Mais um árbitro pode estar envolvido no escândalo da arbitragem. O paranaense Heber Roberto Lopes, que também pertence ao quadro da Fifa desde 2002, foi acusado nesta quarta-feira de manipular resultados de jogos. E quem fez a acusação foi justamente o empresário Nagib Fayad, que é apontado como chefe da máfia do apito, em seu depoimento na CPI dos Bingos, em Brasília.
Réu confesso no esquema de manipulação de resultados para ser favorecido em apostas na internet, Nagib Fayad não acusou diretamente Heber Roberto Lopes e nem citou seu nome (disse não se lembrar). Mas revelou que o árbitro da partida entre Botafogo e Juventude, no dia 11 de junho, no Rio, teria fraudado o resultado. E Heber apitou aquela partida, assim como outras 15 do Campeonato Brasileiro.
Segundo Nagib Fayad, quem lhe contou sobre a suposta fraude de Heber Roberto Lopes foi justamente o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, outro réu confesso no escândalo de arbitragem.
Em depoimento na CPI, o empresário contou que Edílson teria lhe dito a seguinte frase sobre a partida entre Botafogo e Juventude: "Nagib, jogue nesse jogo que vai ser apitado no Rio. É certeza que o time do Rio vai ganhar e você me dá uma comissão. O Bota vai ser protegido, jogue nesse jogo, é certeza que esse time carioca vai ganhar."
No jogo citado por Nagib Fayad, o Botafogo ganhou do Juventude por 3 a 2. Mas o time carioca perdia até o começo do segundo tempo, quando virou a partida com dois gols de pênalti.
Por conta da participação de Edílson Pereira de Carvalho na máfia do apito, 11 jogos do Campeonato Brasileiro foram anulados pelo STJD. Além dele, outro árbitro que já confessou participação no esquema é Paulo José Danelon - mas ele não apitou nenhuma partida da primeira divisão, só da Série B e do Paulistão.
Defesa - Ao relatar o fato envolvendo Heber Roberto Lopes, Nagib Fayad afirmou que a sua intenção era a de mostrar que o STJD errou ao anular os 11 jogos do Brasileirão, porque ele não acredita que Edílson fabricasse resultados. "Hoje eu vejo que ele era um enganador, fazia jogo duplo, ganhava qualquer que fosse o resultado", acusou o empresário.
Para Nagib Fayad, Edílson "vendia" resultados diferentes para pessoas diferentes. Como prova de que sempre haveria alguém para pagar pelo "palpite", qualquer que fosse o placar da partida, o empresário lembrou que não há nenhum empate nos jogos apitados pelo árbitro.
Aparentemente orientado por advogados, Nagib Fayad tentou transformar seu depoimento numa peça de defesa. O mote principal era o de se posicionar como alguém que se deixou levar pelo vício compulsivo de jogar e não como o empresário que burlou todas as regras para faturar ilegalmente com o futebol.
"Por causa do meu vício, estou pagando caro, acho que vou procurar um tratamento. Foi sinal de fraqueza. Na minha compulsividade, eu errei", defendeu-se Nagib Fayad, que teve os sigilos bancário, fiscal e telefônico quebrados pela CPI. Ele também garantiu ter aceito apenas 2 dos 6 jogos que Edílson ofereceu para manipular o resultado. E revelou que não quer mais saber de futebol e apostas.
Os jogos apitados por Heber Roberto Lopes na Série A do Campeonato Brasileiro de 2005:
24/4 - Fluminense 2 x 1 São Paulo (1ª rodada)
11/6 - Botafogo 3 x 2 Juventude (7ª rodada)
26/6 - Paysandu 2 x 1 Palmeiras (9ª rodada)
10/7 - Cruzeiro 2 x 1 Atlético Mineiro (11ª rodada)
16/7 - Ponte Preta 2 x 1 Figueirense (12ª rodada)
20/7 - Santos 2 x 3 Vasco (13ª rodada)
27/7 - Corinthians 4 x 3 Cruzeiro (15ª rodada)
03/8 - Internacional 0 x 1 Santos (17ª rodada)
14/8 - Botafogo 3 x 3 Santos (20ª rodada)
25/8 - Figueirense 0 x 1 Atlético-MG (22ª rodada)
27/8 - Brasiliense 3 x 2 Palmeiras (23ª rodada)
18/9 - São Paulo 4 x 2 Vasco (26ª rodada)
22/9 - Corinthians 1 x 1 Atlético-MG (27ª rodada)
25/9 - Ponte Preta 2 x 3 Cruzeiro (28ª rodada)
2/10 - Internacional 2 x 2 Fluminense (29ª rodada)
8/10 - Botafogo 1 x 2 Palmeiras (31ª rodada)