Chegou ao mercado brasileiro o primeiro medicamento comercial desenvolvido a partir de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Uma das 500 patentes registradas pela universidade desde a década de 1980, o medicamento é o primeiro dos fármacos licenciados pela agência Inova Unicamp, criada em 2003, que chegou até agora às prateleiras das farmácias.
Feito à base da isoflavona da soja, o medicamento custa entre R$ 40 e R$ 50 e tem como função diminuir os efeitos do climatério - o período que abrange a menopausa -, como irritabilidade, insônia, stress e calores.
De acordo com dados da Embrapa Soja, a isoflavona é um fitoestrógeno que pode ser usado na prevenção de doenças crônico-degenerativas, como o câncer de mama, de colo de útero e de próstata. Sua estrutura química é semelhante à do estrógeno (hormônio feminino) e, por isso, é uma substância capaz de aliviar os efeitos da menopausa e da tensão pré-menstrual, além de ajudar a reduzir riscos decorrentes de outra deficiência hormonal, a osteoporose.
Sem efeito colateral
“A vantagem é que estamos falando agora de um medicamento eficaz”, diz a farmacêutica Helena Meneguetti Hizo, diretora de pesquisa e desenvolvimento da Steviafarma Industrial, laboratório responsável pela produção em série do remédio desenvolvido pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. “Há muitos produtos feitos a partir da isoflavona da soja no mercado, mas com isoflavona glicosilada, com moléculas de açúcar agregadas que não são absorvidas pelo organismo. A vantagem neste caso é o uso da isoflavona aglicona, que é absorvida sem os efeitos colaterais do estrógeno sintético.”
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o mercado brasileiro oferece 18 drogas cujo princípio ativo é o glycinemax, usado no medicamento desenvolvido pela Unicamp e produzido pela Steviafarma. O laboratório, de Maringá (PR), não divulgou o valor do investimento em pesquisa e produção do remédio, mas informou que o produto está disponível em farmácias de todo o País e que a empresa já prepara lotes para exportação. O uso do medicamento é indicado para mulheres na pré-menopausa ou na menopausa, mas sempre com a prescrição de um médico. Por se tratar de produto vendido só com prescrição médica, o nome do remédio não pode ser divulgado.
Segundo o professor Yong Park, pesquisador da FEA, responsável pelo projeto, o medicamento traz em sua composição, aproximadamente 100% de isoflavonas de soja, na forma ativa. Essa concentração permite, segundo o pesquisador, a absorção da droga pelo organismo e a obtenção dos efeitos terapêuticos com segurança e rapidez.
Parceria
Para os agentes da Inova Unicamp, o medicamento é o primeiro resultado concreto da relação entre a universidade e a iniciativa privada no incentivo à transfe-rência de tecnologia na área farmacêutica. “É importante a universidade ter uma agência de inovação responsável pela interface entre as pesquisas na prateleira e o mercado”, afirmou a agente de parceria da Inova Unicamp, Vera Crósta. “Essa parceria envolve uma série de desenvolvimentos complementares até transformar uma pesquisa embrionária em produto.”
Os métodos convencionais
Pílulas da eterna juventude? Ou um golpe para faturar com a vaidade feminina? A terapia de reposição hormonal começou a ser promovida nos anos 60, em tese, para combater os efeitos da menopausa - ondas de calor, insônia, depressão. Depois, passou a ser recomendada até para combater doenças do coração. Um único laboratório nos EUA ganhou $ 2 bilhões com esses remédios no ano passado.
Recentemente, no entanto, pesquisa científica realizada nos Estados Unidos Com 16 mil voluntárias, teve que ser interrompida por causa dos riscos de aparecimento de câncer em conseqüência da ingestão de combinações dos hormônios estrogênio e progesterona.
Oito mil mulheres tomaram comprimidos sem efeito. A outra metade recebeu uma combinação de estrogênio e progesterona. Entre as mulheres que receberam os hormônios, houve um número menor de casos de osteoporose (- 24%) e de câncer de cólon (- 37%). Mas foi maior o número de casos de câncer de mama (+ 26%), de doenças cardiovasculares (+ 29%), de derrames (+ 41%) e de coágulos de sangue (+ 100%).
O estudo foi interrompido três anos antes do previsto. O risco de câncer de mama excedeu a margem de segurança. A reposição hormonal com a combinação de estrogênio e progesterona traz mais riscos do que benefícios? Para o diretor da pesquisa, sim.
O doutor Jacques Roussouw diz que essa terapia, se usada em grande escala, poderia provocar milhares de casos de câncer, derrames e ataques cardíacos.
O jornal The New York Times diz que a campanha promocional fez a terapia dos hormônios “parecer uma fonte da juventude”, “um elixir contra a velhice”.
Do outro lado da polêmica, estão médicos como a doutora Lila Nachtigall. Ela diz que atendeu pacientes em pânico. Mas decidiu manter o tratamento delas porque ainda acha que os benefícios compensam o risco. Aos 68 anos, a médica se acha um exemplo de que a terapia funciona - há dez anos ela toma estrogênio.
“Há muitas mulheres que não têm vida sexual sem repor hormônio. Deveríamos ignorar isso? É uma questão de qualidade de vida”, diz a ginecologista.
Maria Amélia já falou ao médico sobre o estudo. Como ela só toma estrogênio, vai continuar o tratamento por mais um ano. Depois, a dose do hormônio será reduzida. “Acho que se eu não tomasse teria um risco x. Se eu tomar tenho um risco y. Tudo na vida tem que ser balanceado os prós e os contras”, diz Maria Amélia.
Isoflavona
O que é:
Um hormônio natural extraído da soja (fitoestrógeno) que atenua os efeitos do climatério, período de transição que abrange a menopausa, quando ocorre o último ciclo menstrual
Diferencial:
O remédio desenvolvido pela Unicamp é absorvido sem os efeitos colaterais do estrógeno sintético, que tem moléculas de açúcar agregadas não absorvidas pelo organismo
Sintomas atenuados:
Ondas de calor; insônia; irritabilidade; ressecamento vaginal; aumento de peso e da gordura abdominal, que favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

