A Criança Divina é um arquétipo, um padrão da psique coletiva, fonte de inexaurível renovação, alegria, vida, beleza, leveza, criatividade. Como alcançá-la? Por este caminho. Vamos começar com algumas reflexões.
A psique é como um teatro, onde muitas peças acontecem: algumas, ao mesmo tempo; outras no decorrer do tempo.
Algumas dessas histórias começaram no antigo passado e se repetem, como num disco quebrado, prejudicando o presente. Elas hipnotizam a nossa consciência, e eis que recriamos o passado no presente.
Uma dessas histórias se chama “Infância”. Os eventos deste tempo ecoam dentro da mente, perguntas sem respostas, chamados que se tornam ruídos de fundo, percepções incompreendidas que pedem clareza.
Para chegar à Criança Divina é preciso, em primeiro lugar, acolher a criança interior, que nada mais é que a criança que fomos e que ainda somos de alguma forma: ouvir o que ela tem a dizer, suas queixas, tristezas, alegrias, decepções, desejos. Deve-se não ter medo de ouvir o que nossa criança interior tem a dizer, deve-se evitar querer controlá-la para que ela não diga coisas que nos deixariam constrangidos. Ouça sua criança interior.
O que faríamos com uma criança encontrada na rua, com a qual nos sensibilizamos e que assumimos sob os nossos cuidados? Iríamos querer ouvir sua história, generosamente e sem “regras”. Acolher começa assim: permitindo que uma fala difícil seja expressa, prestando atenção ao lamento, à dor. Sem culpas e sem querer salvar ninguém. O desabafo livre por si só já alivia.
Como chegar até sua criança interior? Simples. Volte ao passado, se reconecte com aquela história que aparentemente deixou para trás. Quando estiver lá, abra-se e sinta em verdade e profundidade. Permaneça lá, respire fundo aquela história. Sinta tudo o que tiver de ser sentido – conscientemente. Não precisa responder e resolver nada. Somente acolher a criança – conscientemente.
Nenhuma infância é perfeita. Nenhuma mãe ou pai consegue dar conta de todas as necessidades psicoemocionais e materiais de um filho. Mas isso o sabemos hoje. Do ponto de vista de nossa criança interior há coisas que faltaram e que pesaram enormemente, marcando a formação da personalidade e do caráter. Se quisermos cuidar dela é preciso deixá-la falar: ela deve ter a chance de desabafar, do jeito dela, no estilo de criança, sem as boas maneiras adultas, sem os medos e sentimentos de culpa adulto.
Em seguida, tendo nosso ser criança libertado-se do fardo e encontrado amor incondicional, temos acesso à Criança Divina. Uma vez que nossa criança interior foi acolhida e amada, ela volta a estar diretamente conectada com a fonte original: a Criança Divina. Esta fonte de energia psíquica está relacionada com o jogo e a renovação, com a curiosidade e o surpreender-se, com a capacidade de começar de novo e rir à toa. É a sorgente da criatividade, da alegria, do novo. Somente nesse lugar, as dores do passado se esvairão no passado e de verdade não nos afetarão mais.
Toda criança nasce Criança Divina. A vida que leva, infelizmente, na maioria das vezes, a aprisiona e, eventualmente, lhe tira a alegria e criatividade. E a Criança Divina se torna aquela criança interior triste ou assustada, preocupada ou ansiosa que conhecemos. Perdemos o acesso à fonte. E sem ela, tudo se faz cinzento, pesado, enfadonho.
Por isso, vale a pena assistir àquela peça interna que se chama “Infância”. Assisti-la com consciência para curar nossa criança interior. Tendo a coragem de ouvir sua verdade e de dar-lhe amor incondicional, libertaremos nossa vida do passado e ganharemos o acesso à “fonte da juventude”: o poder interior do renascimento. Celebremos o solstício de inverno, dia em que das trevas emerge a nova luz.