Do editorial do Centro Médico Veterinário da Universidade da Flórida, um exemplo do quão perigoso é o encontro com cobras no estado da Flórida. O risco é grande uma vez que estes acidentes costumam acontecer no quintal da sua própria casa.
“Red on yellow, kill a fellow; red on black won’t hurt Jack” é uma rima popular na Flórida que serve como uma maneira útil para distinguir as cores da cobra coral verdadeira (peçonhenta) da falsa coral (não peçonhenta). Mas Larry Ferguson, que recentemente mudou-se para Gainesville, Flórida, vindo do Arkansas, nunca tinha ouvido falar de uma cobra coral, muito menos o perigo que elas representam.
Alertado por seu cão, Whiskey, latindo no quintal de sua casa, no dia 4 de dezembro de 2011, Ferguson saiu e encontrou uma cobra colorida com faixas vermelha e amarela, morta pelo seu cão. Assustado sem saber se o seu cão havia sido picado por uma cobra venenosa, ele ligou para o seu veterinário que acostumado com acidentes ofídicos na região aconselhou-o a levar seu cão para o Centro Médico Veterinário da Universidade da Flórida imediatamente, onde eu pude atendê-lo.
“No quintal, ele estava ofegante. Na sala de emergência, eu podia vê-lo tremer. Eu sabia que ele tinha sido picado”, disse Ferguson. Devido ao fato de não ser possível visualizar a picada da cobra coral, pois elas possuem dentes muito pequenos, foi decidido iniciar a injeção de soro antiofídico. Dependendo do tempo entre a picada e a administração do soro antiofídico, é possível que ele ainda desenvolva sinais de envenenamento.
Dentro de poucas horas, Whiskey começou a mostrar sinais clínicos, infelizmente o soro antiofídico não foi capaz de neutralizar o veneno que já havia deixado a circulação sanguínea.
O veneno da cobra coral é neurotóxico e uma vez fora da circulação sanguínea e “ligado” ao sistema nervoso o soro antiofídico não consegue mais neutralizá-lo. Alguns cães ficam paralisados por várias semanas sem conseguir andar, e outros, além da paralisia, não conseguem respirar pois o veneno pode afetar os músculos que auxiliam o movimento do tórax para respiração. Whiskey desenvolveu paralisia completa e teve que ser colocado em um respirador artificial e foi mantido durante quatro dias.
Whiskey começou a ter outros problemas relacionados aos danos musculares causados pelo veneno da cobra. Lesões musculares levam ao acúmulo de mioglobina no sangue.
A mioglobina em concentração alta pode causar danos renais e cardíacos. Whiskey desenvolveu doença renal aguda e arritmias enquanto estava na máquina de ventilação mecânica. Ele foi tratado com diversos medicamentos diferentes para ajudar na perfusão renal, aumentar sua produção de urina, diminuir o ácido gástrico, regular o conteúdo de ácido no seu sangue, e controlar seu batimento cardíaco irregular.
“Whiskey não tinha capacidade muscular”, disse Ferguson, que administra uma livraria em Gainesville. “Seu diafragma não funciona. Seus pulmões estavam bem, mas seus músculos não lhe permitiam usá-los. Minha primeira inclinação foi tentar o soro antiofídico e se isto não funcionar”, disse ele, com sua voz presa. “Eu sempre ouvi falar de pessoas gastando muito dinheiro com animais de estimação. Inicialmente, pode-se dizer que você não vai fazer isto, mas você nunca sabe até o dia em que se encontra nesta situação. Acabei fazendo muito mais do que eu pensei que eu iria para salvar a vida do meu cão.”
No quarto dia de tratamento, Whiskey desenvolveu pneumonia, uma complicação comum quando se tem uma máquina ventilando para você. No mesmo dia ele foi retirado do ventilador pois começou a mostrar contrações musculares voluntárias. Ele começou a melhorar um pouco a cada dia com terapia intensiva. “Tudo o que eu podia ver eram máquinas ao redor do Whiskey, trabalhando para o seu rim, para o seu pulmão e coração. Eu tenho certeza que ele não sobreviveria se não fosse o nível do atendimento prestado”.
No oitavo dia de sua estada na Universidade da Flórida, Whiskey começou a comer alimentos em lata e começou um programa de fisioterapia. Dez dias depois de ser levado para a sala de emergência, Whiskey finalmente recebeu alta e pôde voltar para casa com seu dono. “Ele está ótimo”, disse Ferguson. “Ele está apenas muito cansado mas está alerta, come bem e está muito feliz por ter voltado para casa”. Durante a ventilação mecânica, os veterinários da sala de emergência da Universidade da Flórida identificaram o local da picada da cobra – foi na ponta de sua língua.

