Como foi a transição da comédia para o drama?
Pablo Solarz -
Eu sempre gostei de experimentar gêneros. Desde os anos 90, quando eu estava fazendo teatro, eu ficava indo da tragédia para a comédia e da tragicomédia para o melodrama. Eu não acredito na existência de gêneros maiores ou menores. Uma história é uma história e, se eu sinto, ou se me apaixono o suficiente para decidir contá-la, ou para espalhar suas emoções, eu entro de cabeça no gênero sem problemas. Para mim, eu me sinto mais “confortável" com a comédia e tragédia.Qual foi a inspiração para o roteiro?
Pablo –
O ódio que meu avô paterno sentia pela Polônia e pelos poloneses. O silêncio que ficava na minha infância quando fazia perguntas à minha família sobre o assunto, algumas matérias que li ou histórias que escutei sobre o holocausto, os sobreviventes, e os reencontros depois de décadas. E também o amor por alguns artistas polacos, o desejo de sair da ignorância que reinava no meu ambiente familiar sobre o assunto, porque eles não podiam enxergar a verdadeira realidade devido à imensa dor.Por que você escolheu o ator Miguel Ángel Solá?
Pablo –
Quando percebi que tinha que trabalhar com um ator muito mais jovem que a personagem e envelhece-lo, já logo pensei em Solá; simplesmente porque ele é o melhor ator argentino (e possivelmente ibero-americano) de sua geração.Como foi a caracterização de Miguel para interpretar Abraham, já que Miguel é mais jovem que a personagem?
Pablo –
Muito difícil e trabalhosa. Duas horas de maquiagem por dia, muito latex em seu rosto que incomodava e coçava demais, produtos químicos no cabelo que queimaram o couro cabeludo, além da impressionante caracterização física e vocal. Muitos contratempos e desconfortos, mas tudo isso levou à interpretação maravilhosa que Solá conseguiu fazer dessa personagem, o Abraham Bursztein.Quais foram as dificuldades para realizar esse filme?
Pablo –
Houve muitos. Foram anos de trabalho para conseguir uma versão do roteiro que juntasse tudo o que eu queria, em quatro territórios diferentes, financiar e produzir. Existiu um impressionante trabalho de logística na pré-produção e na fotografia do longa. Cenas filmadas em dois países diferentes, vários idiomas, mudanças constantes na equipe técnica, a dificuldade de encontrar uma menina de oito anos capaz de falar em ídiche (idioma que praticamente não é mais ensinada em nenhuma escola do mundo).As personagens femininas são fortes. Como foi trabalhar com Angela Molina, Natalia Verbeke e Olga Boladz?
Pablo –
Três grandes mulheres. Três grandes atrizes. Todas diferentes, mas que compartilham da mesma paixão pelo trabalho e talentosas. Natalia só participou de uma cena, mas acho que ela fez uma grande diferença e deixa uma marca emocional muito forte em sua contribuição pequena e imensa ao mesmo tempo. Ángela é uma diva, uma professora na atuação que já trabalhou em mais de cem filmes com diretores do porte como Luis Buñel, e me ensinou muito e se mostrou capaz de colocar todo o seu talento à disposição dos outros atores, já que neste longa ela era coadjuvante. Sem dúvida, acrescentou muito a equipe e o filme. E Olga... só posso dizer que apenas ao enquadrá-la, há uma história, preenche a tela, como um imã que atrai, que captura. Há algo em seu olhar, em sua voz, em sua maneira de interpretar, que é incrível, orgânica, quase sem esforço. Eu adoraria e gostaria de ter outra oportunidade de trabalhar com Olga Boladz novamente.