Quais as mulheres afetadas pela restrição ao aborto?

De acordo com o CDC, em 2020, a taxa de mortalidade materna para mulheres negras não hispânicas foi quase três vezes maior do que a taxa para mulheres brancas não hispânicas.

Por POR | ARLAINE CASTRO

Há uma preocupação particular com mulheres de minorias étnicas que são desproporcionalmente representadas nas estatísticas de aborto nos Estados Unidos.

Os negros representam 13% da população dos EUA, mas as mulheres negras constituem mais de um terço dos abortos relatados no país, e as mulheres hispânicas cerca de um quinto.

As mulheres mais pobres são mais propensas a procurar um aborto, revelam os dados, e as mulheres de minorias étnicas são mais afetadas pela desigualdade de renda. Além disso, a diferença de riqueza entre grupos brancos e não brancos está aumentando nas últimas décadas entre a população dos EUA.

Os juízes da Suprema Corte dos EUA anularam a decisão conhecida como Roe versus Wade, que em 1973 estabeleceu o direito da mulher ao aborto nos EUA. O aborto não se torna imediatamente ilegal em todo o país - em vez disso, cabe a cada Estado decidir qual acesso ao procedimento médico as mulheres teriam em seu território.

O Instituto Guttmacher, um grupo de pesquisa pró-escolha, prevê que, com a derrubada da Roe versus Wade, o aborto pode ser proibido ou restringido em 26 estados - afetando mais da metade da população em idade fértil.

E as mulheres mais pobres, assim como as afro-americanas, sofreriam o impacto, pois estes grupos são mais propensos a buscar um aborto, de acordo com registros oficiais.

Kathaleen Pittman, que trabalha como administradora da clínica de Louisiana, diz que a pobreza é a principal razão citada pelas mulheres ao interromper a gravidez. A maioria das clientes atendidas pela clínica paga pelo procedimento com fundos de organizações sem fins lucrativos.

A maioria já tem um ou mais filhos em casa, diz Kathaleen - em linha com estatísticas nacionais, que mostram que seis em cada 10 mulheres que abortam já são mães, segundo dados de 2019 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

"Só ver as mulheres na clínica é muito revelador. Todos os dias ouvimos de mulheres que têm que cancelar sua consulta porque o transporte falhou, a creche falhou... Qualquer dia perdido no trabalho para muitas dessas famílias é um problema real."

Se o aborto se tornar ilegal na Louisiana, Kathaleen teme o pior: "Vamos ver mais pobreza, mais mortes". As desigualdades de saúde para pacientes de baixa renda e grupos étnicos minoritários já são prevalentes.

De acordo com o CDC, em 2020, a taxa de mortalidade materna para mulheres negras não hispânicas foi quase três vezes maior do que a taxa para mulheres brancas não hispânicas.

Nos últimos dez anos, menos mulheres fizeram abortos nos EUA, de acordo com estatísticas do CDC - os procedimentos relatados caíram quase 18% entre 2010 e 2019.

Pelo menos 13 Estados em todo o país já têm leis que proibiriam ou restringiriam o aborto após o anúncio da decisão da Suprema Corte dos EUA.

Na Louisiana, a proibição viria imediatamente. A exceção seria para emergências médicas graves ou com risco de vida.

Mais da metade da população negra nos EUA vive no Sul, onde em muitos estados os legisladores já criaram leis ou emendas para restringir o aborto de diferentes maneiras — por exemplo, impondo ultrassonografias obrigatórias, aconselhamento estatal ou períodos de espera antes do procedimento poder ser realizado.

Embora Roe versus Wade tenha estabelecido o direito ao aborto, não removeu as barreiras financeiras e logísticas para mulheres negras abortarem.

Texto: Lara Owen - BBC 100 Women.