A publicação de um estudo sobre a existência de restos de medicamentos na água potável de 24 áreas metropolitanas dos Estados Unidos levou rapidamente as entidades a negarem qualquer perigo para a saúde pública.
Segundo o estudo, publicado na terça-feira(11) pela imprensa norte-americana, a água potável de 24 áreas metropolitanas dos EUA - com cerca de 41 milhões de habitantes - contém, em concentrações mínimas, restos de antibióticos, analgésicos, antidepressivos, antiinflamatórios, paracetamol e medicamentos contra a ansiedade, entre outras substâncias. A água da Flórida ainda não foi testada.
Embora as autoridades norte-americanas assegurem que não há qualquer risco à saúde pública, há controvérsias sobre o tema. O zoologista John Sumpter, da Brunel University, em Londres, onde também foi detectado o mesmo problema, afirma que “esses são medicamentos fabricados para terem um efeito muito específico, e com concentração muito baixa. Mas, quando se misturam ao meio ambiente, não deve ser motivo de choque para a população que provoquem algum efeito”, disse o especialista.
As drogas estão se misturando à água por causa do despejo de águas servidas (águas já utilizadas em banheiros e cozi-nhas) nos reservartórios de reprocessamento da água para consumo e, a partir do despejo de drogas não utilizadas. Resíduos de esteróides anabolizantes dados ao gado estariam também chegando à água consumida pela população, mesmo após seu processamento para o consumo.
A preocupação dos cientistas é que as drogas poderiam tornar-se mais tóxicas na mistura com o cloro, regularmente adicionado à água destinada ao consumo humano. Segundo eles, nenhuma das plantas de filtragem dos Estados Unidos teria sido projetada para eliminar drogas, e tão pouco os filtros residenciais. O sistema de osmose reversa é, de acordo com os especialistas, a única tecnologia que pode remover resíduos farmacêuticos, mas é considerada muito cara para instalação em grande escala.
Na Filadélfia, por exemplo, foram encontrados 56 produtos farmacêuticos ou derivados e em São Francisco vestígios de uma hormona sexual.
Além de ter causado um certo alarme social, a notícia levou a uma boa parte das empresas e organizações de gestão e tratamento de água nos Estados Unidos a defenderem o seu trabalho e a advertirem que a presença de medicamentos na água é conhecida há vários anos sem provocar problemas de saúde.
Flórida
No Sul da Flórida, autoridades res-ponsáveis pelo gerenciamento da água afirmam que o risco para os consumidores é mínimo. E explicam: a água utilizada nos condados de Miami-Dade, Broward e Palm Beach não é rotineiramente abastecida por águas servidas. Durante décadas, os condados são abastecidos por uma fonte considerada relativamente segura, que é o aquífero subterrâneo, de baixa profundidade, de Biscayne. As águas servidas da região, segundo especialistas, são despejadas no Oceano Atlântico ou bombeadas para o subsolo.
De acordo com o diretor-assistente do Departamento de Águas e Esgotos de Miami-Dade, Doug Yoder, o aqüífero é vulnerável a resíduos químicos e industriais. Mas há, no entanto, comparativamente, poucas maneiras (basicamente a partir dos tanques sépticos) para que os resíduos farmacêuticos atinjam o suprimento de água. “As águas servidas não atingem os aqüíferos”, assegura.
Uma vez que não existem regulações federais ou estaduais para monitorar a presença de resíduos farmacêuticos na água potável, Miami-Dade e a maioria das cidades do Sul da Flórida não realizam testes regulares.

