Panfletos anônimos espalhados pelo Bairro do Ironbound, em New Jersey, relataram a prisão da cabeleireira valadarense Deise Moreira por agentes do Departamento de Imigração – ICE.
No último 16 de julho, a disputa por algumas peças de mobília que, geralmente, ocorre entre casais em vias de separação, terminou na denúncia e consequente deportação da cabeleireira Deise Moreira, natural de Governador Valadares, interior de Minas Gerais. O incidente gerou revolta e polêmica na comunidade brasileira residente no Bairro do Ironbound, em Newark (NJ), onde Deise trabalhava e morava com o namorado. Em decorrência disso, foram espa-lhados pelo bairro panfletos anônimos relatando o caso e acusando a família do namorado da cabeleireira de tê-la denunciado ao Departamento de Imigração – ICE.
Há aproximadamente 4 anos e meio, Deise havia entrado nos Estados Unidos ilegalmente pela fronteira mexicana quando foi pega pelas autoridades e, portanto, possuía uma ordem de deportação. Deise ficou 20 dias detida no Centro de Detenção de Elizabeth (NJ). Foi deportada no dia 5 de agosto, e já está em Governador Valadares.
Deise foi detida por agentes do ICE nas proximidades da casa de Juliana Ferreira, sua patroa e proprietária do salão de beleza Belíssima, quando seguia para o trabalho. Ela estava hospedada temporariamente na residência de Juliana, também no Ironbound, após ter se separado do namorado Wagner Biscaia, também conhecido como “Xuxu”. No último feriado de 4 de julho, Deise deixou o apartamento que compartilhava com o namorado no mesmo bairro e levado a maior parte da mobília que, segundo amigos, ela havia adquirido com seu próprio dinheiro.
Segundo Juliana, amigos e colegas de trabalho tomaram conhecimento que a denúncia havia sido feita pela família do ex-namorado de Deise, depois que uma pessoa próxima a eles relatou o caso.
Em carta escrita ao jornal Brazilian Voice, Deise disse esperar “que não vire moda essa história de imigrante denunciar imigrante”. Segundo ela, “isso não é atitude de pessoas sensatas, pois senão a situação irá se complicar no país, porque, às vezes, até quem está legal possui parentes ilegais no país”, disse.
Deise continua a carta dando um conselho aos brasileiros que estão ilegalmente no País. “O meu conselho a todos é que se informem e procurem resolver essa situação migratória o mais rápido possível para não proporcionar a ninguém a oportunidade de utilizar essa fragilidade contra vocês. No mais, quero deixar meus agradecimentos a todos que oraram e torceram por mim e um forte abraço”, concluiu Deise.
A comunidade manifestou sua revolta com a denúncia.
“Absurdo, brasileiros chamando a Imigração para brasileiros. Isso é um pecado. Ninguém veio aqui a passeio, ou seja, todos vieram para trabalhar. Deixamos a casa de nossa mãe (o Brasil) e viemos para a casa da madrasta (os EUA), porque ela nos recebeu de braços abertos. Ninguém tem o direito de denunciar ninguém. A gente tem vergonha dessa covardia. Aqui não é lugar para covardes; é lugar de pessoas trabalhadoras”, comentou Umbelina Santos, presidente da Brazilian American United Association – BAUA.
“Meu marido é norte-americano e ele jamais deportaria alguém; por uma briga pessoal de marido e mulher, isso é ridículo. Vários clientes norte-americanos que vêm ao salão disseram: Eu sou americano, vivo no meu país e não deportaria, então, como é que uma brasileira, que tem os pais ilegais e o irmão ilegal, por ela ter casado e conseguido um Green Card, pôde ter feito isso?! Não é porque foi com a Deise, que era nossa colega de trabalho, poderia ter sido com qualquer outra pessoa”, desabafou a cabeleireira Josie Ramos, do Salão Belíssima.
“A Deise era uma pessoa muito trabalhadora e honesta. Ela tinha a nota fiscal de tudo que comprou; foi uma tremenda covardia o que essa gente fez com ela. A conheço desde que éramos meninas lá em Governador Valadares e trabalhei com ela aqui, por isso, tenho certeza disso. Não está certo o que foi feito com ela”, comentou Daniela Lopes, colega de trabalho e amiga de infância de Deise Moreira.
“Sempre digo que vale tudo, menos denunciar para a Imigração. Isso é pura covardia. Não há desculpas. O pior de tudo, se isso virar moda, imagine quantas injustiças não serão feitas?! As pessoas devem resolver suas diferenças de outra forma. Definitivamente, isso é golpe baixo”, comentou o promotor de eventos Francisco “Kiko” Salles.
“Considero uma covardia. As pessoas que já foram ilegais um dia e, hoje, não são, definitivamente, não têm o direito de denunciar quem está em situação vulnerável. Vale tudo, menos isso. Não há justificativas. Os problemas da vida de um casal devem ficar entre ele. Isso não se faz”, comentou José Moreira, proprietário do restaurante Casa Nova.
“Moro nos Estados Unidos há 22 anos, te-nho os papéis e mesmo assim acho que ninguém tem o direito de denunciar alguém à Imigração por problemas pessoais. Isso é ridículo. Acho uma covardia. As pessoas devem pensar duas vezes antes de tomarem decisões precipitadas. Não faz sentido isso. Devemos pensar muito antes de agir em momentos assim”, disse Sônia Valias, da Boutique Oba Oba.
“Não justifica, pois problemas pessoais devem ser resolvidos entre a família. Isso é uma covardia. Esse tipo de coisa não deveria acontecer em nossa comunidade. Já ajudei várias pessoas detidas pela Imigração, por isso, acho que devemos ajudar uns aos outros e não fazer isso”, disse Dernelito “Dé” Vianna, gerente do restaurante Brasília Grill.
Colegas de trabalho colocaram uma caixa de coleta na recepção do Salão Belíssima, onde Deise Moreira trabalhava. O dinheiro arrecadado será utilizado para enviar os pertences da cabeleireira ao Brasil.
No apartamento de Wagner Biscaia (Xuxu), a informação prestada por vizinhos foi que ele havia entregue as chaves ao proprietário do imóvel dias antes, abandonado a maior parte de seus pertences no local e tomado rumo ignorado. Foi posto um cartaz de aluga-se na entrada principal do prédio. (Fonte: Brazilian Voice)

