Uma relação de equidade entre a empresa e seus acionistas oferece uma maior garantia de que nenhuma das partes terá privilégios ou realizará ações discriminatórias. De forma mais simples, criar uma relação fundamentada pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas.

Responsabilidade Corporativa: Esse princípio, que tem como objetivo refletir sobre a imagem da empresa,leva a organização a olhar para os colaboradores, os cuidados com o meio ambiente, o respeito à comunidade em que a empresa está inserida e outros pontos similares.

Bruna Boner Leo Silva: No futuro à medida que os fatores que impulsionam o ESG preocupam cada vez mais pessoas, a importância dos investimentos em ESG só aumentará. Os investimentos feitos nessas empresas social e ambientalmente responsáveis ajudarão a criar um futuro mais seguro e melhor para as próximas gerações.