China condena jornalista que cobriu surto de COVID-19 em Wuhan

Por Arlaine Castro

a Zhang Zhan, 37, uma ex-advogada que se tornou ativista e jornalista, foi condenada a quatro anos de prisão.

O governo da China condenou a quatro anos de prisão Zhang Zhan, 37, anos, uma jornalista que documentou o desespero dos moradores de Wuhan no auge do surto de coronavírus. O veredicto foi dado nesta segunda-feira, 28, em um caso que destacou a extrema sensibilidade de Pequim às críticas de sua resposta à pandemia. As informações são da Associated Press. 

Em um julgamento a portas fechadas que durou menos de três horas, autoridades em Xangai proferiram a sentença a Zhang Zhan, que é ex-advogada e se tornou ativista e jornalista, por "provocar problemas", uma acusação frequentemente usada contra dissidentes.

Zhang é uma das várias jornalistas cidadãs detidas por fazer reportagens sobre Wuhan, mas a primeira a ser condenada à prisão. Ela viajou para Wuhan em fevereiro, onde filmou hospitais, bairros e centros comunitários lotados. Seus relatórios críticos acusando o governo de suprimir as vozes dos cidadãos comuns e de não informar os moradores sobre a realidade da situação contrastavam com a cobertura otimista da mídia estatal, uma das poucas fontes de informação. Zhang foi detida em maio.

"(Ela) parecia muito abatida quando a sentença foi anunciada", declarou à AFP um de seus advogados, Ren Quanniu, que expressou "muita preocupação" com o estado psicológico da cliente. "Quando a vi na semana passada, ela afirmou: 'Se receber uma sentença pesada, vou recusar qualquer alimento até o fim'. Ela acredita que vai morrer na prisão", explicou à AFP outro advogado de defesa, Zhang Keke.

As autoridades chinesas costumam realizar julgamentos delicados envolvendo ativistas de direitos humanos durante a temporada de férias, quando grande parte do resto do mundo está distraída. Os procedimentos, anunciados com pouca antecedência, são quase sempre mantidos em segredo.

Em outro caso, 10 dos chamados "12 de manifestantes de Hong Kong" pegos no mar enquanto tentavam fugir da repressão em sua cidade foram julgados na cidade chinesa de Shenzhen na segunda-feira. Durante os procedimentos de Zhang na segunda-feira, a ativista teve a chance de falar. "O governo não deve censurar o discurso de seus cidadãos", disse ela, de acordo com seu advogado, Zhang Keke.

Grupos de direitos humanos e amigos de Zhang estão preocupados com sua saúde sob custódia. Em greve de fome desde junho, ela foi alimentada à força por meio de um tubo e colocada sob controle. Ela se comprometeu a continuar sua greve de fome, segundo seu advogado, apesar dos apelos de familiares e amigos. Os defensores dizem que ela foi tratada com mais severidade por se recusar a cooperar ou admitir sua culpa.

Seu veredito surge antes de uma missão à China liderada pela Organização Mundial da Saúde para investigar as origens do vírus, um tópico politicamente tenso, já que o governo Trump e outros críticos dizem que Pequim deve assumir a responsabilidade pela pandemia que já atingiu mais de 1,7 milhão de vidas.

"Isso mostra que nunca saberemos a verdade sobre a pandemia", disse Leo Lan, um consultor de pesquisa e advocacia da Chinese Human Rights Defenders. "A sentença de Zhang Zhan terá um efeito dissuasor de silenciar outras pessoas que testemunharam o que aconteceu em Wuhan no início deste ano".

Do lado de fora do Tribunal Popular do Novo Distrito de Shanghai Pudong, onde Zhang foi julgada, a polícia empurrou repórteres e simpatizantes para longe do prédio, prendendo pelo menos nove pessoas. Nas redes sociais, ativistas postaram fotos de Zhang e cartazes com os dizeres: "Zhang Zhan inocente", conclamando a comunidade internacional a prestar atenção em seu caso.