Não tem o menor sentido esperar que a população em geral realmente “se toque” com uma tragédia, caso ela de alguma forma não lhe tenha atingido pessoal e diretamente.
Isso talvez explique a estranha diferença de atitude das pessoas em relação aos estupradores. Se a vítima for alguém próximo ou conhecido, a indignação é total e a pena de morte parece lógica, inquestionável. Mas se, como em 99% dos casos, a vítima for apenas um rosto desconhecido na tela da TV, o crime já não parece tão horrendo assim e especula-se até se a “culpa” não teria sido da “suposta vítima”.
Assim é a bestialidade humana.
Assim agem muitos brasileiros em relação ao 11 de setembro.
Muito além de um bárbaro crime contra mais de 3.000 inocentes vítimas que nada têm a ver com as querelas políticas desse confuso e perdido planetinha, os ataques ao World Trade Center foram um crime contra a esperança, a fé e a inocência de uma civilização à beira do colapso por falta de moral, ética, e valor à vida.
E se é por falta de “razões de proximidade”, nós brasileiros temos sim, motivos “específicos” para nos sentirmos agredidos pelos ataques perpretados pelos fanáticos que desejam transformar o planeta inteiro num único estado islâmico radical, primitivo e facista. Brasileiros foram assassinados naquele ataque. Brasileiros, que como norte-americanos, franceses, japoneses, ingleses, italianos, enfim, pessoas de 57 nacionalidades, representavam o “business melting pot” que habitava as torres.
Estamos vivenciado 5 anos de uma das mais chocantes tragédias de nosso tempo. Sim, porque diferentemente das grandes pragas e dos grandes cataclismas, os ataques às Twin Towers foram acompanhados “ao vivo” por milhões de pessoas. Muitos incrédulos, aparvalhados, outros cinicamente indiferentes.
Sim, pode ter certeza absoluta que uma significativa parcela desses espectadores se manteve indiferente e alguns até enxergam algum tipo de “justiça” ou “lógica” nos abomináveis atos do terrorismo islâmico. Bem, Democracia é isso aí, não é mesmo? Só mesmo nos Estados Unidos as autoridades permitem que os próprios agressores do país e seus “simpatizantes”, tenham voz. Mais uma “lição” a ser percebida por quem – às vezes sem ter a menor noção do que fala – segue considerando os Estados Unidos como grande vilão da humanidade.
A sucessão de filmes – alguns de ridícula qualidade e flagrante apelo comercial do mais baixo nível – e imagens intensamente repetidas daquela tragédia, trazem de volta os sentimentos que chocaram para sempre todos os que sonham com um mundo em paz, civilizado, produtivo e voltado para o bem comum.
O que mais deprime é que cinco anos depois, sinto que estamos mais inseguros, mais frágeis do que nunca.
Temo que toda a retórica da “Segurança” professada intermitentemente pelo gabinete do Presidente Bush, seja ao mesmo tempo um pouco de verdade e um muito de puro marketing de continuísmo político em favor de uma permanência longa do Partido Republicano no poder.
Sim, estamos mais frágeis, mais assustados. Perdemos a inocência da invulnerabilidade.
Hoje entramos em qualquer avião temendo que entre nós esteja um “suicide-bomber”.
Até porque repetidas vezes temos tido provas de que os “sistemas de segurança”, todos eles protagonizados por seres humanos altamente falíveis, são apenas um paliativo.
Hoje encaramos qualquer vizinho ou transeunte com feições árabes como um “suspeito imediato”. Imagino como milhões de pessoas de real descendência árabe ou simplesmente com “feições árabes” tem vivido uma existência de isolamento e medo.
Essa e muitas outras “heranças” de ódio e medo nos foram legadas pelo ataque às torres e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001.
Cada um de nós que manter viva a lembrança dessa tragédia da humanidade, estará servindo pelo menos ao propósito de não deixar a tendência do ser humano comum ao esquecimento e à desimportância da História, apagar as lições que devem ser aprendidas, a cada segundo do minuto, geradas por uma doutrina de ignorância e ódio.