Se meu computador estiver com vírus ou se houver um vazamento no meu banheiro, vou dizer, desanimada: “Não vejo solução”. De fato, se depender dos meus conhecimentos para resolver esse tipo de coisas, só me resta por as mãos na cabeça, sentar no meio-fio da calçada e me deprimir.
E, por uma razão muito simples: sou ignorante sobre o assunto! É a minha ignorância que me impede de enxergar uma solução para tirar vírus de computador e consertar vazamento de banheiro. Como assumo essa minha limitação sem vergonha alguma, no lugar de me desesperar, vou procurar por alguém que entenda do assunto e possa me ajudar.
A mesmíssima coisa acontece com as questões psicológicas. São elas: dificuldades nas relações de casal, de trabalho, de amizade, de irmandade, problemas de autoestima, comportamento, dúvida, crises, raiva, tristeza, depressão, ansiedade, criação de filhos... enfim, todos os conflitos e dores internos e externos. Para tudo há uma solução. E a encontra quem se dispuser a buscá-la, porque assim como o meu técnico de computador não vai cair do céu, a menos que eu o chame e o pague, também esse tipo de problemas não se resolvem rezando ou dormindo.
Infelizmente, ainda estamos numa época materialista. Se é óbvio para todo mundo que uma televisão quebrada precisa de um técnico, não é óbvio que precisamos de ajuda quando temos questões interiores e exteriores pendentes?
Mas, mo máximo, conversamos com um ou dois amigos e trocamos seis por meia-dúzia. Mas parece difícil atentar para um fato simples: que nossos instrumentos de compreensão são limitados, por isso concluímos: “não tem solução”. Mentira: tem solução.
Falta conhecimento, ponto de vista certo e disposição para verdadeiramente mudar. Falta a humilde aceitação de que não temos todos os dados nem todos os instrumentos para compreender, resolver, superar. Falta a visão de conjunto, faltam detalhes importantes que permitem resolver um problema de ordem relacional, existencial e espiritual.
Para completar, ou melhor, para piorar a questão, existe um fato chamado negação. Se diante de uma televisão quebrada ou de um computador com vírus todos reconhecem que há um problema, quando se trata de algo psicológico, interior, pessoal, de comportamento e de relação existe a escapatória, que consiste em negar que haja qualquer problema.
O que claramente faz com que a situação não tenha solução. Por que a pessoa nega? Por um lado, porque sua autoestima é tão baixa, se reconhecer um problema seu se sentirá um zero à esquerda e/ou não conseguirá acreditar em sua capacidade de resolver qualquer coisa. Por outro lado, o interesse em manter a situação do jeito que está pode causar maior desconforto que a própria situação. Ou seja, malandragem psicológica. E, como se quer manter a fachada da pessoa de bem, ou “certa”, o problema é negado.
Entretanto, mesmo nesses casos há sempre alguma solução para os que convivem com esse tipo de pessoas. A forma como nos relacionamos com uns e outros modifica uns e outros. Já fazemos isso, sem querer ou com intenções pouco nobres. Podemos utilizar esse recurso dentro de uma estratégia construtiva voltada para a saúde mental, emocional e espiritual nossa e do ambiente no qual vivemos, no lugar de endossar a impunidade. Novamente, depende de nós.
Então, antes de concluir que “não há solução” vamos ser honestos e humildes o suficiente para reconhecer nossos limites e poder assim buscar ajuda para nos tornarmos pessoas melhores, ou seja mais sábias, fortes, inteiras e construtivas. Toda crise é também uma oportunidade para dar um salto para frente e para o alto. Carpe Diem!