Alguns integrantes do grupo de estudantes brasileiros que precisa entrar nos EUA para as aulas em universidades decidiram ir para o México fazer uma quarentena necessária de 14 dias no país, para assim tentarem entrar nos EUA.
Em maio, o governo de Donald Trump anunciou a proibição da entrada de estrangeiros vindos do Brasil, prejudicando não só parte dos 20 mil brasileiros que estudam nos EUA e voltaram para o país de origem nessas férias, mas também os que iniciariam os estudos nesse outono.
O grupo tem cerca de 200 estudantes e foi criado por Daniel Setton, 20 anos. Segundo ele, o We The Foreigners demanda até hoje respostas do governo brasileiro quanto a uma negociação para que o governo americano os deixe entrar, assim como foi feito para estudantes da europa e outros países, por exemplo.
As aulas, inclusive presenciais, práticas e de laboratório, de alguns deles já começaram. Sem outra opção e com condições financeiras para custear a viagem até o México, resolveram tentar.
Do México, dois deles conversaram nesta terça-feira, 26, com o GN, e disseram que se juntaram a um grupo maior de estudantes brasileiros que também estão fazendo quarentena e de lá pretendem seguir para os países de destino.
Movimento pelos estudantes no BR continua
Embora eles tenham encontrado esta saída após não obterem resposta do Itamaraty, eles fazem questão de enfatizar que esta não é a realidade da maioria dos estudantes brasileiros que continuam no Brasil. "O movimento We The Foreigners continua buscando por respostas do governo em um momento de extrema necessidade, pois a maior parte que não possui condições financeiras continua presa no Brasil e precisa que o Itamaraty lute pelos seus direitos de isenção para estudantes internacionais", salienta Daniel. Ele foi um dos estudantes que decidiu ir para o México, assim como em torno de 40 ou 50 outros integrantes do grupo que ele criou. De Alagoas, Maceió, é estudante de Administração e Marketing na University of Evansville, em Indiana. Ele disse que no México tem estudante brasileiro aguardando para seguir para outros países, não só os EUA, mas também em outros lugares como Reino Unido.. "Tem uns 250 estudantes brasileiros nessa situação", contou. Daniel chegou no domingo, 23 de agosto, e está dividindo um Airbnb com outros dois estudantes do grupo. Embora tenha conseguido ir para o México para tentar entrar nos EUA, Daniel já perdeu uma semana de aulas presenciais. David Caldas é o colega de quarto de Daniel, também entrevistado pelo GN na matéria anterior. Também de Maceió, David só conheceu Daniel através do grupo e agora estão passando pela mesma jornada nada barata de retorno aos estudos. David tem 19 anos e estuda Neurociência e Antropologia Médica na Creighton University em Nebraska. Ele chegou na Cidade do México na sexta-feira passada, 21 de agosto, e já está perdendo aulas presenciais como Daniel. No seu caso, ele perdeu algumas aulas de laboratório importantes, enquanto outras conseguiu montar estratégias diferentes online com seus professores. O estudante conta que faz parte de cargos acadêmicos importantes em sua universidade e pelo atraso devido à situação da fronteira, perdeu alguns e que é difícil manter cargos que requerem presença ativa no campus.
"Nem todos conseguem"
David achou importante ressaltar que o seu caso e o de Daniel não retrata a realidade do brasileiro comum e de outros estudantes que estão precisando entrar nos EUA, e explicou que uma passagem para o México em tempos de pandemia é muito cara, por conta dos voos escassos. "Atualmente, só há um voo de São Paulo até a Cidade do México, então os gastos para quem não mora em São Paulo ficam maiores. É preciso chegar no México com a passagem para os Estados Unidos garantida, então duas passagens internacionais são despesas fora da realidade da maioria", relata. Os piores casos, segundo David, são de estudantes com pais que não têm condições de arcar com essa alternativa e lutam para conseguir manter os filhos estudando nos Estados Unidos. "Muitos estudantes têm bolsa e dependem dela, como é o caso dos atletas que não estarão presentes para se manterem ativos nos treinos e jogos para garantir sua bolsa", destaca. "O We The Foreigners, portanto, continua lutando para obter respostas do governo em relação aos direitos dos estudantes, e o número de estudantes que entra em contato com o movimento cresce a cada dia", enfatizam."Não é 100% garantido"
Embora tenha sido uma alternativa buscada por muitos brasileiros para entrar nos EUA atualmente, a advogada de imigração na Flórida, Ingrid Domingues, ressalta que não é garantia de que realmente as pessoas irão conseguir entrar nos EUA. "Eu sempre aconselho meus clientes a não viajarem, porém os brasileiros que querem vir aos EUA estão indo ao México, onde passam 14 dias e depois vêm pra cá. Geralmente entram e os que conheço entraram. Agora, não tem garantia 100% de que vão entrar", afirma.O que dizem as autoridades brasileiras e dos EUA
Em contato com o Itamaraty, a informação dada na terça-feira, 18, é de que “o governo brasileiro está em permanente contato com as autoridades norte-americanas em busca de soluções para esses e outros casos decorrentes de restrições migratórias e sanitárias impostas durante a pandemia de COVID-19. É necessário, porém, compreender que, em todo o mundo, a autorização de ingresso em território de país estrangeiro é competência exclusiva e soberana das autoridades imigratórias do respectivo país”. Mas até o momento, não houve decisão concreta sobre a entrada dos estudantes. Veja abaixo, o vídeo no qual o grupo de estudantes faz um apelo às autoridades brasileiras:*Reportagem da estagiária Ana Carolina Aguiar com colaboração e supervisão de Arlaine Castro.
