Os Estados Unidos e as forças internacionais precisam "repensar" sua estratégia para derrotar grupos extremistas, segundo o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai.
Em entrevista à BBC, ele disse que é preciso se concentrar nas "fontes do terrorismo" onde os extremistas adquirem seu treinamento e inspiração.
"Nós, a comunidade internacional e a coalizão (liderada pelos Estados Unidos, que enviou tropas para o Afeganistão) devemos sentar, reavaliar e repensar se a estratégia que adotamos para derrotar o terrorismo é a correta", disse Karzai.
"Acredito que temos que ir às suas fontes, onde os terroristas são treinados, onde terroristas são estimulados."
Karzai negou que estava falando especificamente do Paquistão, de onde militantes islâmicos freqüentemente estariam lançando ataques sobre o Afeganistão.
No entanto, autoridades do governo do Afeganistão já fizeram afirmações semelhantes em referência ao país vizinho, segundo o correspondente da BBC em Cabul Andrew North.
Muro
A violência, de forma geral atribuída à milícia Talebã, provocou a morte de 1 mil pessoas no ano passado no Afeganistão, o maior número de mortos desde 2001, quando o país foi invadido pelas forças de coalizão internacional lideradas pelos Estados Unidos.
Em Nova York, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Khurshid Kasuri, disse que seu país se propõe a construir um muro ao longo da fronteira com o Afeganistão para conter os movimentos dos militantes e de traficantes de drogas.
Kasuri disse em entrevista em Nova York que essa proposta foi apresentada pelo presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, em encontro com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.
Ele rejeitou acusações de que o Paquistão não estava fazendo o bastante para reprimir o Talebã e seus aliados.
Eleições
No próximo domingo, pela primeira vez em 30 anos, o Afeganistão realizará eleições parlamentares.
Karzai rejeitou na entrevista à BBC as críticas de que muitos candidatos considerados comandantes de milícias locais tiveram permissão para concorrer nas eleições.
"Agora, temos liberdade de escolha. Se eu considero que alguém é um criminoso, não voto nele ou nela", disse.
"O mesmo pode ser feito por todos os afegãos. Portanto, devemos usar nosso julgamento e votar na pessoa certa."
Corrupção
Karzai também disse que gostaria que a comunidade internacional tivesse feito mais doações para reconstrução do Afeganistão nos últimos 3,5 anos.
Ele se disse grato pelo que o Afeganistão recebeu e reconheceu que esses recursos poderiam ter sido gastos de forma mais efetiva.
Seus comentários refletem as crescentes reclamações entre os afegãos de que a reconstrução está sendo muito lenta.
Na comunidade internacional muitos não concordam com o argumento de que teria sido melhor liberar mais recursos.
Há preocupação generalizada com corrupção crescente.
Karzai foi indicado para liderar do Afeganistão pelos Estados Unidos no fim de 2001 e eleito presidente do país no ano passado.
Perguntado se iria concorrer novamente ao cargo no fim do seu mandato em 2009, Karzai disse que não sabia, mas que não acreditava que fosse concorrer.
Segundo ele, esse poderá ser o momento ideal para que pessoas mais jovens assumam o poder.