A Persona é um conceito junguiano útil e prático, e facilmente compreensível.
A adaptação ao mundo nos exige determinado "formato", ou seja, um conjunto de atitudes, escolhas, crenças, sentimentos e pensamentos. Esta "configuração" é necessária para nos encaixarmos no ambiente no qual nascemos e vivemos. Ela se realiza desde a primeira infância de forma totalmente inconsciente, sendo o resultado do encontro e desencontro entre o que tem fora (as relações nas quais estamos inseridos) e o que tem dentro (nossa constituição psicológica).
Desde muito cedo as crianças são educadas abertamente e sobretudo orientadas e encaminhadas
por vários meios na direção de um determinado "modo de ser". É considerado "normal" esperar que os filhos se adaptem à imagem que seus pais têm em suas cabeças sobre como eles deveriam ser, imagem que existe, provavelmente, desde muitos antes do nascimento dos filhos.
O que é ser filho já está impresso inconscientemente nos pais graças à sua própria criação, história, pais, desejos realizados e não.
A criança estará possivelmente carregando esta "armadura" de uma tonelada sobre seu ser em desenvolvimento, tendo muitas vezes algumas compreensíveis dificuldades respiratórias (simbólicas ou físicas), sobretudo quando o modelo proposto pelos pais está muito longe do que ela tem em si de forma inata.
Na escola irá encontrar uma segunda série de modelos - templates - para ter seu ser formatado.
É evidente que irão instintivamente escolher os modelos que levam adiante o que aprenderam em casa ou, ao contrário, que estão em direta oposição aos familiares, no caso em que seu ser lá no fundo do peito ainda berre para ser ouvido. Mesmo assim, não o será realmente, porque modelos, por natureza, são limitados...
Uma vez crescidas, já domesticadas e moldadas, as crianças agora jovens adultos irão escolher as profissões que personificam o modelo ou parte dele, ou ainda as aspirações inerentes ao modelo - sendo a derradeira tentativa de se compreender a escolha de fazer psicologia na faculdade, o que também funciona relativamente...
A Persona é o produto final de uma série de adaptações entre o que o mundo de fora exige, começando pelos pais, e o que temos dentro de nós. O resultado não é sempre dos melhores.
Por exemplo, a pessoa que sofreu uma grande repressão em casa terminará identificando-se com o modelo repressor, ou então tornar-se-á um rebelde, desperdiçará boa parte de sua juventude até ser forçado a baixar a cabeça e a se encaixar no sistema; ou ainda parecerá um "desadaptado", uma pessoa que mesmo talentosa não alcança a realização que poderia, ou que demora para encontrar seu caminho profissional e que mantém uma atitude infantil perante o mundo.
A Persona tem sempre base em algumas características de nossa personalidade, nem sempre porém reveladas em sua melhor forma. Um ingrediente que numa comida é formidável em outra ou em dose excessiva ganha um sabor horroroso. Por isso, precisamos sempre considerar o contexto para obtermos uma perspectiva que faça jus à realidade única de cada pessoa e à sua verdade.
Concluindo, a Persona é a "máscara" com a qual entramos no teatro do mundo. Sua mais poderosa justificativa de ser é que precisamos ser aceitos para pertencer ao grupo, desde a família até a sociedade. Queremos também ser amados e quem sabe termos sucesso. Desejos esses legítimos. Mas o preço que pagamos é termos partes de nós amputadas.
A parcial verdade que a Persona incarna é destruída pela sua própria parcialidade. E é então que perdemos "a alma do negócio", e nós mesmos.