Área metropolitana da Flórida é a 5ª em população imigrante indocumentada dos EUA
Segundo o relatório, 21,2% da população de 65 anos ou mais da Flórida é nascida no exterior, um número significativamente maior que a média de 13,1% dos EUA. Com pouco mais de 800.000, sendo 90.000 indocumentados, indicam os dados, o número total de imigrantes com mais de 65 anos na Flórida fica atrás apenas dos 1,6 milhões da Califórnia. Segundo o relatório, a maioria dos residentes estrangeiros mais velhos vive nas grandes cidades e nos arredores. A área metropolitana de Miami-Fort Lauderdale-West Palm Beach ocupa a terceira posição no país, atrás das áreas de Nova York e Los Angeles, com quase 475.000 idosos nascidos no exterior. Também dentro das 25 principais áreas metropolitanas estão a região de Tampa Bay (76.517 idosos nascidos no exterior) e a área de Orlando (60.732). Prestes a completar 66 anos de uma forma bem ativa, a brasileira Silvia Talpo mora em Lantana, cidade no condado de Palm Beach e conta que trabalha por conta própria com limpeza de casas. Gosta de ser independente e no dia que parar, vai adoecer. "Trabalho porque gosto e, por ser independente, não quero ainda a ajuda financeira de meus dois filhos. Tenho minhas contas e gosto de ganhar com meu trabalho para pagá-las. Me sinto feliz assim. Dirijo todos os dias 25, até 40 milhas para cada casa que vou e me sinto autossuficiente, se parar de trabalhar acho que vou adoecer", menciona.Quase 20% da população da Flórida são imigrantes
Apesar de já ser aposentada no Brasil, Talpo enfatiza que quer continuar trabalhando e ainda não pensou sobre aposentadoria aqui nos EUA. "Quero seguir trabalhando no que sei e gosto de fazer. Não pensei ainda em me aposentar aqui, sou aposentada no Brasil com um salário mínimo e aqui, enquanto tiver energia, sigo trabalhando", destaca.Perfil socioeconômico e força de trabalho
De acordo com o estudo, os idosos nascidos no exterior também têm maior probabilidade de viver na pobreza do que os idosos nascidos nos EUA, embora ambos os grupos tenham taxas de participação semelhantes na força de trabalho. Grande parte dos idosos imigrantes permanece trabalhando até o fim da vida ou até quando a saúde lhes permite. Assim é para a engenheira mecânica aposentada Edina Makinodam, 64 anos, que mora há 4 anos em Pompano Beach e vive uma rotina ativa de muito trabalho. "De segunda a sábado, trabalho na cozinha de um restaurante grego e após o horário, atuo como cabeleireira em casa. Ah, também faço reparos em roupas", detalha. Descendente de japoneses, Makinodam morava em São Paulo, mas por causa do filho, decidiu vir para a Flórida. "Hoje estou aqui na América pelo meu filho, o futuro agora é dele, ele é game master, já trabalha, mas prefiro ficar perto", conta. E acrescenta que, morando no exterior, também fica mais fácil para ajudar a família no Brasil.Saúde e cuidados - idosos imigrantes mais vulneráveis
Para profissionais da área da saúde, a diferença cultural influencia no cuidado dos imigrantes com a saúde, principalmente na terceira idade. São mais desafios que a população imigrante mais velha enfrenta, como a barreira imposta pela língua diferente e a falta de conhecimento sobre como funciona o sistema de saúde americano.Cidades da Flórida estão entre as que mais aumentaram a população em 2016
“Eu acho que eles têm muitas desvantagens. Existe a barreira do idioma, mas também o fato de eles não saberem como navegar no sistema. Eles não sabem que recursos existem, que oportunidades existem ", disse ao Miami Herald a nutricionista Leyanee Perez, que participa de feiras de saúde para idosos imigrantes como a do Santuário de Nossa Senhora da Caridade (ou a Ermita de la Caridad, como é mais comum em espanhol), em Miami-Dade. "Eles são mais vulneráveis ??do que outras pessoas americanas", completa. Os hispânicos representam cerca de dois terços dos idosos do condado de Miami-Dade, segundo o censo. Com o costume de cuidados em casa pela própria família nos países latino-americanos, o fato de idosos irem para centros específicos de cuidados para essa população, assusta um pouco. Sobre viver a terceira idade na Flórida, Makinodam diz que só vê pontos positivos e salienta que ter uma vida ativa, ajuda na saúde. "Adoro trabalhar, já sou aposentada no Brasil tem muitos anos. Sempre fui muito ativa. Fui praticante de karatê por seis anos, era 'rata' de academia e sempre vivo no meio dos mais jovens até hoje! E nessa idade, morar em um país de primeiro mundo é bem melhor ", conta.Sul da Flórida é a quinta área metropolitana com maior população indocumentada
Outro brasileiro nessa faixa etária é o paulista Pedro Ferrari. Na Flórida desde 2007, mas com boa parte da vida nos Estados Unidos, ele ainda trabalha com construção e diz que não vê a hora de completar 65 anos para poder se aposentar. O que será no ano que vem, segundo ele. "A vida aqui nesta faixa etária é boa sim. A Flórida tem facilidade para tudo, eu acho. Trabalho porque preciso, tenho contas a pagar. Mas no próximo ano, completo 65 anos e vou me aposentar", diz. Natural de São José do Rio Pardo, SP, e morando nos EUA há 23 anos, antes em Nova York, Ferrari diz que, apesar da qualidade de vida na Flórida, também pensa em voltar para o Brasil. "Por quê? Bateu vontade, mas tenho que estar sempre aqui (EUA) por causa dos filhos e netos", imagina.Indocumentados
Se para residentes imigrantes idosos já existem desafios, para os que estão acima dos 60 anos e são indocumentados então, suas perspectivas de saúde se tornam mais complicadas. De um modo geral, segundo a pesquisa, os idosos sem documentos não têm seguro de saúde, o que significa que a maioria recorre a centros de saúde comunitários gratuitos que acabam mal equipados para prestar cuidados extensivos, por exemplo. E embora os idosos indocumentados sejam afetados pelos mesmos problemas crônicos que muitos em sua faixa etária experimentam, eles também precisam enfrentar os efeitos adversos de terem passado décadas trabalhando em condições fisicamente difíceis.Brasileiros idosos na Flórida
A respeito da população imigrante idosa brasileira, o Consulado do Brasil em Miami diz que não possui um número exato tendo em vista que muitos brasileiros não informam a permanência na Flórida. Assim, o órgão se baseia também em relatórios do governo americano e dados do censo. Para uma visão geral, embora pequena, em 2018, foram emitidos pelo Consulado em Miami, 2.717 atestados de vida (prova que idosos precisam fazer junto ao INSS ou ao Consulado de que se está vivo para recebimento do INSS) e neste ano, de janeiro até hoje, foram 2.272. Leia tambémPopulação imigrante garante centenas de milhões à economia da Flórida