Não é só o turismo ou o mercado imobiliário no sul da Flórida que tem sofrido os impactos da crise econômica brasileira. Pela primeira vez desde 2011, a exportação de telefone celular – especialmente os smartphones - do sul da Flórida sofreu uma grande queda. E especialistas dizem que a crise econômica no Brasil e na Venezuela estão entre as grandes causas.
O sul da Flórida lidera na exportação de telefone celular em todo o país, de acordo com informações publicadas no jornal “Miami Herald”, esta semana. Depois de manufaturados na Ásia, os telefones são enviados para os EUA para o consumo dos americanos e para serem enviados para a América Latina – que não tem muita conexão direta com a Ásia nesse tipo de transação. Os telefones com destino à América Latina ficam frequentemente em depósitos em Doral. Como geralmente passam por alguma mudança em solo americano – como a adição de um software ou instalação de outra bateria, são considerados como exportação americana. Por liderar a nação na exportação de telefones celular, os maiores distribuidores do mundo têm escritórios regionais no sul da Flórida, incluindo Ingram Micro, Tech Data, Intcomex e Brightstar.
Nacionalmente, os EUA exportaram $22.74 bilhões de dólares em telefones celulares ou equipamentos relacionados. Celulares são o quinto produto de exportação mais importante saindo dos EUA. No ano passado, o produto estava em sétimo lugar. Há 10 anos, a exportação de telefones celulares estava 12º no ranking, escreveu Ken Roberts, do US Tradenumbers.
Embora dispute com outras regiões dos EUA, como Los Angeles, New Orleans e Anchorage, o sul da Flórida, que está perdendo representação no mercado, tem como principal preocupação a crise no Brasil, um de seus maiores mercados. A instabilidade política e econômica no Brasil e na Venezuela é a principal preocupação de exportadores no sul da Flórida. Além disso, houve uma queda em exportações para a Colômbia. A exportação de celulares para o Brasil caiu 26,68%, embora o Brasil represente ainda 14,95% do total. O envio de telefones celular para a Venezuela caiu 92,34% nos últimos três anos. A Colômbia teve uma queda de 38,91% este ano em relação a 2014.
Desde 2011, a exportação caiu pela primeira vez para menos de $3 bilhões de dólares até agosto deste ano. Mas isso não quer dizer que o mercado viva uma crise, já que até agosto de 2010 a região não ultrapassava os $2 bilhões de dólares. Em agosto de 2012, o total chegou a $3,35 bilhões de dólares.
Mercado imobiliário também sente o efeito
Depois do boom dos compradores brasileiros de imóveis nos últimos anos, que resgataram o sul da Flórida da Grande Recessão, imobiliárias têm visto o entusiasmo desses compradores minguar.A corretora Fabiana Pimenta, que trabalha para a companhia Fortune International, disse ao GAZETA que seus clientes agora estão tentando vender ou alugar propriedades que compraram aqui.
“Existem dois motivos pelos quais mais brasileiros estão tentando vender. Primeiro, porque quem comprou em meados de 2011, 2012, já teve lucro com a valorização dos imóveis no sul da Flórida e, às vezes, quer investir em algo maior. Em segundo, têm aqueles que querem vender por necessidade mesmo, para comprar algo no Brasil agora”, explica a paulistana que é corretora há 11 anos – e que já viu o mercado dos clientes brasileiros seguir várias tendências.
Até o meio do ano, Fabiana relata que fez boas vendas a clientes, que são todos brasileiros e com poder aquisitivo mais alto que os do passado. Foi da metade do ano para cá, com a desvalorização brusca do real em relação ao dólar, que seus compradores levaram um “susto”. Fabiana estima que houve uma queda de 60 a 70% nesses clientes. O que está em alta agora são aqueles clientes que compraram recentemente e estão tentando alugar suas propriedades. “Se uma pessoa tem uma despesa de $2.500 dólares por mês em um apartamento simples em Aventura, isso em real agora sai quase R$10 mil”, calcula. “A locação está aquecida no mercado”.
Outra coisa que mudou, explica a corretora, é que muitos que compraram o apartamento ainda na planta terminavam de pagar à vista. “Agora eles financiam o restante do valor”.
Turismo
A crise não tem impedido brasileiros de viajar à região. Mas eles têm gastado bem menos. Pela primeira vez em 20 anos houve uma queda de 3% no número de brasileiros vindo à Flórida no ano passado, segundo o Miami Conventions and Visitors Bureau. Embora a queda de visitantes brasileiros não tenha sido tão grande, quem mais está sentindo a retração são os outlets.Desde o começo do ano, segundo o Banco Central, os brasileiros reduziram em 25% os gastos com compras fora do país (o dado compila as transações com cartões de crédito no exterior). Em setembro, no entanto, o BC apontou uma queda ainda maior nos gastos, que caíram 47% em relação ao mesmo mês em 2014.
Em vez de comprar, brasileiros que visitam a região tem aproveitado para viajar mais. Carlos Salomão, de 64 anos, aproveitou a viagem para fazer passeios diferentes. “Fui a Sarasota, Tampa e curti Orlando sem ir a parques”, disse ele, que viajou com a esposa, ao “Estadão”.