Trump x Biden - Mais do mesmo em 2024?

Nenhum dos dois principais concorrentes têm o fator mistério entre os eleitores. Pelo contrário, ambos já acumulam desgastes.

Por POR | ARLAINE CASTRO

A falta de frescor da próxima eleição presidencial parece não agradar os eleitores norte-americanos. Pelo menos por ora, o cenário delineado para 2024 se assemelha muito ao de 2020, só que bem mais deteriorado. O presidente, Joe Biden, já se apresentou como o candidato à reeleição pelo Partido Democrata, e, no momento em que escrevo, o nome mais forte do Partido Republicano é o do antecessor de Biden, Donald Trump, que perdeu a disputa eleitoral quando ainda tinha a máquina pública na mão. Biden, no entanto, sai na frente em três cenários, mas com uma vantagem apertadíssima. Os dois nomes não trazem nada novo e falam em "terminar o trabalho que começaram".

Além de 54% dos entrevistados desaprovarem a gestão atual, segundo o levantamento da Ipsos, pesa contra o presidente a sua idade. Apesar de ser apenas três anos mais velho que seu principal oponente, Biden, de 80 anos, tem seu vigor questionado por já ser o governante mais velho da história. Por consequência, esse temor joga parte das atenções à vice-presidente, Kamala Harris, pois eventualmente seria ela a Madam President.

Ainda assim, seria pior se Biden não concorresse à eleição, já que a possibilidade de emplacar um sucessor seria menor ainda. Explico: a Ipsos desenvolveu um modelo estatístico com base em pesquisas eleitorais feitas no mundo todo para avaliar a probabilidade de reeleição de um candidato, baseada na sua taxa de aprovação.

Por exemplo, se um presidente tiver 60% de aprovação com relação ao seu governo, sua chance de ser reeleito é de 98% ou a de conseguir eleger seu sucessor é de 71%. A aprovação de Biden está em 41%, o que lhe dá, mais ou menos, 55% de chance de se reeleger ou de 6% de emplacar um sucessor da sua escolha.

Voltando à pesquisa eleitoral feita com 4.415 pessoas no último mês, em um cenário Biden vs. Trump, 38% preferem Biden, contra 36% de Trump. Se fosse Biden vs. DeSantis, Biden teria 37%, mas seu principal adversário estaria a uma distância ligeiramente maior, com seus 33%. Já em uma possibilidade de DeSantis ser o candidato republicano, enquanto Trump sairia como independente, o cenário é: Biden, 37%; DeSantis 19% e Trump 22%. Isso não significa que o eleitor americano está satisfeito com as opções postas à mesa.

Nenhum dos dois principais concorrentes têm o fator mistério entre os eleitores. Pelo contrário, ambos já acumulam desgastes. Enquanto Biden tem em suas costas questões administrativas, como a saída do Afeganistão, a economia afetada pelo aumento de juros tardio e o descontentamento dos eleitores negros - foram fundamentais para a vitória em 2020 - que não se sentem contemplados pelas políticas governamentais, Trump, por sua vez, está manchado por escândalos mais graves.

Ele, que em abril já havia se tornado o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a virar réu pelo Estado de Nova York em caso criminal por ser acusado de pagar propina pelo silêncio de duas mulheres que alegam ter tido um affair com ele e de maquiar contas eleitorais, se tornou réu pela segunda vez, agora em nível federal, em junho, por estar em posse de documentos secretos do governo após sua saída da Presidência.

O apoio a Trump entre os republicanos, porém, não se abalou com as condenações. Contudo, é de certa forma justificável, já que o modus operandi do ex-presidente é o da pós-verdade. A Ipsos perguntou se as pessoas acreditavam que o ex-presidente removeu ilegalmente os documentos da Casa Branca e as guardou em sua casa em Mar-a-Lago. Enquanto, no geral, 27% dos entrevistados não acreditavam nisso, dentre os que não acreditavam 58% eram republicanos.

Texto: Marcos Calliari - Revista Exame