Refugiado no Brasil desde 2014, afegão vê futuro incerto do seu país

Por Agência Brasil

Refugiado no Brasil desde 2014, afegão vê futuro incerto do seu país

Jabir largou sua vida no Afeganistão e veio sozinho para o Brasil em 2014. Na época, ele trabalhava como eletricista para as forças de ocupação e começou a se preocupar com boatos de que os militares dos Estados Unidos (EUA) deixariam o país.

"Estava com medo. Decidi não ficar mais. Consegui tirar um visto. Fui para Dubai e de Dubai vim para o Brasil", diz Jabir. Seu sobrenome é mantido em sigilo, já que sua família ainda vive na capital afegã Cabul, agora controlada pelo Talibã.

O receio do afegão acabou se tornando realidade sete anos depois. Com a saída das tropas dos EUA e com o Talibã reestabelecendo seu domínio, Jabir vê o futuro do país carregado de incertezas e teme por seus familiares. Ele tem mantido contato frequente com um de seus irmãos.

"Minha família está bem. Meus irmãos e pais estão em casa. Não querem sair. As pessoas que trabalhavam para o governo anterior estão preocupadas. O Talibã falou que não fará nada com eles, mas não há garantia", avalia. Segundo Jabir, a maioria das mulheres deixaram de sair de casa para trabalhar e, com os bancos fechados, algumas pessoas enfrentam dificuldades econômicas.

O temor com o Talibã decorre das ações do grupo entre 1996 e 2001, período em que governaram o Afeganistão. Formado por fundamentalistas religiosos, o grupo aplicou sua interpretação da Sharia, a lei islâmica. Um violento sistema judicial foi implantado: pessoas acusadas de adultério podiam ser condenadas à morte e suspeitos de roubo sofriam punições físicas e até mesmo mutilações. O uso de barba se tornou obrigatório para os homens e as mulheres não poderiam ser vistas publicamente desacompanhadas dos maridos. Além disso, elas precisavam vestir a burca, cobrindo todo o corpo. Televisão, música e cinema foram proibidos e as meninas não podiam frequentar a escola.

A ocupação dos EUA foi uma reação aos ataques às duas torres gêmeas do World Trade Center, arranha-céus situados em Nova York. Dois aviões atingiram os edifícios em 11 de setembro de 2001, levando-os ao chão e causando quase 3 mil mortes. No mês seguinte, os EUA iniciaram as operações militares no Afeganistão, acusando o Talibã de dar abrigo ao grupo terrorista Al Qaeda, que assumiu a autoria do atentado.

Foram 20 anos de ocupação, encerrada através de um processo que gerou críticas ao governo norte-americano: imagens que mostram milhares de civis desesperados para deixar o país se aglomerando no aeroporto rodaram o mundo na segunda-feira (16) e a rápida retomada do poder pelo Talibã tem gerado questionamentos ao presidente dos EUA, Joe Biden.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), aponta o risco de uma grande crise humanitária de deslocamento forçado. O Afeganistão já é, atualmente, a terceira maior origem de pessoas refugiadas no mundo, atrás apenas da Síria e da Venezuela. De acordo com a última edição do relatório anual Tendências Globais do Acnur, publicado no final de 2020, há 2,6 milhões de pessoas que saíram do país em busca de proteção internacional. Segundo a agência, o cenário de insegurança já teria levado ao deslocamento de cerca de 550 mil pessoas apenas neste ano, sendo 390 mil desde maio.