O filme “Crossing Arizona” argumenta que a imigração ilegal é uma força da natureza.
Pense nisso: pessoas esforçando-se para atender às necessidades básicas de comida, abrigo e medicamentos. Além disso, elas enfrentam os perigos do deserto para garantir essas necessidades para elas e suas famílias. É essencialmente uma questão humana mas, observa o filme, a política freqüentemente coloca-se no caminho da anistia.
Na verdade, qualquer tentativa de resumir esse tema tão controvertido resulta em um reducionsimo grosseiro. Mas o que, exatamente, faz com que “Crossing Arizona” (Cruzando o Arizona), filme exibido no final de semana passado no Tulipanes Latino Art & Film Festival, na Holanda, seja um poderoso filme informativo?
A resposta reside em uma visão humanitária da imigração ilegal, mas que também explora em detalhes muitas facetas deste debate, focando-se profundamente no conflito vivido na fronteira do Arizona, onde inúmeros mexicanos morrem tentando cruzar a seca e arriscada região.
Os diretores Joseph Mathew e Daniel DeVivo entrevistaram grupos humanitários que instalaram estações de água no deserto e na fronteira, patrulheiros que descrevem a prática do “prende e solta” (catch-and-release), e outros protagonistas desta história. Um deles diz: “Não é um crime ser pago com a própria vida”.
O filme mostra também o depoimento dos voluntários do grupo antiimigrantes Minuteman, que vigiam a fronteira por pura convicção, um fazendeiro que não mostra o rosto, e afirma empregar imigrantes em seu rancho, e proprietários de terra que reclamam que suas áreas são freqüentemente destruídas por aqueles que cruzam a fronteira.
Um “coiote”, que transporta mexicanos ilegais para cruzar a fronteira afirma que algumas vezes inicia a viagem co 20 pessoas e chega aos EUA com apenas 15. “Coiotes não olham para tráz”, afirma ele. O depoimento é seguido de uma seqüencia de imagens perturbadoras de corpos encontrados no deserto.
Os diretores revelam algumas das sutilezas do tema, logo no início do filme, justapondo mapas utiizados pela patrulha da fronteira e o de um grupo humanitário chamado Humane Borders. O mapa da patrulha revela a trilha seguida por muitos indocumentados ao cruzar a fronteira. O mapa do Humane Borders marca as mortes no deserto com sinais coloridos – e há muitos – e os utiliza para distribuir água e comida naqueles principais pontos.
O filme critica muitas das políticas de fronteira utilizadas pelos EUA, e poderia transformar-se em uma série uma vez que, ao que tudo indica, a conclusão desta história ainda está por ser construída.