Por Paulo Castelo Branco*
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, passou a representar a voz do povo dentro do governo da presidente Dilma. As suas avaliações sobre a crise econômica, instalada pela equipe petista que dirigia o país, o fez declarar que considerava a política de desonerações uma brincadeira que não deu resultados e custou extremamente caro. Dilma reagiu duramente, reafirmou a correção das suas decisões e classificou a fala de Levy como “infeliz”. O fato é que o ministro tucano está levando adiante a sua política e abrindo divergências entre os líderes do governo e, com um jeito meio carioca, disse que não era exatamente o que desejava dizer quando disse o que disse. Contornou o primeiro embate e saiu pela lateral como se fosse jogador experiente fugindo de botinada.
Agora, para dificultar a compreensão dos seus discursos, Levy, fluente no idioma de Shakespeare, decidiu fazer palestra para os seus colegas da Universidade de Chicago e, novamente, fez afirmações sobre o desempenho de sua chefe ao declarar: “Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil, mas... Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno”.
O evento era restrito e em idioma estrangeiro utilizado em todos os negócios realizados pelo mundo. O ministro, não se sabe a razão, ao falar em inglês, deu demonstração de que, ou queria que o assunto não fosse bem entendido pelos demais mortais, ou não percebeu que, hoje, o Brasil, pátria educadora, já possui grande massa de cidadãos que, se não fluentes em outros idiomas, têm a mesma desenvoltura dos vendedores ambulantes nas praias do nosso litoral, não sendo difícil que algum deles tenha escutado os comentários dos participantes na saída da palestra, e comentado com repórteres mais preocupados com as entrevistas do ministro após o encontro.
A presidente, claro, não deu o braço a torcer e, praticando o seu novo jeito de governar, colocou panos quentes sobre o assunto e, suavemente, disse: “Em política, vocês sabem que às vezes eu não posso seguir um caminho curto porque eu tenho de ter o apoio de todos aqueles que me cercam. Então, tem a questão de construir consensos. Eu acho que é nesse sentido que ele falou e não tem por que criar maiores complicações por isso. Ele já explicou isso exaustivamente. Ele ficou bastante triste com isso e me explicou”.
Em novo evento, agora no idioma de Camões, Levy voltou a se manifestar sobre o tema e considerou que foi armado “um banzé em cima do truísmo de que, numa empresa, muitas vezes se trabalha sob pressões e nem tudo acontece de forma ideal”. Na verdade, esse disse-me-disse que se infiltrou na política econômica tem servido para disfarçar a gravidade do problema que arrasta milhões de brasileiros às ruas em protesto contra a má administração petista. A corrupção instalada em todos os setores chegou também a ser praticada por funcionários de nível inferior que se animam com os desmandos superiores e partem para a extorsão contra pequenos empresários, como tem sido divulgado frequentemente pela mídia.
Millôr Fernandes, como São Pedro, sempre de bom humor, observando os governos, afirmou: “Por que o governo não acaba com a inflação? Muito simples: enquanto há inflação, o pessoal só pergunta: Por que o governo não acaba com a inflação? Acabada a inflação o pessoal vai querer que o governo acabe com a canalhice, a violência, a corrupção e, sobretudo a própria, dele, governo, incompetência”, e completou nos idos de 1983, “Esse governo é um barco a três – olhando prum lado e remando pro outro. Sem patrão”. É assim que estamos neste início de governo! Sem patrão.
Paulo Castelo Branco é autor do blog www.blogpaulocastelobranco.com.br

