A tragédia que estarreceu o mundo e que até hoje prolonga suas conseqüências sobre a vida dos norte-americanos, e do restante do mundo, começou este mês a ocupar as telonas dos cinemas nos EUA sob aplausos e vaias a seu diretor Oliver Stone. Durante duas horas, Stone recria, com detalhes, o drama de dois policiais que ficaram sob os escombros das Torres Gêmeas de New York, e de suas famílias.
O roteiro de World Trade Center, assinado por Andrea Berloff, partiu da experiência de McLoughlin e Jimeno, integrantes do Departamento de Polícia do Port Authority de Nova York e de dois dos 20 sobreviventes da queda do WTC.
Membros das forças de resgate também assessoraram a produção, auxiliando no ajuste de diálogos e na inclusão de termos peculiares.
Alguns participam de cenas representando a si mesmos.
Apesar de não assumida, é evidente no World Trade Center a influência do documentário 11/9, dos franceses Jules e Gedeon Naudet, que acompanhavam o primeiro dia de um bombeiro nova-iorquino na corporação quando houve os ataques. Os Naudet, além do único — e casual — registro do momento do choque do primeiro avião, filmaram o trabalho dos bombeiros no saguão da Torre Norte no instante em que a Sul desabou, situação retomada por Oliver Stone.
O diretor utiliza recursos bastante realistas para reconstruir os fatos, perceptíveis na sombra dos aviões quando vão se chocar ou nos escombros dos edifícios. Mas não abre mão da música nos momentos de medo, emoção ou sentimentalismo.
Stone não abre mão também de outros recursos para mostrar a dor e o sofrimento que os ataques terroristas provocaram nas primeiras horas, nos primeiros dias, nas primeiras semanas e nos primeiros meses, quando os meios de comunicação dos EUA reproduziram as biografias e os fatos que acompanharam cada uma das vítimas.
No filme, Stone mostra as convicções mais tradicionais dos cidadãos dos EUA sobre a família e a solidariedade de seu povo, assim como a religião.
A convicção religiosa é representada em forma de visões, como a de um marine, interpretado por Stephen Dorff, que sente o chamado de Deus frente a uma cruz e uma página da bíblia aberta no Apocalipse.
É esse chamado que o leva primeiro a salvar os dois policiais, interpretados por Nicolas Cage e Michael Peña, e depois a servir por dois anos no Iraque, segundo é informado no final do filme, baseado em fatos reais.
A primeira projeção do longa na Europa foi realizada na Mostra de Veneza, no início deste mês, dias antes do quinto aniversário da tragédia, e que teve alguns aplausos, mas que foi assistido, sobretudo, com um grande silêncio pelo público, em sua maioria jornalistas credenciados.
Marcas
As conseqüências do 11 de Setembro de 2001, entre as quais a guerra contra o terrorismo e a guerra contra o Iraque, são piores do que tudo quanto naquele dia aconteceu.
A convicção é do realizador norte-americano Oliver Stone, que refuta a crítica de que seu filme “World Trade Center” é um produto comercial e se esquivou de entrar em questões políticas.
- O coração une, a política divide - alegou o cineasta, que compareceu à coletiva de imprensa em Veneza acompanhado por dois polícias soterrados nos escombros das Torres Gémeas naquele dia, e cuja história Stone conta em “World Trade Center”.
Frisando que os protagonistas reais nunca lhe deram a conhecer as suas simpatias políticas, o realizador explicou ter querido que “World Trade Center” seja visto como um filme em que se fala dos bons sentimentos das pessoas e do “coração humano”.
- Não há heróis, há pessoas que precisam de uma ligação a este mundo tão lúgubre - afirmou Stone, sem deixar de reconhecer que a vingança é outro sentimento humano e tem muito a ver com ela o que os Estados Unidos fizeram no Afeganistão.
Quanto à questão política que é acusado de não ter enfrentado, indicou tê-la deixado para outro filme sobre o 11 de Setembro, porque “podem fazer-se seis ou sete filmes sobre aquele dia”. Negou, porém, ter já decidido lançar mãos à obra.
- Creio - disse - que as coisas foram muito lúgubres. Há mais terrorismo, há mais morte, há mais guerra (à) e, sobretudo, há violações constitucionais.
- É uma situação terrível - qualificou - As consequências do 11 de Setembro são piores do que o próprio dia. Alguém perguntou se (o filme World Trade Center) tinha sido feito demasiado perto (dos atentados). Creio que se fez demasiado longe. Quero dizer: temos de acordar e de acordar depressa.
Confessou noutro passo que, “como veterano do Vietnam”, se sente “muito deprimido” com o que está a acontecer no Iraque. “A violência - observou - traz benefícios aos Estados Unidos e eu creio que isso é parte do problema.