Os parlamentos do Brasil e da China assinaram na semana passada, durante visita do presidente do Comitê Permanente da Assembléia Chinesa à Câmara, Wu Bangguo, um memorando para o estabelecimento de um “mecanismo regular de intercâmbio” entre a Câmara dos Deputados e a Assembléia Popular Nacional chinesa. O documento é o primeiro que o país asiático assina com um parceiro da América Latina e prevê, entre outras medidas, encontros anuais para analisar as relações bilaterais e os assuntos de interesse comum.
Segundo o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, o memorando oferece aos parlamentos perspectivas claras de cooperação. “Brasil e China têm o desafio comum de servir de equilíbrio e de referência para o mundo”, acrescentou.
De acordo com o convênio firmado, Brasil e China concordam em trocar impressões sobre as relações bilaterais e assuntos importantes da agenda internacional e regional de interesse comum; promover e organizar trocas de visitas de alto nível entre os dois parlamentos; organizar e coordenar trocas de visitas, seminários e outras formas de intercâmbio entre comissões especiais, grupos de amizade e órgãos de trabalho das duas partes; prestar apoio e serviços de consultoria para delegações das duas partes durante seus encontros e consultas em conferências internacionais; e promover a troca de publicações, em particular sobre o desenvolvimento da democracia e respectivos sistemas jurídicos, de forma a fortalecer as comunicações, ampliar o conhecimento mútuo e possibilitar o aproveitamento das experiências úteis.
Wu Bangguo — que também visitou o Senado — destacou que o Brasil e a China têm a “responsabilidade” de defender, em conjunto, os interesses dos países em desenvolvimento. Além de experiências históricas “semelhantes”, observou o parlamentar chinês, os dois países têm visões convergentes sobre temas internacionais.
“Defendemos a democratização das relações internacionais e a constituição de um mundo multipolar, com respeito à diversidade cultural”, afirmou o chinês.
Embraer
O líder chinês também elogiou o atual estágio das relações bilaterais entre seu país e o Brasil. Ele anunciou aos presidentes da Câmara e do Senado, Aldo Rebelo e Renan Calheiros, que a China vai comprar 100 aviões Embraer, além de assinar diversos outros acordos comerciais (a comitiva chinesa inclui 80 empresários).
A decisão ocorre depois de a Embraer montar uma fábrica em território chinês. Segundo informou o presidente da Assembléia Popular, dez aviões da Embraer serão fabricados neste ano na China.
A presença dos empresários na comitiva sinaliza para outro objetivo do acordo: aumentar o comércio entre os dois países, que em 2005 chegou a 12,7 bilhões de dólares (cerca de R$ 27 bilhões, na cotação atual), segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. “Podemos chegar neste ano, com facilidade, a 20 bilhões de dólares (R$ 43 bilhões)”, acredita o embaixador da China no Brasil, Chen Duqing. Além do Brasil, a Assembléia chinesa tem convênios semelhantes com os parlamentos dos Estados Unidos, da Rússia e da União Européia.
Venda de aviões da Embraer totaliza mais de R$ 5 bi
A Embraer assinou, também na semana passada, contrato de venda de 100 aviões para a China. O negócio, fechado com o grupo HNA, totaliza 2,7 bilhões de dólares (cerca de R$ 5,75 bilhões) e é o maior assinado pela empresa brasileira desde julho de 2003. O HNA opera a maior frota de jatos regionais no país asiático.
Dos 100 aviões, 50 são do modelo ERJ 145, fabricado pelo empreendimento conjunto Harbin Embraer, na China. Os modelos começarão a ser entregues em setembro do ano que vem. As outras 50 aeronaves são Embraer 190, fabricadas em São José dos Campos, em São Paulo.
A cerimônia no Palácio do Planalto teve ainda a assinatura de memorandos de entendimento entre empresas chinesas com a Eletronorte, para a construção de uma central hidrelétrica no rio Madeira, em Rondônia; com a Brasil Telecom, para cooperação estratégica; e com a Evadin Indústrias Amazônia, para a fabricação de telefones celulares em Manaus.
Aldo e Wu Bangguo querem ampliar cooperação entre países
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, afirmou que a cooperação bilateral entre os Estados modernos deve se estender a todos os níveis e instituições de poder e da sociedade organizada e não se restringir ao campo diplomático.
A idéia foi defendida na abertura de conferência feita na Câmara pelo presidente do Comitê Permanente da Assembléia Popular da China, Wu Bangguo, sobre a cooperação Brasil-China. Na sua palestra, Bangguo assinalou que intensificar a união e a cooperação com os países em desenvolvimento, em especial os latino-americanos, tem sido um alicerce da política externa chinesa.
Aldo Rebelo destacou que as gerações de hoje exigem não apenas a cooperação comercial e econômica, mas também cultural, científica, tecnológica e diplomática. “O mundo exige a cooperação em todas as esferas da vida material e espiritual entre as nações e entre os povos”, afirmou. Ele reforçou a importância da assinatura do Memorando de Entendimento para o Estabelecimento de um Mecanismo Regular de Intercâmbio entre a Câmara dos Deputados e a Assembléia Popular da China, ontem, e disse que essa será a colaboração do Legislativo ao incremento das boas relações entre os dois países. “Os parlamentos das nações amigas não podem prescindir de contatos freqüentes que possibilitem uma importante troca de informações”, avaliou.
O presidente da Câmara observou que a China, detentora de uma das mais antigas civilizações humanas, é “exemplo de progresso e de democratização da vida material de sua sociedade”. Ele acrescentou que é notável também a contribuição daquele país na manutenção do equilíbrio de um mundo que tendeu à unilateralidade. “Com seu território, sua população, sua economia, a China é fator importante no equilíbrio geopolítico”, disse.
Aldo ressaltou que também o Brasil, “como grande nação”, tem um papel importante no Hemisfério Sul. “A China e o Brasil podem isoladamente fazer muito por seus respectivos povos, mas, juntos, podem fazer muito mais pela humanidade”, completou.
Intercâmbios parlamentares
O presidente do Comitê Permanente da Assembléia Popular da China observou que o relacionamento sino-brasileiro está no seu melhor momento e apresentou sugestões para fazer com que as relações entre o seu país e a América latina sejam elevadas a um novo patamar.
Entre essas sugestões está justamente a intensificação dos intercâmbios parlamentares. “Os intercâmbios parlamentares desempenham um papel imprescindível no aumento de confiança política mútua, no aprofundamento do conhecimento mútuo e da amizade entre os povos, na promoção de cooperações pragmáticas e no impulso ao pleno desenvolvimento das relações entre os Estados”, ressaltou Wu Bangguo.
As outras sugestões são o aprofundamento da confiança política mútua, reforçando a base política de cooperações entre a China e a América Latina; a promoção de cooperações de benefício mútuo, consolidando a base econômica da amizade; a ampliação e diversificação de intercâmbios pessoais e culturais, fortalecendo a base social dessa amizade; e a afinação de consultas e coordenações nos assuntos internacionais, defendendo em conjunto interesses dos países em desenvolvimento.
Bangguo lembrou que, apesar da grande distância geográfica entre a China e Brasil, “os contatos amistosos entre os dois povos já vêm de uma longa tradição”. Ele afirmou que o governo chinês atribui alta importância ao desenvolvimento das relações amistosas com o País, visto sempre como um parceiro.
Na sexta-feira, Wu Bangguo visitou a sede do Parlamento Latino-Americano (Parlatino), em São Paulo. Segundo o presidente do Parlatino, deputado Ney Lopes (PFL-RN), a visita teve como objetivo estreitar os laços políticos entre os 22 parlamentos latino-americanos e do Caribe, que formam o Parlatino, e o parlamento chinês
Agência Câmara