O veterano da Segunda Guerra Mundial Enos Schera é um dos principais líderes na Flórida do movimento anti-indocumentados. É conhecido entre os amigos como “o avô da reforma da imigração” e fundador da entidade Citizens of Dade United (Cidadãos de Dade Unidos), que está entre a crescente “tropa” de grupos antiimigrantes ilegais na Flórida. Esses grupos têm tentado, com diferentes táticas, expulsar os indocumentados do País.
Depois de tentar, durante três décadas, angariar simpatia à sua causa antiimigrantes na cidade com o maior percentual de estrangeiros, Schera agora tem companhia.
Em Haines City, o Minuteman Civil Defense Corps organiza grupos de cidadãos para que ajudem na patrulha de fronteira do Arizona com o México. Em Jupiter, o grupo Floridians for Immigration Enforcement organiza protestos públicos e publica vídeos no site Youtube denunciando pessoas que contratam indocumentados. Em Fort Myers, o grupo Citizens Agains Illegal Immigration realiza vigílias à luz de velas em memória daqueles que foram mortos por imigrantes ilegais.
Agora, os grupos estão fazendo lobby na Câmara local. Entre as medidas que pretendem aprovar estão: solicitar que os contractors que trabalham para o governo estaduais participem de um programa federal para verificar o status legal de seus novos empregados e, tornar crime abrigar, hospedar ou transportar imigrantes indocumentados.
- As pessoas nos chamam hate-mongers (devotos do ódio) e de racistas, mas não se trata de racismo. Trata-se da lei – disse Bill Landers, diretor do Minuteman Civil Defense Corps, na Flórida.
Defensores dos grupos imigrantes, que qualificam os antiimigrantes como “nativistas”, afirmam que a retórica antiimigrante pode ter resultados perigosos, evidenciados por uma elevação dos crimes de ódio contra hispânicos. Estatísticas do FBI mostram um aumento de quase 35% neste tipo de crime, entre 2003 e 2006.
O Southern Poverty Law Center recentemente divulgou relatório afirmando que o número de chamados “hate groups” (grupos de ódio) cresceu 48% desde 2000, uma elevação que é atribuída ao aumento do sentimento antiimigrante.
- Eu acho que o que acontece, em muitos casos, é que algumas das propagandas verdadeiramente desprezíveis contra latinos, e imigrantes especificamente, realmente começam em grupos de ódio partidários da supremacia dos brancos – disse Mark Potok, diretor do Souther Poverty Law Center. “Mas o que temos visto como fenômeno é que tais alegações saem destes grupos de ódio e ganham espaço em movimentos anti-imigrantes”, analisa Potok.
Os líderes dos recém-criados grupos antiimigrantes da Flórida são, em geral, homens idosos, muitos deles veteranos, que, freqüentemente, manifestam o sentimento de que a “essência” do País está sendo ameaçada pelo que chamam de “invasão” de imigrantes, a maioria latinos. O fato de terem que ligar “1 para Inglês” toda vez que ligam para um órgão governamental os irrita.
Com um número estimado de 12 mi-lhões de indocumentados os EUA têm sido palco de frustrações alimentadas de ambos os lados.
Com a falência da lei de imigração, os governos locais e estaduais tornaram-se o campo de batalha para o assunto. Oklahoma e Arizona aprovaram leis mais restritivas. Uma lei no Arizona suspende a licença daqueles comerciantes que empregam imigrantes indocumentados. A legislação de Oklahoma está sendo utilizada como modelo para uma proposta de lei, na Flórida, que prevê tornar crime a contratação e o transporte de indocumentados.
É na Flórida que vive David Caulkett, que colocou na internet uma página na qual, mediante o pagamento de uma taxa de $10, ele recebe a denúncia de um imigrante indocumentado e a encaminha ao Departamento de Imigração.
Lei antiimigrante pode voltar ao Congresso
Uma manobra legislativa, que poderá colocar em votação no Congresso uma lei antiimigrante, vem preocupando ativistas de organizações de direitos humanos.
Na semana passada, grupos pró-imigrantes fizeram um apelo para que todos entrem em contato com seus congressistas, a fim de pedir para que eles não apóiem a “discharge petition”, uma petição que poderá submeter a análise do plenário a lei SAVE Act.
Entre outras medidas, a legislação, atualmente nas mãos do Comitê de Imigração da Câmara dos Representantes, obriga os patrões a verificar os documentos de 100% de seus trabalhadores e criminaliza a imigração ilegal.
O projeto de lei “Secure America with Immigration and Enforcement” (SAVE Act, H.R. 4088) é defendido por vários representantes, tais como, Heath Shuler (democrata da Carolina do Norte), Brian Bilbray (republicano da Califórnia) e Tom Tancredo (republicano do Colorado).
Na segunda semana de março, líderes republicanos lançaram a “discharge petition” para forçar a presidente da Câmara, Nancy Pelosi (democrata da Califórnia), a levar ao plenário o projeto, que é focado apenas no castigo e na rigorosa aplicação das leis.
Segundo Eliseo Medina, vice-presidente do Service Employees International Union (SEIU), várias origanizações pró-imigrantes se opõem à manobra liderada pelos republicanos e “rejeita a iniciativa de lei que, além de criminalizar a estadia indocumentada, acelera a deportação dos imigrantes ilegais”.
Estratégia
“O que estamos fazendo, neste momento, é contatar todos os nossos aliados para conseguir três pontos chave: evitar que outros democratas assinem a ‘discharge petition’, evitar que os republicanos consigam adesões fortes e evitar que a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, apóie essa moção”.
Medina ressalta que as organizações também estão trabalhando com o Senado, a fim de que os senadores rejeitem a iniciativa, se por ventura a Câmara de Representantes aprovar a lei.
Vanessa Cárdenas, diretora do Center for American Progress, explicou que todas as organizações envolvidas estão pedindo aos imigrantes e simpatizantes da causa, que entrem em contato com seus congressistas e peçam que eles rejeitem a moção que está circulando.
Ela disse, ainda, que, neste momento, “nos preocupa que existam democratas conservadores que não entendem a importância desse tema, e seguem apoiando iniciativas que não resolvem o problema migratório e deixam o tema mais complexo e delicado”.
O que diz o SAVE Act.?
A polêmica lei restritiva da reforma migratória que está nas mãos do Comitê Judicial da Câmara dos Representantes recomenda, entre outras medidas:
- reforçar as segurança de fronteiras;
- melhorar o cumprimento da lei dentro do país e nos centros de trabalho;
- simplificar os programas existentes de trabalhadores convidados (empregos temporários);
- melhorar o atual sistema de imigração e ajudar os imigrantes recentes a assimilarem a cultura norte-americana.
Quanto às regras sobre verificação de emprego, exigem que os empregadores mandem embora as pessoas que não têm documentos para trabalhar nos Estados Unidos.
O SAVE Act. também converte em crime federal transportar, abrigar, esconder ou proteger um imigrante indocumentado, recomendação ques já havia sido discutida no final de 2005 pela Câmara dos Representantes, quando se aprovou o projeto de lei HR 4437, proposto pelo republicano James Sensenbrenner (Wisconsin). Hoje, viver ilegalmente nos EUA é um crime civil.
A nova medida inclui uma cláusula para proteger as pessoas que ajudam imigrantes ilegais e trabalham em organizações religiosas sem fins lucrativos. Não há, no entanto, nenhum tipo de proteção a trabalhadores de outras organizações sem fins lucrativos.

