O governo dos Estados Unidos impôs uma série de mudanças que endurecem o processo de obtenção de cidadania e vistos. A partir de 25 de outubro, imigrantes que desejarem se tornar cidadãos americanos enfrentarão uma prova de naturalização mais exigente, ao mesmo tempo em que novas regras passam a afetar solicitantes de diferentes tipos de vistos, incluindo os de turismo, negócios e trabalho especializado.
De acordo com o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS), o exame de cidadania voltará a ter a versão considerada mais difícil, inicialmente introduzida em 2020. A base de questões passará de 100 para 128 perguntas sobre história e governo do país, sendo que o candidato precisará responder corretamente 12 de 20 questões apresentadas durante a entrevista — antes eram 6 de 10. Apenas idosos com mais de 65 anos e pelo menos 20 anos de residência legal terão direito a uma prova reduzida. O USCIS afirmou que a medida busca assegurar que apenas estrangeiros plenamente comprometidos com os "valores americanos" recebam a cidadania.
Além da prova, outras etapas também ficaram mais rigorosas: verificações de antecedentes ampliadas, maior controle sobre isenções médicas, investigações de vizinhança e avaliações mais duras sobre a "boa conduta moral" do candidato. Especialistas alertam que milhares de imigrantes podem precisar de mais tempo de preparação e correm o risco de atrasar o processo ou arcar com custos adicionais caso falhem na primeira tentativa.
US$ 100 mil
é o valor para novas solicitações de H-1B
A advogada de imigração Haydee Nascimento explicou que apenas imigrantes com green card há cinco anos, ou três anos no caso de casamento com cidadão americano, podem se candidatar à cidadania. Além disso, é necessário comprovar residir pelo menos metade do ano nos Estados Unidos e manter vínculos com o país, como contribuições ao imposto de renda. A especialista destacou que a regra não exige a renúncia à cidadania brasileira, permitindo que o imigrante mantenha dupla nacionalidade.
Sobre as vantagens, Nascimento enfatizou benefícios como o passaporte americano, que permite entrada sem visto em diversos países, o direito de votar em eleições de cargos especiais e maior proteção contra deportações. Ela ressaltou ainda que quem tiver o pedido protocolado antes da data de implementação da nova prova fará o teste antigo. "Quando você qualifica para a cidadania, é importante aplicar, até porque agora eu imagino que a fila vai crescer bastante", afirmou a advogada.
As mudanças não se limitam à cidadania. A partir de 1º de outubro, solicitantes de visto com menos de 14 anos e acima de 79 também terão que passar por entrevistas presenciais, etapa antes dispensada. A regra vale para todos os países, incluindo o Brasil, embora algumas exceções permaneçam, como renovações recentes de vistos de turismo/negócios e categorias diplomáticas. Ainda assim, consulados poderão convocar entrevistas adicionais sempre que julgarem necessário.
Outra alteração em discussão é a chamada Visa Integrity Fee, taxa extra de US$ 250 que elevará o custo do visto comum para US$ 435. Já no setor de vistos de trabalho, a medida mais polêmica é a cobrança de US$ 100 mil para novas solicitações de H-1B, programa que há décadas garante mão de obra qualificada para empresas de tecnologia, finanças e saúde. Embora a Casa Branca tenha esclarecido que a cobrança não se aplica a atuais detentores do visto, a incerteza levou companhias como Google e Microsoft a recomendar que seus funcionários estrangeiros evitem viagens internacionais até que haja maior clareza.
O governo Trump defende as medidas como parte de uma estratégia para "proteger trabalhadores americanos" e reduzir o uso abusivo dos programas de imigração. Contudo, advogados e associações do setor alertam que o impacto pode ser profundo, desestimulando empresas a contratar estrangeiros altamente qualificados e criando obstáculos adicionais para famílias e trabalhadores que buscam viver legalmente nos Estados Unidos.

