A jovem austríaca que passou oito anos e meio em cativeiro disse em entrevista a uma revista divulgada nesta quarta-feira (6) que "só pensava na fuga" no tempo que passou como refém do engenheiro Wolfgang Priklopil, 44, que se matou após sua fuga.
"Eu só pensava em fugir", disse Natasha Kampusch, 18, à revista "News", apenas duas semanas após conseguir sua liberdade. Durante a entrevista, a garota disse que sabia que "não veio ao mundo para ficar trancada e ter sua vida arruinada".
"Eu me sentia uma pobre galinha presa em um galinheiro. Vocês viram na TV o quanto a cela era pequena, era desesperador", acrescentou.
Ela também confirmou que se perguntava o tempo todo por que "entre tantas pessoas no mundo" isto tinha que acontecer justamente com ela.
Kampusch conseguiu fugir em 23 de agosto, aproveitando-se de um momento de distração de seu seqüestrador durante uma conversa telefônica.
Priklopil se jogou nos trilhos de um trem após constatar a fuga da garota.
A integra da entrevista à revista austríaca "News" foi publicado horas antes da exibição de uma entrevista à TV pública ORF, prevista para as 20h15.
A gravação ocorreu na tarde de terça-feira e alguns detalhes já foram esclarecidos. Kampusch resolveu mostrar seu rosto e trajava apenas um lenço na cabeça para esconder os cabelos.
O jornalista que entrevistou a jovem, Cristoph Feuerstein, disse que o rosto da jovem tem apenas uma "semelhança distante" com a conhecida simulação feita por computador que tem circulado na imprensa mundial.
Foto na capa
A "News" publicou uma fotografia colorida de Kampusch em sua capa, na qual ela aparece com um lenço cor-de-rosa cobrindo os cabelos loiros.
A entrevista foi realizada no Hospital Geral de Viena, onde a jovem foi examinada por um cardiologista para checar se a garota sofre de problemas cardíacos. Kampusch disse ter sofrido de palpitações durante o período em cativeiro, que a faziam sentir tontura.
A jovem disse ainda que não recebia comida suficiente. Outra revista austríaca, a "Profil", relatou que, na época da fuga, Natascha pesava apenas 42 kg, o mesmo peso de quando foi seqüestrada quando caminhava até a escola, aos dez anos de idade.
Kampusch disse a "News" que passou por uma fase de transição até obter a liberdade e que sente que "não terá problemas" para conviver com outras pessoas.
Exclusividade
O assessor de imprensa fechou um pacote com entrevistas exclusivas para a ORF, a revista "News" e o jornal "Kronen Zeitung". A escolha dos veículos foi feita, de acordo com ele, pela própria jovem.
Como esperado, esta primeira entrevista vai render milhares de euros para o futuro de Kampusch. Os direitos de transmissão foram negociados com canais de outros países e vai render entre 200 mil e 300 mil euros, dinheiro que deverá ser depositado na conta de uma fundação a ser criada no nome da jovem.
Montagem mostra Kampusch aos dez anos (à esq.) e hoje, aos 18, após 8 anos de cativeiro
Ainda na noite desta quarta-feira, dois canais alemães que compraram os direitos vão reproduzir a transmissão da TV austríaca.
O repórter que a entrevistou, Cristoph Feuerstein, falou também sobre a impressão deixada por Kampusch.
'Foi, realmente, impressionante. Encontrei uma mulher extremamente inteligente e auto-confiante, que fala o que quer. Ela está cheia de planos para o futuro e pretende logo encerrar o ensino médio', disse o jornalista.
Entre os trechos mais emocionantes, segundo Feurstein, estão o momento em que Kampusch descreveu a imobilidade em que era obrigada a ficar em sua cela, e a tentativa de pedir socorro fazendo contato visual com pessoas na rua quando foi levada para fazer compras.
Depoimento
Na semana passada, a jovem divulgou um depoimento escrito no qual forneceu detalhes de seu período em cativeiro, passado, em sua maior parte, em uma pequena cela construída no porão da casa de Priklopil em sua casa em Strasshof, subúrbio de Viena.
O depoimento contém algumas surpresas. Kampusch diz que não sente que perdeu muito tempo durante os anos que passou como prisioneira, e diz que "lamentou" a morte de Priklopil.
Segundo a ORF, a garota escolheu as perguntas que queria responder e se recusou a revelar detalhes íntimos. A polícia afirmou que Kampusch pode ter sofrido abuso sexual por parte de seu seqüestrador, mas não forneceu mais detalhes.