Tão intenso quanto o movimento de denúncias, acusações, ataques e vergonheira geral vigente nas últimas semanas no ambiente político brasileiro, tem sido o tráfego de idéias, controvérsia e desentendimentos através desta poderosa rede de debates que é a Internet.
Desde a eclosão do escândalo dos Correios (que ninguém esqueça, por favor) chegando à tragédia nacional do “mensalão” nunca a Internet esteve tão repleta das mais variadas opiniões a respeito de Lula, PT, corrupção, políticos brasileiros e vergonha nacional.
A Rede Globo, geralmente muito cuidadosa com qualquer tipo de atrelamento político contra o governo (seja ele qual for) já está abertamente dando cobertura a todos os aspectos dessa enorme crise moral em que está mergulhado o PT, nosso presidente e todo o organismo político de nosso país.
Na Internet se vê e lê de tudo.
Há gente lembrando que apesar de sanguinários, castradores, censores e retrógrados, os ditadores militares que governaram o Brasil entre 1964 e 1984 eram muito mais honestos e anti-corrupção do que os presidentes civis, eleitos livre e soberanamente pelo povo.
Essa é uma colocação primitiva. E errada do ponto de vista histórico. Os generais-presidentes Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazú Médici, Ernesto Geisel e João Batista de Figueiredo realmente nunca tiveram denúncias públicas de nenhum tipo de irregularidades e corrupções em seus governos. Nem poderiam. Nesses 20 anos o Brasil sofreu uma severa e enlouquecida censura que impedia a publicação de qualquer coisa que não fosse do agrado e do interesse da Ditadura. Ter saudade disso é uma falta de memória, quando não de inteligência.
O que não impede que se possa até reconhecer que, em função da própria “mão de ferro” dos militares, o Brasil viveu duas décadas de baixo índice de violência urbana, nenhuma instabilidade política aparente e teve importantes progressos em algumas áreas. As telecomunicações, por exemplo, deram um salto extraordinário.
Há gente já comparando Lula a Collor. A “Veja” desta semana pisa fundo nesse tópico. Nos parece um erro, pelo menos uma tremenda precipitação.
Ninguém é tolo de achar que Lula não sabia das irregularidades que vinham sendo cometidas. Das compras de votos, aliciamento de parlamentares, usos e abuso do tráfico de influência. Mas até prova em contrário, não há nada que revele ter sido Lula beneficiado diretamente pela roubalheira generalizada. O presidente pode ser culpado de conivência, isso sim. Mas neste ponto ele é bem diferente de Collor, que saiu do governo sob a mais clara crença de que havia se “locupletado” irmanamente com o finado P.C. Farias, o famoso “encarregado” de captar bilhões de dólares.
E que ninguém pense que estou na defesa de Lula. O presidente tem feito tudo para dar, aos seus detratores e inimigos políticos, a munição perfeita para gerar sua própria destruição.
Sempre achei que Luis Inácio da Silva era apenas um ícone romântico de uma esquerda brasileira que se recusa a enxergar a vida como ela é. A “canção nostálgica” do operário que chega ao poder pode ser emocionante, mas nada tem de realístico. Sempre acreditei que o que poderia dar lastro ao governo de Lula era justamente a competência, seriedade e patriotismo de seus assessores. Nisso, me enganei tremendamente.
Vejo o cenário sendo cuidadosamente montado para levar Lula ao paredão. O próprio presidente tem demonstrado pouca habilidade ao evitar de todas as formas qualquer menção clara sobre os atuais escândalos.
Também não pegou nada bem a “defesa” que fez de seu filho ter sido “financiado” pela Telemar (poderosa empresa de telefonia atuando no Brasil) em mais de 5 milhões de reais. Nas duas últimas semanas Lula tem se afastado contínuamente daquilo que o povo brasileiro e mais agudamente, seus eleitores, mais desejam: explicações claras, sinceras, honestas. Ou será que ele vai seguir a cartilha de Bill Clinton, mentindo diante das câmeras e negando o óbvio?
Também na Internet lí algo escrito por adeptos do presidente, aceitando e até “justificando” o famoso empréstimo da Telemar ao filho de Lula. Lí um texto que dizia que “o que são 5 milhõezinhos de Reais diante dos bilhões de dólares roubados por ex-presidentes e ditadores?”
Se estamos chegando ao ponto de minimizar o crime em função dos zeros, acho até melhor sair de cena. Acredito que o povo brasileiro em sua maioria pensa como eu. Que honestidade não é favor, é obrigação. Que dizer a verdade a quem o elegeu é uma obrigação moral e absoluta de Lula. Que condenar o favorecimento ao seu filho seria um gesto digno de aplauso. Que honrar o compromisso de campanha e se empenhar para botar na cadeia todos os seus auxiliares corruptos e ladrões, seria ou será o mínimo exigível de um presidente que foi eleito para tentar iniciar um processo de reconstrução da pátria e não para fazer com que o povo brasileiro enterrasse mais um (um dos últimos) fios de esperança que têm na moralidade pública.