A brasileira e residente americana desde 2002, Carolina Faria de Morais, de 27 anos, ficou presa por 28 dias pela imigração por causa de um histórico criminal de 2006, que ela pensava estar resolvido. Na época, ela pagou uma multa e foi liberada, mas o registro foi usado quando voltava de férias do Brasil, no dia 26 de agosto, e ela ficou presa no Texas até a última semana. Carolina, que vive no Oregon, contou sua história à repórter Eliane Trindade, da “Folha de São Paulo”.
A jovem foi levada para um centro de imigrantes indocumentados, o Houston Processing Center. “Ao desembarcar no aeroporto de Houston e passar pela Imigração, me puxaram para uma sala.
Depois de uma hora, como eu ia perder a conexão para o Oregon, perguntei quanto ia demorar, já que tenho ‘green card’. ‘Você não vai a lugar nenhum. Senta e espera’, respondeu grosseiramente o funcionário”, relatou a brasileira à “Folha”. “Depois de horas, fui falar de novo com a mulher e ela pediu informação sobre minha prisão. Respondi que nunca tinha sido presa. ‘Não é o que estou vendo aqui. Temos uma apreensão de objeto relacionado a drogas’”.
Ela conta que, em 2006, foi parada pela polícia quando dava carona para um colega de trabalho em Wisconsin, que tinha uma cerveja na mão e uma caixa da bebida no banco de atrás. “O policial revistou o carro e encontrou um cachimbo usado para fumar maconha”, relata. “Como tinha menos de 21 anos, fui acusada de consumir e portar bebida alcoólica e estar em poder de parafernália relacionada a drogas. A sentença foi uma multa de $300 dólares. Não perdi a carteira e me disseram que não haveria registro criminal”.
Questionando os oficiais de Imigração, Carolina foi informada que seu erro foi entrar por Houston e não por Chicago, por onde sempre entrou. “Eles disseram que em Houston eles se importam mais com esse tipo de ocorrência”, relatou. “E me disseram que, por ser um crime relacionado a drogas, eu seria deportada”.
Carolina e seus pais, para os quais mais tarde ela conseguiu ligar e explicar o acontecido, ficaram em choque.
Eles imigraram pela primeira vez para os Estados Unidos quando ela tinha dois anos, para que os pais, que são veterinários, fizessem PhD. Eles voltaram para Londrina e foram convidados a retornar aos Estados Unidos quando ela tinha 15 anos. Hoje, moram em Corvallis, no Oregon, onde ela é estudante de biologia no Linn-Benton Communit College e trabalha em uma clínica de reabilitação de animais.
Quando foi levada, o oficial disse que ela ficaria em um local parecido com um hotel somente por alguns dias. Quando chegou, o local era cercado de muros com arame farpado, como uma prisão.
“Me colocaram numa cela, mandaram tirar toda a roupa e colocar as da prisão, um uniforme azul, dado para as presas que respondem a crimes menos graves. Fui levada para um dormitório com beliches de metal. Éramos 58 mulheres esperando ser deportadas”, disse.
Assinatura da deportação
Havia cinco brasileiras no centro no período em que Carolina estava presa. Elas foram pegas quando atravessavam a fronteira com o México. Como fala bem inglês, pediram que Carolina fizesse a tradução para as outras.“Pediram para elas assinarem a deportação. Duas concordaram. A que se recusou, ouviu: ‘Não faz diferença, vai ser deportada igual’. E assim foram. Elas tinham na faixa de 30 anos. A última vez que as encontrei, faziam planos para encontrar outro coiote e tentar entrar de novo no país.
Eu me comunicava com os meus pais por orelhão. Pagava 15 centavos por minuto para ligar para celular”.
Audiência
A primeira audiência de Carolina foi somente depois de duas semanas, no dia 11 de setembro. “Meus pais pensavam que eu iria ser liberada e chegaram a comprar minha passagem. O juiz não pôde analisar meu caso, pois ainda não tinha recebido nenhum documento”, conta. “Foi uma facada descobrir que a nova audiência estava marcada para 16 de outubro, quando minhas aulas recomeçavam em 29 de setembro. Escrevi para a oficial de imigração para saber se havia alguma forma de esperar o julgamento em liberdade. Já tinha perdido as esperanças, quando no dia 24 de setembro minha mãe me telefonou para contar que a advogada havia dito que eu sairia naquele dia”. Por volta das 6pm ela foi informada que seria libertada.Seu passaporte e green card ficaram retidos e, quando foi levada até o portão, a guarda pediu desculpas. “Ela disse que tinha visto meu histórico e não via motivos para eu estar lá”.
Volta às aulas
Carolina conta que voltou às aulas no dia 29 e tem tido o apoio de colegas com caronas, já que teve sua carteira de motorista apreendida. Ela conta que as imigrantes que ela ajudou na cadeia a tratavam de forma carinhosa. Carolina chora ao se lembrar delas: “Eu tenho família, uma vida aqui e no Brasil, mas elas não têm nada”.Ela deu entrevista para o jornal da faculdade, falando do absurdo de ter sido presa em solo americano sem uma acusação formal. Agora, o processo de deportação de Carolina pode levar anos para ser julgado.