Sempre foi assim e parece que sempre será, até que uma visão mais ampla e menos mesquinha se instale na Câmara Baixa dos Estados Unidos, a Câmara de Representantes.
A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos autorizou no último dia 14 de setembro, a construção de uma cerca ao longo de regiões da fronteira com o México, numa votação que críticos afirmam, tem mais a ver com a política de ano eleitoral do que com a contenção da imigração.
Aqueles que abominam a idéia da existência do bizarro muro, não se desesperem ainda. A decisão não tem força de lei e precsia passar ainda pelo Senado (pesquisa interna revela chance de menos de 30% de aprovação) e pelo Presidente que já prometeu “considerar a possibilidade de veto”. Ou seja, é mesmo uma medida que os representantes tomaram para agradar suas bases eleitorais. Medida eleitoreira igualzinha à dos políticos tupiniquim que aumentam os dias de Carnaval para alegrar o eleitorado.
A proposta recomenda a construção de uma cerca de por volta de 1.126 quilômetros ao longo da fronteira com o México, que é de 3.200 quilômetros. Uma re-edição “light” do Muro de Berlim. Isso se não decidirem que a cerca será eletrificada ou coisa ainda mais “moderna”, com algum aparato “vaporizador” de quem tentar atravessar.
O Senador Steny Hoyer, Democrata pelo Estado de Maryland, definiu bem a artimanha: "Isso serve para marcar pontos políticos que serão usados em demagogia em anúncios de 30 segundos". Na verdade, essa “decisão” apenas afasta do debate nacional imigratório, a verdadeira e mais importante de todas as questões: a legalização dos 12 milhões de indocumentados que já vivem dentro dos Estados Unidos.
Fica cada vez mais claro que a classe política do país mais poderoso (militarmente) do mundo, está “embananada” com a questão imigratória. Simplesmente não sabe o que pensar nem como agir para intimidar uma multidão de imigrantes ilegais que vieram e seguem vindo para cá atraídos pela propaganda que os próprios Estados Unidos fazem de si mesmo o tempo todo.
Como esperar que qualquer cidadão jovem e desiludido com as perspectivas sombrias de sobrevivência nos países de terceiro mundo, não corram qualquer risco para entrar na “Terra de Marlboro?”. Construção de muros e patrulhas de cidadão civis na fronteira são pálidos ou inócuos recursos que expõem ainda mais claramente a falta de uma visão de longo prazo na questão crucial das migrações.
Nesse momento, o que mais se tem de certo é que nenhuma lei, boa ou má, progressista ou restritiva à vida dos 12 milhões de indocumentados que vivem nos Estados Unidos, será aprovada este ano. O tema é “batata quente” demais e mesmo já contando com simpatia de parte dos republicanos a seu projeto de legalização, o próprio Presidente Bush “desaqueceu” a matéria em função de já estar sendo “fritado” pelas crescente impopularidade da Guerra do Iraque entre os eleitores norte-americanos.
George W. Bush, defende há dois anos uma legislação mais inclusiva e um programa de convite a trabalhadores. Ele tem repetido isso insistentemente e já conseguiu adesão de praticamente 45% dos parlamentares republicanos. Mas a questão ainda divide o partido que detém maioria nas duas casas. Muitos acreditam que o projeto, que veio do Senado, daria anistia a pessoas que violaram as leis norte-americanas e argumentam que seria difícil aprovar uma ampla lei sobre imigração neste ano.
É deplorável que uma parte da opinião pública dos Estados Unidos, influenciada pelas reações de políticos unicamente interessados em se manterem no poder, esteja acreditando que fará algumk bem à “segurança nacional’, construir um muro na fronteira com o méxico. A História prova por A+B que esse tipo de idéia nasce derrotada e o que é pior, acirra ainda mais os ânimos hoje quase incendiários entre mexicanos e norte-americanos da fronteira.
O que se poderia se antever, caso o tal muro venha mesmo a ser erigido, é um aumento ainda mais radical nas estatísticas de mortes na fronteira entre os dois países. Atualmente, uma pessoa morre a cada 18 horas e 30 minutos tentando cruzar ilegalmente a fronteira entre o México e os Estados Unidos, afirmou um estudo oficial divulgado por autoridades parlamentares de Washington.
Uma pena, para os imigrantes de todas as nacionalidades e os hoje estimados mais de 1 milhão de brasileiros ilegais nos Estados Unidos, que o prestígio político de Bush esteja tão baixo junto à população norte-americana e que seu “poder de barganha” dentro do Partido Republicano tenha sofrido uma tremanda erosão. No frigir dos ovos, apesar de ser o alvo preferido do ódio generalizado, Bush foi quem apresentou a proposta mais viável, sensata e plausível para uma reforma imigratória.
Desafortunadamente, as vidas de 12 milhões de pessoas se transformou num joguete político, onde para os políticos, de direita e de esquerda, talvez a melhor coisa que possa acontecer é manter essa sinistro “jogo” enquanto for “lucrativo” eleitoralmente. A vida dos 12 milhões, que se exploda. São, afinal, “apenas” 12 milhões de órfãos da Lei e dos Direitos Humanos.